“Brasil não está exportando soja, está exportando água”; entenda afirmação

População mundial irá crescer 2 bilhões em menos de 30 anos; Aumento impactará o consumo de alimentos. E quem poderá produzir alimentos para todos?

Daqui cerca de 27 anos apenas, a população mundial irá crescer em aproximadamente 2 bilhões de pessoas, ou seja, o mundo terá quase 25% a mais de bocas para alimentar. E, problemas como a crise hídrica ou mesmo a falta de terras agricultáveis vão direcionar quais serão os maiores produtores de alimento no mundo.

Esse foi o tema da palestra do economista e cientista político, Marcos Troyjo realizada no último dia 10 de julho, no Fórum das Cadeias Produtivas da 55ª edição da Exposição Industrial, Comercial e Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Expoagro), em Cuiabá, capital mato-grossense em que o portal Compre Rural esteve presente.

Em sua explanação, Troyjo explicou sobre a economia mundial e como isso influencia na produção de alimentos. Segundo ele, na primeira edição da Expoagro que aconteceu em 1968 o Brasil era um importador líquido de alimentos, ou seja, tinha que comprar mais alimentos do que produzia, e isso permaneceu por mais ou menos até o ano de 1982 quando o Brasil passou a ser um produtor maior do volume do que ele consumia e, portanto, se tornou um exportador líquido de alimentos. “Vejam que coisa absolutamente extraordinária que é essa trajetória da produção de alimentos no Brasil”, enfatizou.

Porém, a preocupação mundial está sendo a velocidade com que se calcula o aumento populacional, já que em 27 anos a população dará um salto dos atuais 8 bilhões para 10 bilhões.

“Para você ter uma ideia do que significa quando Jesus Cristo nasceu a população no Planeta era de 300 milhões de pessoas e ela só passou a ter 2 bilhões e 300 milhões no ano de 1927, ou seja, foram necessários 1927 anos pra o mundo aumentar 2 bilhões de pessoa, ou seja aquilo que no passado levou 1927 anos acontecerá nos próximos 27 anos”, enalteceu.

E, outro fator importante é que dos 200 países que existem atualmente no mundo, apenas nove terão crescimento populacional, sendo eles a Índia, o Paquistão, os Estados Unidos haverá um pequeno aumento populacional, a Nigéria que é o país mais populoso da África, Uganda, República Democrática do Congo, Quênia, Tanzânia e a Etiopia, o que significa que nesses próximos 27 anos o crescimento populacional brutal acontecerá sobretudo em países emergentes.

Quando a economia de um país cresce, a população consome mais alimentos

“A segunda observação que eu queria fazer é o seguinte, se você se perguntar de onde haverá o crescimento da economia nos próximos 27 anos, será que vai vir da Suíça ou Alemanha, ou Inglaterra, França, não, o grande crescimento da economia mundial será dos países emergentes, eles irão crescer de 4 a 5 % da sua economia ao longo do tempo e os matemáticos nos ensinam um ensinamento que é a regra dos 70, o quanto tempo demorar para o país dobrar a sua renda. Vejam o caso da Índia por exemplo, que esse ano se tornou o país mais populoso do Planeta, ela ultrapassou a China, e a economia indiana nos últimos 8 anos cresce numa média anual de 7% para um país como a Índia demora 10 anos para você dobrar a sua renda per capita, e porque isso é relevante para o Brasil? ”, questionou.

O crescimento da economia mundial virá de economias emergentes como a Índia, China, Paquistão, Egito, Vietnã, sobretudo de países da Ásia e alguns grandes países da África, agora porque isso é tão relevante para o Brasil?  

 “Se você é um país como a Índia que vai crescer e dobrar a sua renda per capita, num período de 10 anos e sua renda é baixa, hoje a renda per capita na Índia é de 3 mil dólares, quando num espaço de dez anos a sua renda pula de 3 para 6 mil dólares, você sabe o que acontece com a renda adicional, o que as pessoas fazem? As pessoas comem mais, elas multiplicam a sua ingestão de calorias, ou seja, num primeiro momento elas comem mais calorias e mais quilos de comida, e num segundo momento elas comem mais e melhor, mais do ponto de vista calórico e dos nutrientes”, explicou.

Resumidamente, a produção de alimentos está ligada na combinação de três fatores:

  • Aumento da população mundial dramático – daqui 27 anos a população mundial será 25% maior do que ela é hoje;
  • Centro do desenvolvimento mundial será dos países  emergentes;
  • Os países emergentes que crescem de uma maneira muito acelerada e robusta são países de grandes contingentes populacionais.

E aí vem a pergunta, se você vai ter essa combinação quem é que vai produzir todos esses alimentos?

Maiores produtores da atualidade

Atualmente os quatro países que mais produzem alimentos no mundo são, na ordem: China, Estados Unidos, Índia e Brasil.

“Em primeiro lugar, o maior produtor de alimentos do mundo, para surpresa de alguns, é a China. Só que como a China tem 1,4 milhões de pessoas, mesmo com todo esforço ainda tem um déficit muito significativo na produção de alimentos, e outra, ela não tem aquele que é o principal insumo para a produção de alimentos: a água. Se cada Chinês tomar um copo a mais de água por dia a zona desértica chega até a periferia de Pequim, eles não têm como produzir mais água, logo eles não têm como produzir mais alimentos”, explicou.

Já, em segundo lugar os Estados Unidos é um gigantesco produtor e o maior exportador do mundo, no entanto geograficamente o tamanho das terras agricultáveis é menor. Em terceira posição a Índia apesar de ocupar essa posição é o país mais populoso do mundo, e a agricultura na índia é muito baseada na pequena propriedade e agricultura de subsistência com muito ineficiente uso dos recursos hídricos.

“Por exemplo na índia de cada 10 litros de água 8 e meio são utilizados para a agricultura o que resta para fazer comida, higiene pessoal, irrigação de áreas urbanas é de 1,5 litros de água em cada 10, ou seja, a Índia também tem um déficit gravíssimo de água”, disse.

Oportunidade para o Brasil

Ocupando a quarta posição de maior produtor mundial de alimentos está o Brasil e, aliás, tem abundância do insumo fundamental para a produção agrícola que é a água e terras agricultáveis.

Troyjo contou que há três anos quando esteve na Índia, pois ocupava o cargo de Secretário De Comércio Exterior do então presidente Bolsonaro, e na ocasião tentou abrir o mercado indiano para as exportações brasileiras, e um dos maiores analistas mundiais de estratégia falou em ser ótima essa relação entre o Brasil e a Índia no campo da produção e consumo dos alimentos, e que tinha certeza que num futuro muito próximo o Brasil e a Índia terão o maior comércio mundial de água do mundo, mas o que é isso?

“Aí eu me deparei na constatação, vocês sabem porque, por exemplo, a China produz tanto milho localmente e importa tanta soja? Uma das razões é que para você produzir cada tonelada de milho você precisa de cinco vezes mais água do que você precisa para produzir uma tonelada de soja, então você pode imaginar que está exportando soja, mas está exportando água”, disse.

Reflexo nos números

Para o economista isso já começa a refletir nos números numa maneira muito significativa. Um exemplo é a relação de comércio Brasil x China, por volta do ano 2000 o comércio Brasil e China era de 1 bilhão de dólares por ano, hoje é de 1 bilhão de dólares a cada 60 horas.

E, por conta do crescimento populacional e da vibração da economia o Brasil exporta mais para a Malásia do que para a Itália, mais para a Tailândia do que para a França, mais para o Vietnã do que para a Suíça, mais para a Cingapura do que para a Alemanha.

“O ano passado nós tivemos 600 bilhões de dólares de corrente comercial e 60 bilhões de dólares, que é o maior superávit comercial da nossa história. Isso quer dizer o seguinte, o Brasil consegue fazer uma parte importante do colchão de investimentos pro futuro, a partir desses saldos positivos na sua balança comercial do agronegócio, só que tem uma outra característica que eu acho interessante todo mundo aqui nessa feira já ouviu falar de que no âmbito do agronegócio o Brasil é muito competente da porteira para dentro, mas encontra dos mais diferentes problemas da porteira para fora, escoamento da produção por via ferroviária,  poucas e maltratadas rodovias, dificuldade em investimentos portuários em portos molhados, o Brasil tem um grave déficit infra estrutural, então esse sempre foi o nosso problema da porteira para fora, só que nos últimos 24 meses eu corri muito o mundo, fui nas reuniões do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, Fórum Econômico Mundial, reuniões do Clima, e ao lado das reuniões hoje emerge um tema que me parece o mais importante de todos  segurança alimentar, e tudo isso pelo crescimento populacional, sobretudo dos países emergentes o problema de insegurança alimentar no mundo. Então os problemas de porteira para fora do Brasil é mundial”, afirmou.

O que é uma realidade no campo do comércio e dos investimentos, já que nosdois últimos anos do governo Bolsonaro, o Brasil foi o terceiro maior destino de investimento estrangeiro direto, só perdendo para China e EUA.

O Brasil é superpotência na produção alimentar, em energias renováveis, e tem potencial de ser um grande ator na chamada economia verde, é importante que os nossos governos não atrapalhem e utilizem estrategicamente”, finalizou.

Sobre a Expoagro

A 55ª edição da ExpoAgro 2023, maior feira agropecuária de Mato Grosso, começou no último sábado (8), com a tradicional cavalgada, no Parque de Exposições Jonas Pinheiro, em Cuiabá. Neste ano, o evento conta com shows nacionais, feira de expositores, rodeio, parque de diversões, competições hípicas e ainda um aplicativo para acompanhar toda a programação. O festival termina no dia 16 de julho.

Nesta edição, o tema é “Integração Campo e Cidade com Inovação”. A estimativa é de reunir cerca de 300 mil pessoas durante os nove dias de evento. Também terá uma seção de compartilhamento de conhecimento acadêmico em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Entre as atrações musicais nacionais deste ano estão Léo Chaves, Barões da Pisadinha, Ana Castela e Gustavo Mioto.

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