Carne cara garante lucro do frigorífico e prejuízo do produtor

Você, consumidor brasileiro, já se perguntou “por que a carne segue tão cara”, se o pecuarista está recebendo tão pouco pela arroba?

Após os embargos relacionados as exportações de carne bovina para a China, ainda no início de setembro, após a confirmação de dois casos atípicos de vaca louca no país, em Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, os preços da arroba atingiram um dos seus menores patamares dos últimos 12 meses. Entretanto, os reajustes não foram repassados no mercado do atacado e nas gôndolas dos supermercados, na mesma intensidade em que recuaram os preços da matéria-prima.

Com isso, infelizmente, o consumo interno segue travado. O problema é que, certamente, a indústria irá jogar o problema nas costas dos distribuidores, dos supermercados e dos açougues, e quem vai pagar essa conta? Mais uma vez o pecuarista é quem vai ter que arrematar o prejuízo dentro da porteira!

O movimento de queda nos preços da arroba do boi gordo, que começou a ser observado no início de setembro, foi reforçado por todo o período após o embargo da China. Mesmo com a primeira quinzena do mês de outubro, onde é esperado uma maior demanda da proteína no mercado interno, esse não foi verificado diante do preço alto da carne.

Mercado do boi gordo – Arroba em queda

Segundo os dados do APP BALIZADOR GPB DATAGRO, o gráfico abaixo demonstra o comportamento do Preço Spot da Arroba do Boi Comum no decorrer de 2021 na praça base São Paulo. Nos sete primeiros meses do ano corrente, a arroba teve movimento de alta, saindo de R$ 276,75 no início de janeiro para R$ 321,15 em julho, valorização de 16,04%.

A partir de agosto/21, o preço da arroba se manteve estável em torno de R$ 319,00 a R$ 315,00, com uma leve queda na última semana do mesmo. Em setembro, com a divulgação de dois casos atípicos em MT e MG de Encefalopatia Espongiforme Bovina na data de 04/09/2021, o comportamento do preço da arroba a nível Brasil e não somente em São Paulo foi de baixa.

Por fim, no mês de outubro/21, a arroba persiste em movimento de queda até a terceira semana, chegando a ser negociada em São Paulo a R$ 277,43, considerando o dado mais recente do Balizador GPB DATAGRO, publicado na data de 11/10/2021.

Resumo em 2021:

  • @ do Boi Gordo janeiro a 11 de outubro: 0,38% (valorização nominal)
  • @ do Boi Gordo de janeiro a agosto: 11,27% (valorização nominal)
  • @ do Boi Gordo de 31/08 a 11/10: – 9,78% (desvalorização nominal)
  • @ do Boi Gordo de agosto a setembro: – 3,36% (desvalorização nominal)
  • @ do Boi Gordo de setembro a 11 de outubro: – 6,63% (desvalorização nominal)

Preço da carne no mercado interno

Os preços de carnes vêm em trajetória de aceleração desde o fim de 2019, antes mesmo da pandemia, com aumento da demanda da China. Por causa da peste suína africana, houve redução do rebanho suíno no país asiático e foi necessário ampliar as importações de proteínas para suprir a demanda interna. 

Entretanto, conforme citado acima em relação a suspensão temporária das importações pelos asiáticos, essa trouxe uma pressão negativa nos preços pagos pela matéria-prima. Entretanto, essas baixas não foram repassadas ao consumidor final, o que representa um grande prejuízo para a cadeia da carne, apesar de um único elo estar se beneficiando com tal situação, mesmo que momentaneamente.

Para se ter uma ideia do comparativo, segundo os dados abaixo, os valores apresentados pelo Cepea para a Carcaça Casada, os preços tiveram um recuo de 4,27% – quando comparado o antes e pós vaca louca – enquanto o boi gordo teve um recuo de quase 10% no valor médio, segundo o GPB Datagro.

Preços da Carcaça Casada, segundo o Cepea:

  • No dia 31 de agosto, os preços eram de R$ 20,11;
  • No dia 06 de setembro, após a suspensão da exportação, o preço era de R$ 20,15;
  • No dia 17 de setembro, ela atingiu o pico de preço a R$ 20,37;
  • No dia 6 de outubro, mais de 30 dias de queda na matéria-prima, os preços eram de R$ 19,64;
  • No dia 11 de outubro, ela fechou o dia cotada a R$ 19,25.
Elaborado pelo Compre Rural

Quem vai pagar a conta, ou melhor, arcar com o prejuízo?

Mais uma vez, o pecuarista vem sofrendo com os preços da arroba e as altas nos custos de produção – reposição e insumos – e terá que arcar com o prejuízo neste ano, assim como os atacadistas e açougues pelo país. Entretanto, as grandes indústrias frigoríficas seguem garantindo a sua margem de lucro, doa a quem doer.

A mídia “comprada”, muitas das vezes não divulgam tais comparativos. As movimentações recentes no mercado do boi gordo após a confirmação de casos atípicos da doença da “vaca louca”, que levaram à queda nos preços do boi gordo, resultaram em margens positivas na comercialização dos produtos bovinos.

Somado a isso, as recentes valorizações do couro e sebo favoreceram o cenário para a receita de vendas das indústrias, fatos demonstrados pelo desempenho do Equivalente Scot.

Entretanto, as maiores margens envolvendo os equivalentes dão espaço para ajustes nos preços do boi gordo, esse ajuste não foi repassado ao atacado e, muito menos ao pecuarista no campo.

Em um momento que era necessário acontecer um equilíbrio da balança para que o mercado interno, responsável por 70% do consumo, fosse estimulado com preços atrativos e ajudar a cadeia da carne a movimentar, o que estamos vivenciando é o endividamento de muitos e enriquecimento de poucos!

A análise do Equivalente Scot não deve ser feita isoladamente e recomenda-se relacioná-la com as condições que envolvem a cadeia da carne.

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