Precisamos extinguir o “boi-sanfona” da pecuária brasileira, ciclos mais curtos trazem mais lucratividade e giros mais rápidos.
O território brasileiro com 850 milhões de hectares, tem 23% de sua área integrada por pastagens utilizadas por diferentes espécies animais, com o predomínio da bovina somando 232 milhões de cabeças.
O sistema de produção adotado em 96% deste rebanho é baseado no pasto, favorecido pelas condições naturais de um país tropical como o Brasil. Em seguida vem o confinamento com aproximadamente 2,2% dos animais e o semiconfinamento com 1,4%, percentual pequeno mas que apresenta grande crescimento nos últimos anos. Por fim, na região Sul, 0,4% do rebanho nacional é criado com o uso de pastagens de inverno, além dos demais sistemas.
Sempre gosto de mostrar que o Brasil possui um amplo horizonte de oportunidades e muito ainda para crescer.
No ano passado, foram produzidas 9,4 milhões de toneladas de carne equivalente carcaça, o que nos dá um desfrute de 4,06% do rebanho. Já quando observamos informações de países como os Estados Unidos, seu contingente de bovinos é 60% menor que o brasileiro e mesmo assim produziu 12,1 milhões de toneladas de carcaças, ou seja, uma quantidade 28% maior. O desfrute fica perto de 13% sobre seu rebanho e um dos motivos importantes para o desempenho mais elevado é que os pecuaristas têm ampla consciência dos cuidados que se deve ter com a variação sazonal na disponibilidade de volumosos.
Esta situação também revela o grande potencial que o Brasil possui por suas condições climáticas favoráveis e pastagens tropicais Ele pode evoluir muito, como já acontece, a partir da melhor sanidade, genética e ajustes no importante alicerce que é nutrição animal.
Nosso país também apresenta, embora de forma não tão drástica, sua sazonalidade na produção de forragens. O cuidado especial fica para o período seco do ano, quando ocorre uma queda natural mas acentuada na qualidade e quantidade na oferta de forragem.
São conhecidas diferentes estratégias para enfrentar a situação, mas irei me ater à suplementação mineral proteica. Ao manter o peso dos animais ou promover ganhos, ela trará precocidade ao abate e evitará o chamado “boi sanfona”, um tipo de animal que o mercado não aceita mais. Também será possível aproveitar picos de preços da arroba na entressafra, reduzir o intervalo entre partos, pois possibilita que as fêmeas voltem ao cio em menor intervalo, e ainda auxilia no incremento de peso ao nascer e na desmama do bezerro.
Suprir carências
Nas pastagens de Brachiaria spp, apenas 30% de sua produção ocorre na seca, com os teores de proteína bruta (PB) caindo para menos da metade que nas águas. Já com as variedades de Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia, etc.), estes percentuais se reduzem ainda mais, na seca produzem apenas 20% do seu potencial num ano.
Mas não é só, porque a digestibilidade, ou o que o animal consegue aproveitar, também fica menor. É uma consequência natural da fisiologia das plantas, que na seca aumentam a presença de um material que entra sua estrutura e a protege, a lignina. Mas para que os microrganismos do rúmen possam usar os nutrientes existentes e depois o próprio bovino, precisarão antes romper esta parede provocando um tempo maior de passagem do alimento pelo trato digestório. O resultado é a diminuição na ingestão de matéria seca (MS – o pasto) pelo animal, podendo inclusive ficar a baixo do mínimo necessário para sua manutenção, que é de 2% de seu peso vivo em MS/dia.
O Suplemento Mineral Proteico, popularmente chamado de Proteinado da Seca, além da principal função de mineralizar os animais, também tem o importante papel de elevar os níveis de proteína (nitrogênio) no ambiente ruminal, onde ajudarão na multiplicação dos microrganismos (fungos, Bactérias e Protozoários), aumentando o número de “operários” para trabalhar no rúmen.
Um boi de 450 kg, por exemplo, necessita ingerir diariamente de 2% a 3% do seu peso vivo em pasto com ao menos 7% de PB, o que significa 630 g/dia de proteína. Ao considerar uma forrageira na seca com teor de 5% de PB, só conseguirá acumular 450 g/dia, com déficit de 180 g/dia de PB. Este será corrigido pela suplementação, por exemplo, com proteinado com 40% de PB que proporciona a ingestão de 450 gramas do produto.
Neste processo acontece um aumento no consumo de MS pela maior digestibilidade gerada pela melhor população da microbiota ruminal, que resultará em mais proteína do pasto e, por consequência, maior ganho de peso.
- Primeiro polo de agricultura irrigada de Mato Grosso do Sul é lançado
- Tratores agrícolas: entenda como o veículo pode ajudar você
- Soja: chuvas no Brasil e colheita nos EUA são fatores que afetam Chicago
- Apelo à razão: a agropecuária brasileira não pode perder essa oportunidade
- Sorocaba mostra nova casa de Chico Whiz, a “Lenda do Quarto de Milha”
É importante não confundir o sal com ureia (Suplementos Ureados) com o suplemento mineral proteico (Proteinados). Este possui como fonte de proteína e energia, além da ureia, grãos e farelos que permitem um aproveitamento melhor pelo bovino.
Qualquer categoria animal deve receber proteinado durante o período seco do ano. Em vacada de cria seus benefícios são bem evidentes e estudos já comprovaram que quanto pior a condição corporal no pós-parto maior será a taxa de anestro, ou ausência de cio. A matriz vai se recuperar mas pode demorar ao menos dois meses, o que significa atraso na estação de monta com gasto adicional de tempo e outras despesas.
Já foi comprovado que o bezerro ainda no ventre da matriz terá comprometida a formação e a multiplicação de células da massa muscular. Ele nascerá mais leve, terá uma evolução pior e uma maior idade ao abate. Vacas suplementadas desmamam animais até 9 kg mais pesados e reduzem o puerpério.
Esses resultados, como o ganho de peso, estão diretamente relacionados à disponibilidade de pasto, uma vez que 78% das necessidades de PB virão da forragem e 22% do suplemento. É importante que ele contenha uma boa oferta de folhas e não só talos de baixo valor nutritivo. Caso não se disponha deste volumoso, é possível se recorrer à fontes como a cana-de-açúcar.
É comum me perguntarem o que é mais importante: sais minerais, proteína, energia ou volumoso? Respondo que não existe o mais importante, pois todos entram para formar um equilíbrio que favoreça a boa nutrição dos animais.
Artigo por Julliano Percinoto Pompei
Mestre em Ciência Animal
Produtor Rural
Coordenador Técnico de Nutrição Animal
Divisão de Bovinos – Matsuda