Demanda por crédito rural dispara

No total, os desembolsos já somaram R$ 73,8 bilhões de julho a setembro, 28% mais que nos primeiros três meses do ciclo anterior. Confira!

A demanda por crédito rural continuou forte no país em setembro e levou ao esgotamento precoce dos recursos de algumas linhas de investimentos com juros controlados do Plano Safra 2020/21. No total, os desembolsos já somaram R$ 73,8 bilhões de julho a setembro, 28% mais que nos primeiros três meses do ciclo anterior, segundo dados do Banco Central compilados pelo Valor.

No caso das linhas para investimentos, o crescimento foi de 73% na comparação, para quase R$ 20 bilhões. Nas operações de custeio o incremento foi de 20%, para R$ 42,5 bilhões, e nas linhas de comercialização e industrialização também houve avanços (ver infográfico).

Diante de tamanha procura, no fim de setembro as instituições financeiras que operam os empréstimos foram avisadas que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estava suspendendo o recebimento de novas propostas de financiamentos para investimentos via Pronaf (agricultura familiar) e Pronamp (médios produtores). E que projetos no âmbito do Inovagro (inovação tecnológica) também teriam que esperar, devido ao nível elevado de comprometimento dos recursos reservados.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou no fim de semana que esse é um “bom problema”, já que mostra a confiança dos produtores rurais no futuro de seus negócios. “Fizemos um Plano Safra maior que todos os outros, e ele foi tão bem recebido que hoje já gastamos quase todos os recursos de investimentos”. A ministra realçou, ainda, que o movimento acontece mesmo com taxas de juros superiores às desejadas, acima de 6% em boa parte das linhas.

Os investimentos via Pronaf cresceram 34% de julho a setembro, para R$ 4,5 bilhões, enquanto os via Pronamp aumentaram 46%, para R$ 1,01 bilhão. No caso do Pronamp, lembrou Wilson Vaz de Araújo, diretor de Financiamento e Informações do ministério, a maior parte dos valores programados para investimentos vem dos recursos obrigatórios, que não têm equalização.

O Banco do Brasil e as cooperativas de crédito Sicredi e Bancoob ainda têm recursos equalizados para investimentos no Pronamp, mas estão no fim. Não existe muito espaço para remanejamentos de recursos de uma linha para outra, mas ajustes pontuais sempre podem ser realizados.

“Os atuais preços altos de boa parte dos produtos estimulam os agricultores a acelerarem investimentos, o que é um bom sinal”, disse Antônio da Luz, economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). Mas, segundo ele, o cenário também preocupa porque comprova que o modelo de crédito rural que ainda prevalece no país é insuficiente para atender às demandas, embora o crédito privado continue a avançar no campo.

As instituições públicas mantiveram a ponta nos desembolsos de julho a setembro. Líder absoluto desse segmento, o Banco do Brasil emprestou, no total, quase R$ 6 bilhões a mais no primeiro trimestre da temporada atual. Entre os bancos privados, Bradesco, Santander e Itaú mantiveram o ritmo de avanço, e as cooperativas de crédito também apertaram o passo e continuaram com 20% do mercado.

Os recursos equalizados, provenientes da poupança rural dos bancos, alimentaram desembolsos de R$ 26,5 bilhões de julho a setembro, mais de um terço do total. Os depósitos à vista, que também são controlados, mas sem subvenção, representaram R$ 16,5 bilhões. Menos atrativas agora devido ao risco de mercado agrícola, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) alavancaram R$ 7,1 bilhões em empréstimos, ante R$ 8,5 bilhões no mesmo período do ano passado. Os recursos controlados representaram aproximadamente 80% do total emprestado até agora.

Máquinas agrícolas

Entre as linhas de crédito rural para investimentos, uma das que estão com demanda mais aquecida é o Moderfrota, voltada à aquisição de máquinas. Nessa frente, os desembolsos subiram 90% de julho a setembro, para R$ 3,5 bilhões. Se contabilizados os recursos livres do BB aplicados com as mesmas taxas, o montante sobe para R$ 4 bilhões. Foram 12,3 mil contratos para aquisição de maquinário novo e 101 para transações com equipamentos e implementos usados. Nesse contexto, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) já pediu um reforço de recursos, e deverá se reunir esta semana com o BB para avaliar a disponibilidade de recursos próprios da instituição que ainda podem ser disponibilizados nas mesmas condições do Moderfrota.

Fonte: Valor Econômico.

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