“Fazer Nelore aliado aos números é difícil pra diabo”, Sr. Zé Humberto

Em entrevista, Sr. Zé Humberto da Fazenda Camparino fala sobre a dificuldade de produzir bons animais aliando raça e números dos programas de melhoramento

A Fazenda Camparino do selecionador apaixonado José Humberto Vilela Martins é detentora de um dos mais tradicionais plantéis de seleção de raças zebuínas do país, além de ser uma das maiores vendedoras de touros do país. Localizada no município de Cáceres, Mato Grosso, é considerada uma das regiões mais representativas da pecuária nacional. Ele preserva a tradição familiar de cinco gerações dedicadas ao agronegócio, criando com excelência as raças Quarto de Milha, Gir Leiteiro, Nelore e Sindi.

“O Zebu que paga a conta” é o slogan que faz referência ao conceito de seleção de José Humberto Vilela Martins. Em entrevista recente a Pilar Velasquez do Programa Pecuária em Foco, o criador enalteceu os anos de experiência – “Nós vivemos exclusivamente da pecuária, e com isso a gente não pode ficar brincando de pecuarista, tem que fazer um trabalho sério. Já em 2001 me perguntaram como conseguia fazer um gado com tanta qualidade, e fui enfático dizendo que precisava de duas coisas: precisa ser apaixonado pelo gado e por viver duro precisava fazer um gado produtivo para pagar as contas. Foi a vida inteira assim.”

Perguntado sobre qual é o zebu que paga a conta, Sr. José Humberto disse – “Para quem trabalha com pecuária de corte o fundamental é a vaca parir, o segundo item é parir e desmamar bem. Prefiro que uma fêmea crie um bezerro mais ou menos do que não parir. Aqui tentamos produzir matrizes que pari e desmama um bezerro de qualidade. Eu me preocupo demais com o rendimento, inclusive estamos fazendo testes de rendimento de carcaça para avaliar os animais da raça Nelore. Os programas de melhoramento genético fazem as regras do jogo mas não abatem, o Nelore é uma raça exclusivamente de carne, então precisamos avaliar o rendimento de carcaça. As vezes o boi pesa muito mas não dá o rendimento esperado.”

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A Fazenda Camparino conta com mais de 9 mil cabeças em uma área bem manejada de 4.600 há, a fazenda é uma das grandes referências para o melhoramento genético desenvolvido com raças zebuínas. O rebanho Nelore que prioriza a aplicação de avaliações genéticas apresenta índices superiores em seus indivíduos e gráficos de evolução de características acima da média da raça. “O gado tem de ser bonito e funcional. Além de docilidade o rebanho precisa ter fertilidade com precocidade, ser produtivo e rústico”, diz o criador que destaca outras virtudes perseguidas na seleção de fêmeas.

“Se o pecuarista conseguir desmamar um bezerro de sete para oito meses com 250 kg ele já andou metade do caminho para chegar a um boi em idade de abate. Ter matrizes que possam contribuir com a sustentabilidade e a viabilidade econômica da fazenda é uma vantagem indispensável”, comenta José Humberto. O rebanho Nelore está inserido no programa de melhoramento da ANCP (Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores) e PMGZ (Programa de Melhoramento de Zebuínos).

“O mercado de genética atual é muito exigente, e não está fácil. Um animal desejável precisa ter beleza, conformação, padrão racial, harmonia nas passagens, um cupim bem alinhado e aprumos. Além disso tudo, o mercado quer avaliação, eu falo todos os dias: fazer gado com número é muito fácil, mas fazer Nelore (de verdade) com número é difícil pra diabo” – referindo-se à dificuldade de se aliar os números dos programas de melhoramento genético ao padrão racial desejável da raça Nelore, tão defendido pelos Neloristas brasileiros.

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