Os frigoríficos exportadores começam a contabilizar até quando vai o limite da tranquilidade, coisa que os médios já estão perdendo e os pequenos já perderam.
As vendas externas estão dando suporte à recorde alta do boi e o mercado interno ainda vem aceitando o repasse da carcaça casada, mas a combinação da dificuldade acentuada e crescente de compra de animais e o descontrole dos preços colocam uma interrogação em algumas empresas.
Dois compradores de frigoríficos, um da região de Bauru e outro no Norte de São Paulo, exportadores China, que pediram para não serem identificados, admitem que o encurtamento das escalas está aumentando e a originação ficou sem nenhuma referência. Ambos acreditam que mais 15 dias, no máximo, poderá haver “colapso” nas operações.
É o tempo que Caio Toledo Godoy, da FC Stone, estima que pode durar a ‘crise’ mais aguda.
Além disso, também há dúvida sobre até quando o consumidor vai bancar a inflação da carne bovina, que nas prévias dos índices de novembro já está acima de 5% de participação.
O boi renovou máxima de R$ 230,00/@. Mas indústrias menores precisam desembolsar mais que as referências, nos últimos dias, para não perderem a matéria-prima para os grandes.
Segundo Gustavo Resende Machado, analista da Agrifatto, cliente ouvido esses dias disse que compra o que aparecer na frente, boi comum, vaca, o que for para preencher as escalas.
Margem ainda considerada boa, com boi casado acima de R$ 15,00/kg, ou acima de 3,5% de spread positivo no acumulado do mês, para essas empresas de menor já viraram mosca branca. A geração de caixa vai ficando comprometida.
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“Ainda não pesquisamos detidamente, mas o cenário sugere que algumas indústrias vão ter que reduzir o ritmo de abate”, diz Machado.
Segundo a Radar Investimentos
Nas últimas semanas já tínhamos alertado para o fato de que a única certeza possível de se ter com relação ao mercado futuro era de que a volatilidade iria aumentar muito. Essa não era uma previsão muito difícil de se fazer, já que viemos de uma alta de praticamente 30% nos preços do mercado físico nos últimos 30 dias, trazendo o boi de ao redor de R$165,00/@ em São Paulo para os atuais R$220,00/@, negociados nos últimos dias.
Tamanho movimento trouxe uma volatilidade boçal para os futuros, com movimentos de até R$12,00/@ em um mesmo dia, quando consideramos a diferença entre a cotação mínima e máxima intradiária de vencimentos mais líquidos.
Nessa procura pelo novo patamar de equilíbrio dos preços, o que é caro hoje se torna barato amanhã e soma-se a isso diversos pecuaristas tirando seus bois da escala de abate, e ofertando às outras indústrias por um preço maior, criando uma situação bizarra de “escala de abate negativa” ou seja, conforme os dias passam, ao invés de a escala caminhar para frente, ela caminha para trás.
Além de toda essa confusão no físico, o mercado futuro já teve três pregões em limite de alta, posteriormente expandidos e atingindo o novo limite de negociação.
A volatilidade atual é maior até mesmo do que a enfrentada nos momentos posteriores ao famoso “Joesley Day” ou a operação Carne Fraca em 2017. Essa situação chegou a um tal extremo que muitos market makers não estão nem interessados em dar preços para opções, ou quando o fazem, oferecem custos tão caros que na prática acabam inviabilizando as negociações.
O resultado disso é um mercado disfuncional, que acaba não podendo ser usado para seu propósito primordial, que é possibilitar o gerenciamento do risco de preços para os envolvidos a cadeia pecuária. Infelizmente enquanto um mínimo de racionalidade e equilíbrio não forem reestabelecidos no mercado físico, a situação do mercado futuro será essa ou até pior.
Era consenso a reclamação da falta de volatilidade de janeiro ao início de outubro desse ano, porém, o excesso dela também se torna prejudicial. Seguimos na torcida para que algum meio termo entre essas duas realidades seja a nova rotina do mercado.
Com informações do Money Times.