Genética: Sem critérios, líder do ranking seria castrado

Agir por impulso do marketing na decisão do touro ou sêmen pode ser insalubre, ainda hoje temos a cultura do melhor em tudo.

Por Adilson Rodrigues – O título ácido é apenas para realimentar uma velha discussão. Agir por impulso do marketing no momento crucial da decisão por determinado touro ou sêmen pode ser insalubre. Critico o fato de ainda hoje prevalecer a cultura de que o campeão é sempre o melhor em tudo.

O receptáculo responsável por resolver todos os problemas de um rebanho ou plantel. Aliás, equívocos como esse descredenciaram a pista como exclusiva formadora de touros de central. Traçando paralelo com o futebol, um touro campeão seria como Neymar Jr. Um ótimo goleador, mas talvez menos defensor e não tão bom goleiro.

Ou seja, o jogador, mesmo aquele talento nato, não vence campeonato sozinho. Contribui para o time. O touro, por sua vez, contribui para o plantel. Então, quando optar por um bom reprodutor, tenha ciência de suas deps e, principalmente, aquilo que deseja corrigir, potencializar ou eliminar no rebanho.

Dito isso, chegamos ao ponto-chave que instigou sua insaciável leitura até este parágrafo: Basco da Naviraí. O desempenho individual do animal e o da sua progênie nos julgamentos impressionam de tal forma que ele é líder do Ranking Nacional de Reprodutores Nelore pelo quarto ano consecutivo.

Basco da Naviraí

E Basco merece estar no topo. Como bem definiu Arnaldo Manuel de Souza Borges, o Arnaldinho, presidente eleito da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, o reprodutor possui o modelo ideal para produção de carne. Tem tamanho moderado, ótimos acabamento de carcaça e arqueamento de costelas.

Imprime precocidade de abate e volume carcaça fora do comum a uma bezerrada sempre muito homogênea e ainda com cabeça pequena. “De tão uniformes, parecem uma fornada de pão de queijo”, brinca o dirigente. Elencamos aí atributos suficientes para tornar o reprodutor um fenômeno do marketing. Portanto, cuidado com as entrelinhas.

Com tantos diferenciais, Basco da Naviraí seria touro para cobrir qualquer vaca?

O caro leitor pode estranhar, mas a resposta é um sonoro NÃO! Da mesma forma que transforma bezerros em máquinas de produzir carne, imprime graves defeitos com a mesma facilidade. É baixo em fertilidade e negativo em habilidade materna, duas das características de maior impacto econômico na pecuária.

Nos sumários Embrapa/Geneplus e ANCP, por exemplo, possui deps -4,10 e -5,97, respectivamente, no maternal (P120 e MP 120), ambas com acurácia em torno de 80%.

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E quem apontou essas falhas foi justamente Arnaldinho, sendo prontamente crucificado. “Não é porque é líder do Ranking que pode ser usado em qualquer rebanho. Se você acasalar Basco com vacas de baixa fertilidade, serão gerados bezerros subférteis. A questão é administrar o acasalamento”, explica Arnaldinho. A forma de corrigir é acasalá-lo com matrizes altamente férteis e com linhagens de boa habilidade materna. Resolve-se a questão já na primeira geração de filhos. “Aprendi com o meu pai que no melhoramento sempre eliminamos um defeito, nunca o indivíduo”, relembra o presidente da ABCZ.

Outra premissa é que a genética nunca mente. Arnaldo relata que durante a ExpoZebu um criador se aproximou dele e no bate-papo queixou-se de algumas vacas lindas, carnudas e ruins demais de leite. Ao puxar o pedigree das mesmas, Arnaldinho descobriu tratar-se de filhas de Paysandu, pai de Basco.

O filho herdou o defeito do pai e da avó paterna. Lara da Naviraí, mãe de Paysandu, é uma vaca igualmente fraca de leite, problema também trazido da linha paterna.

Veja só como são as coisas! E essa é uma seleção a qual admiro muito e tenho profundo respeito, por unir avaliação genética e morfologia de forma exímia, entretanto, prova que não existe touro perfeito. Podemos dizer que o máximo que se vai achar é o reprodutor perfeito para cada propriedade.

Esclarecido o título sensacionalista, o problema não está no touro. Está na forma como ele é utilizado.

Por Adilson Rodrigues, do blog Pecnética

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