Grãos: safra já caiu mais de 7 mi de ton por causa da seca

Além de prejudicar a soja e milho verão, a estiagem prolongada também já afetou o arroz e pode colocar em risco a segunda safra de milho.

As chuvas irregulares e até 50% abaixo da média desde agosto já causaram a perda de 7,3 milhões de toneladas de grãos em todo o país na safra 2020/2021, segundo as principais consultorias do agronegócio. A soja e o milho são as culturas mais afetadas, mas houve quebra também na produção de arroz. Agricultores relataram que, mesmo em época chuvosa como o início de dezembro, a estiagem persiste nas principais regiões produtoras. A região de Sorriso (MT), maior produtora de soja brasileira, registrava nesta sexta-feira, o 17° dia consecutivo sem chuva.

Além do prejuízo direto com a quebra na produção, os produtores estão sendo obrigados a irrigar as lavouras para evitar prejuízo maior, com aumento no custo de produção.

“Estamos com os pivôs (equipamento de irrigação) funcionando há 15 dias, algo que nunca aconteceu nesta época do ano. A soja que está fora do pivô está secando, perdendo a florada e terá de ser replantada, o que também afeta o custo”, disse o produtor e dirigente do Sindicato Rural de Sorriso, Tiago Stefanello Nogueira. O atraso nas chuvas este ano, segundo ele, pode prejudicar a segunda safra de milho, que será semeada no início de 2021. “Isso não é só aqui, está acontecendo em Mato Grosso inteiro”, disse.

O monitoramento da safra realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no fim de novembro já constatou perdas decorrentes do menor volume de chuvas, mas os números ainda estão sendo contabilizados. O próximo levantamento a ser divulgado no dia 10 deve registrar queda na previsão atual, de 268,9 milhões de toneladas, considerada recorde.

Previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) dão conta de que o clima, afetado pelo La Niña, pode ter ciclos irregulares de chuva no fim do ano e início de janeiro, o que não é bom para o campo. Mais de 95% da área com soja não é  irrigada e depende das chuvas.

De acordo com o consultor da Terra Agronegócios, Ênio Fernandes, as lavouras de soja, principal grão produzido e exportado pelo Brasil, sofreram com o atraso ou falta de chuvas em quase todo o país, à exceção da região Norte.

Só no Rio Grande do Sul, a quebra na produção chega a 1 milhão de toneladas. Segundo o Inmet, em novembro as chuvas na região norte gaúcha oscilaram entre 50 e 75 mm, sendo que a média histórica varia entre 100 e 150 mm.

Em Mato Grosso do Sul, a seca mais severa reduziu em 4% a previsão de produção. Entre agosto e novembro, as chuvas atingiram 54% da média do Estado, mas na região do Pantanal quase não choveu.

Atraso da chuva

Em lavouras de soja de Mato Grosso e Goiás, houve perda de 2% e, no Paraná e em Santa Catarina, quebra de 400 mil e 100 mil toneladas, respectivamente. Nesses estados, o problema maior foi o atraso e a má distribuição das chuvas. Com isso, a Terra Agronegócio revisou a previsão de safra da soja brasileira de 134,9 milhões, segundo o número da Conab, para 131,4 milhões de toneladas.

Conforme o especialista, muitas áreas de soja estão sendo replantadas, mas a produtividade vai cair. “Quando o plantio acontece depois de 1° de dezembro, mesmo que o clima seja perfeito, a produtividade será menor devido aos dias com menos sol.”

A consultoria reduziu também a previsão para a safra verão de milho, cultura também castigada pela seca principalmente no Rio Grande do Sul. “A Conab fala em 26,5 milhões de toneladas, mas estamos prevendo 22,6 milhões”, disse. Mesmo que chova, segundo ele, o milho não tem o mesmo poder de recuperação do que a soja.

A Agroconsult, outra consultoria do setor, também revisou para baixo a previsão de safra da soja. A produção deve alcançar 133,2 milhões de toneladas, 1,75 milhão a menos do que a estimativa da Conab, mas não estão descartadas novas revisões para baixo em decorrência do atraso no plantio devido à seca. Conforme o sócio-diretor André Pessoa, diversas regiões do país estão com as lavouras em situação de desenvolvimento inferior à registrada no mesmo período da última temporada.

O boletim mais recente da Conab apontou que durante a primeira quinzena de novembro as chuvas foram irregulares e mal distribuídas na maior parte da região centro-sul do país, causando impacto no desenvolvimento das lavouras. Na região sul, o baixo volume de precipitações afetou a evolução da semeadura e o desenvolvimento dos cultivos de verão, como soja e milho. No centro-oeste, houve atraso na semeadura e a evolução das lavouras está abaixo da média histórica, segundo a estatal. A Conab informou que indica as tendências, mas não antecipa os números.

Perdas nos grãos

No norte e oeste do Paraná, as chuvas atrasaram e o plantio da soja, que deveria ter se encerrado ao fim de setembro, só pode ser iniciado a partir de 15 de outubro, segundo o produto Valdir Edemar Fries, do município de Itambé. “Quando chegaram, as chuvas vieram mal distribuídas, acontecendo de no mesmo município chover 40 milímetros em algumas lavouras e só alguns pingos em outras.” Sem umidade do solo, muitas lavouras não tiveram o crescimento vegetativo esperado e precisaram ser replantadas.

Conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná, a irregularidade nas chuvas provocada pelo fenômeno La Niña pode frustrar a previsão de safra de 24,3 milhões de toneladas de soja na safra 2020/2012. O volume já é 2% menor que a safra anterior, mas a queda pode ser ainda maior se não houver a normalização do clima. No oeste do Paraná, as perdas estão consolidadas entre 5% e 10%.

Na região de Capão Bonito, no sudoeste paulista, o plantio da soja começou com atraso de até 20 dias devido à falta de chuvas. De acordo com o produtor Emílio Kenji Okamura, presidente da Cooperativa Agrícola de Capão Bonito (CACB), o clima seco frustrou um esperado aumento na área cultivada. “Ainda não sabemos se a produção vai ser boa, pois não choveu o suficiente e há previsão de pouca chuva entre dezembro e janeiro devido ao fenômeno La Nina”, disse.

No Rio Grande do Sul, a falta de chuvas afetou o plantio de arroz, segundo o presidente da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana, Roberto Fagundes.

Fonte: Estadão Conteúdo

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