La Niña não se formará no Pacífico em março; o que isso significa para o clima

As notícias recentemente indicaram um possível retorno do La Niña já em março. No entanto, é importante salientar que nenhum centro climático global prevê tal cenário.

Nesta semana, veículos de comunicação, com foco especial no segmento do agronegócio, divulgaram informações intrigantes acerca da possível retomada do fenômeno La Niña no Oceano Pacífico Equatorial já a partir de março deste ano.

Um vídeo veiculado por uma plataforma voltada para o setor agrícola chega a sugerir a inexistência de uma fase de neutralidade, afirmando que o Pacífico transitará diretamente do El Niño para o La Niña. Entretanto, é crucial esclarecer que tal informação carece de fundamento. Neste exato momento, o El Niño mantém sua influência de forma robusta no Oceano Pacífico, e a tendência é que perdure ao longo do restante do verão. O atual episódio de El Niño, oficialmente declarado pela agência norte-americana de tempo e clima (NOAA) em junho, está previsto para se encerrar entre abril e maio.

Conforme o último comunicado da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA), “o El Niño deverá persistir durante o inverno do Hemisfério Norte (correspondente ao verão no Hemisfério Sul), com uma transição para a neutralidade prevista para o trimestre entre abril e junho, com uma probabilidade de 60%.”

Os dados indicam que as anomalias de temperatura da superfície do mar permanecem próximas ao valor máximo registrado durante o mês de novembro no Pacífico Equatorial Centro-Leste, uma área crucial para identificar a presença de fenômenos como El Niño ou La Niña.

Segundo o mais recente boletim semanal da NOAA, divulgado ontem, a anomalia de temperatura da superfície do mar atingiu 1,9ºC na região Niño 3.4, localizada no Pacífico Equatorial Centro-Leste.

Esta região (Niño 3.4) é oficialmente adotada na Meteorologia como referência para determinar a presença de El Niño e avaliar sua intensidade. O valor positivo de 1,9ºC encontra-se na faixa de transição entre El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC) e muito forte (igual ou acima de 2,0ºC, caracterizando um Super El Niño).

No último trimestre (outubro a dezembro), a média de temperatura nesta região Niño 3.4 do Pacífico foi de 1,9ºC, conforme o denominado ONI (Oceanic Niño Index) da NOAA.

Considerando as leituras registradas em novembro, dezembro e o primeiro boletim semanal de janeiro, tudo indica que o trimestre de novembro a janeiro encerrará com um índice de ONI ainda significativamente elevado, estimado entre 1,7ºC e 1,9ºC. Essa projeção é fundamentada nos boletins semanais de novembro, que apresentaram anomalias respectivas de 1,8ºC, 1,8ºC, 1,9ºC, 2,1ºC e 2,0ºC, assim como nos boletins de dezembro, com anomalias semanais de 1,9ºC, 2,0ºC, 2,0ºC e 2,0ºC.

O que esperar

No primeiro boletim de janeiro, como mencionado, foi indicada uma anomalia de 1,9ºC. Portanto, se o trimestre novembro a janeiro encerrasse atualmente, a média trimestral seria de +1,94.

O modelo North-American Multimodel Ensemble (NMME), em sua projeção de anomalia de temperatura da superfície do mar, continua apontando para águas mais quentes do que a média, mantendo um padrão associado ao El Niño, mesmo no mês de março.

Embora exista a possibilidade de resfriamento das águas em uma área mais restrita dos litorais do Peru e Equador (região Niño 1+2) em março, isso não caracteriza um evento de La Niña, que é avaliado no Pacífico Centro-Leste (região Niño 3.4), uma área consideravelmente mais ampla e mais a oeste.

A partir de abril, há a expectativa de formação de uma extensão de águas mais frias, característica típica de La Niña, no Pacífico Equatorial.

Entretanto, o fenômeno ainda não estaria plenamente configurado, pois o resfriamento estaria mais restrito às áreas a leste do Pacífico. De acordo com este modelo, na segunda metade do outono ou no inverno, o La Niña estaria completamente caracterizado, com a faixa de águas frias predominando em todo o Pacífico Centro-Leste. Contudo, outros modelos climáticos não indicam um resfriamento tão acentuado entre abril e junho.

A projeção oficial atual do Centro de Previsão Climática do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS/NOAA/CPC) aponta uma probabilidade de 100% para El Niño e 0% para neutralidade ou La Niña no trimestre de dezembro a fevereiro. As probabilidades permanecem idênticas para o trimestre de janeiro a março.

No trimestre de fevereiro a abril, o CPC da NOAA indica 97% de probabilidade para El Niño, 3% para neutralidade e 0% para La Niña. Para o trimestre de março a maio, as probabilidades são de 75% para El Niño, 25% para neutralidade e 0% para La Niña. Já no trimestre de abril a junho, as estimativas são de 37% para El Niño, 60% para neutralidade e 3% para La Niña. No trimestre de maio a julho, segundo as previsões oficiais do centro de clima dos Estados Unidos, as probabilidades seriam de 20% para El Niño, 65% para neutralidade e 15% para La Niña.

Para o trimestre do inverno brasileiro, de junho a agosto, as probabilidades indicam 12% para El Niño, 56% para neutralidade e 32% para La Niña. Dessa forma, é esperado que o El Niño persista ao longo deste verão, com uma transição para a neutralidade durante o outono, sendo possível a instalação de um evento La Niña posteriormente. Caso isso ocorra, a declaração não seria antes do final do outono ou durante o inverno deste ano.

Escrito por Compre Rural com informações do MetSul Meteorologia

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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