
Estados Unidos enfrenta problemas para combater a entrada da praga New World Screwworm; Estado do Texas usará isca sintética projetada para atrair moscas adultas
O Cochliomyia hominivorax, conhecido como New World Screwworm (berne ou bicheira), é uma mosca parasita que se alimenta de tecido vivo de animais e até de humanos, causando infestações graves e muitas vezes fatais. Originária das Américas, essa praga foi historicamente um pesadelo para a pecuária, especialmente em regiões tropicais e subtropicais.
Nos anos 1950, os EUA iniciaram um programa massivo de erradicação usando a técnica do inseto estéril (SIT, na sigla em inglês), que libera machos esterilizados para reduzir a reprodução da espécie. O sucesso foi tão grande que o país foi declarado livre da praga em 1966, seguido pelo México e América Central nas décadas seguintes. No entanto, surtos recentes reacenderam o alerta, especialmente no Caribe e na América do Sul.
Em 2023, países como Colômbia, Venezuela e ilhas do Caribe registraram surtos significativos. A Colômbia, por exemplo, declarou emergência sanitária após mais de 300 casos em animais, com prejuízos estimados em US$ 100 milhões devido a perdas na pecuária e custos com tratamento.

Nos EUA, o Texas voltou a enfrentar a ameaça após décadas de controle. Em 2023, focos isolados foram detectados em rebanhos, levando a intervenções urgentes do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O prejuízo potencial para a pecuária americana, se a praga se estabelecer, pode chegar a bilhões de dólares anuais, considerando perdas diretas e embargo sanitário de exportações.
Em 2024, fazendeiros relataram infestações em gado, causando feridas graves e mortes de animais. Se não for controlada, a praga pode causar prejuízos bilionários à pecuária americana.
Os Estados Unidos estão ampliando drasticamente a produção de moscas estéreis em uma instalação no Panamá. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) anunciou um investimento de US$ 40 milhões para aumentar a capacidade da fábrica, que produz milhões de moscas machos esterilizadas por radiação. Quando soltos na natureza, esses insetos acasalam com fêmeas selvagens, que então não produzem descendentes, reduzindo progressivamente a população da praga.
A instalação do USDA no Panamá é a única no mundo que produz moscas estéreis em larga escala para esse fim. Com a expansão, a fábrica poderá liberar até 500 milhões de moscas por semana, cobrindo áreas de risco nos EUA, México e América Central.
Apesar dos esforços, o aumento da temperatura global e o movimento irregular de animais elevam o risco de novos surtos. Cientistas alertam que o aquecimento global pode expandir o habitat da praga, tornando o controle mais difícil. O USDA já estuda novas tecnologias, como modificação genética de moscas, para reforçar a estratégia atual.
“Não podemos baixar a guarda. Essa praga já foi eliminada antes, mas seu retorno mostra que o risco sempre existe”, disse um representante do USDA.
Segundo um relatório do USDA, os dados ajustados pela inflação indicam que um surto de New World Screwworm (NWS) em escala semelhante ao ocorrido em 1976 poderia custar aos produtores do Texas US$ 732 milhões por ano, com perdas totais de US$ 1,8 bilhão para a economia do estado.
No entanto, a comparação apresenta desafios, já que se passaram mais de 40 anos desde a erradicação da praga nos EUA. O rebanho bovino do Texas em 2024 é significativamente maior (12 milhões de cabeças), enquanto ovinos e caprinos têm populações menores (655 mil cabeças). A análise reforça que infestações da praga ainda representam um risco econômico significativo, exigindo monitoramento contínuo e preparação.
O New World Screwworm é um problema antigo com potencial devastador renovado. Enquanto os EUA investem em tecnologia para proteger seu rebanho, países em desenvolvimento lutam com recursos limitados. A lição é clara: a vigilância constante e a cooperação entre nações são a chave para evitar que a praga volte a causar estragos em larga escala.
A esperança é que, com a expansão da fábrica de moscas estéreis, os EUA possam evitar uma crise sanitária e econômica.
Há registro da New World Screwworm no Brasil?
Até o momento, não há registros oficiais do New World Screwworm no Brasil. O país enfrenta problemas com moscas parasitas semelhantes, como a mosca-da-bicheira (Cochliomyia hominivorax) – que, apesar do nome científico igual ao screwworm americano, na prática refere-se a uma espécie distinta (Cochliomyia macellaria no Brasil, que se alimenta de tecido necrosado, não vivo).
O risco da praga vir para o Brasil é considerado baixo devido a barreiras geográficas e climáticas naturais. A Amazônia e outros biomas úmidos funcionam como filtros ecológicos, dificultando a adaptação dessa praga, que prefere regiões mais secas, como as do Caribe e do sul dos EUA.
Além disso, o clima tropical brasileiro, com alta umidade e chuvas frequentes, cria condições menos favoráveis para a proliferação da mosca em comparação com seu habitat original.
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