O que é leite A2 e como ele é produzido

Produção e o consumo de leite A2 abriu portas para um novo nicho de mercado para produtores que buscam alternativas de produção e valor agregado ao produto.

Primeiramente, vamos esclarecer o que é leite A2 proveniente de vacas com o genótipo a2a2. O que faz ele ser diferente e qual a sua importância na saúde dos seres humanos?

O gene CSN-2 do bovino e de todos os outros mamíferos é responsável pela produção de beta-caseína, que possui 13 diferentes variantes, dentre elas as mais comuns são a A1 e a A2. A diferença entre estas duas variantes é possível devido a uma mudança na sua sequência de nucleotídeos, que permitem que no momento da construção da cadeia de aminoácidos da “beta-caseína” modifiquem a sua sequência produzindo o aminoácido histidina (no alelo A1) e prolina (no alelo A2) na posição 67 da cadeia de aminoácidos, ambos se ligam ao aminoácido Isoleucina (Woodford, 2007; Kaminski et al., 2007).

Em virtude desta alteração na sequência de aminoácidos da beta-caseína, no momento na quebra desta proteína por meio de enzimas, ocorre a liberação de uma sequência de aminoácidos conhecida como beta-casomorfina-7 (BCM-7).

No leite A2 proveniente de vacas com o genótipo A2A2 é 4 vezes menor quando comparado com o leite que contém o alelo A1( Kaminski et al., 2007), pois a atuação das enzimas proteolíticas durante a clivagem dos aminoácidos é mais eficiente entre o aminoácido histidina e Isoleucina (no alelo A1), disponibilizando em maior quantidade a BCM-7 no leite com este alelo.

Qual a importância da bcm-7?

A BCM-7 é um peptídeo bioativo com propriedades opióides, e segundo pesquisas pode aumentar o risco de doenças crônicas; doença cardíaca isquêmica humana; arteriosclerose; diabetes tipo 1; síndrome da morte súbita do lactente e desconfortos no sistema gastrointestinal (Sokolov et al., 2005; De Noni & Cattaneo, 2010). Este peptídeo bioativo também é absorvido por regiões cerebrais relevantes e podem alterar o comportamento de pessoas com esquizofrenia e transtorno do espectro do autismo (TEA).

Assim, a ingestão de leite proveniente de vacas com o genótipo A2A2 poderia ser uma alternativa para pacientes com sensibilidade no sistema digestivo ao ingerir leite, bem como poderia causar benefícios para pacientes portadores destas patologias.

No entanto, os benefícios do leite proveniente de vacas com genótipo A2A2 ainda não estão completamente esclarecidos pelos pesquisadores. Contudo, muitos estudos referentes a este assunto veem sendo realizados no Brasil e no mundo. Neste sentindo, a produção e o consumo de leite A2 abriu portas para um novo nicho de mercado para produtores que buscam alternativas de produção e valor agregado ao produto. 

É importante ressaltar que o leite não é um vilão para a saúde de seus consumidores e que seus benefícios são fortemente comprovados. Além disso, o leite proveniente de vacas com o genótipo A2A2 não busca substituir o leite, e sim somar, proporcionando outra alternativa para os consumidores.

Como é produzido o leite proveniente de vacas com genótipo a2a2?

O gene da beta-caseína A2 (CSN-2) é responsável pela formação dos genótipos nos animais, que podem ser homozigotos (A1A1 e A2A2) ou heterozigotos (A1A2), tudo dependerá de seus pais. Para que se saiba a frequência destes genótipos no seu rebanho é necessário que se faça a genotipagem dos animais. Não é necessário que 100% do rebanho de uma propriedade seja de animais com genótipo A2A2.

As granjas leiteiras que já genotiparam seus animais e foram certificadas, estão aptas a produzir leite proveniente de vacas A2A2 no Brasil, pois assim podem separar as vacas A2A2 em lactação que entram primeiro na linha de ordenha, sendo o leite separado imediatamente.

Posteriormente, entram na linha de ordenha os outros animais do rebanho com os genótipos A1A1 e A1A2 (o lote de animais que produz o leite com mistura do alelo A1 e A2). Esta técnica de manejo visa evitar que o leite proveniente de vacas com o genótipo A2A2 se misturem aos outros, garantindo a eficiência e idoneidade da produção de ambos os produtos.

Agora que você sabe sobre o leite proveniente de vacas com genótipo A2A2, você acredita que ele pode ser consumido por pessoas com intolerância à lactose e alergia a proteína do leite de vaca (APLV)? Para melhor esclarecimento, vamos explicar o que são cada uma dessas síndromes:

  • Intolerância a lactose

A intolerância a lactose está diretamente relacionada a diminuição da atividade da enzima lactase no intestino delgado dos seres humanos. Esta deficiência não permite que ocorra a hidrólise da lactose, o açúcar presente no leite, causando sintomas como distensão abdominal, flatulências e diarreias após consumo de leite e derivados lácteos que contenham lactose (Mattar, & Mazo, 2010).

  •  Alergia a proteína do leite de vaca (APVL)

A alergia a proteína do leite de vaca (APLV) é uma reação que o sistema imunológico causa ao ingerir certas frações de proteínas do leite de vaca, tais como a caseína, α-lactoalbumina, β-lactoglobulina, globulina e albumina sérica bovina.

Seus sintomas podem apresentar manifestações cutâneas (dermatite atópica e urticaria), respiratórias (tosses, dispneias e rinites) e digestórias (vômitos, diarreias, constipação, regurgitação, sangramento retal) logo após a ingestão de leite e derivados lácteos (Pardo et. al, 2021).

Considerações finais

Embora o leite proveniente de vacas com o genótipo A2A2 e a sua funcionalidade vem sendo constantemente associada à intolerância a lactose e à APLV de forma errônea, ele não tem nenhuma relação com o quadro destas duas síndromes.

O leite proveniente de vacas com o genótipo A2A2 está no mercado como mais uma alternativa para que os consumidores de leite possam consumir este alimento. Além disso, como já citado anteriomente, também pode ser uma alternativa para pessoas que possuem algum desconforto gastrointestinal ao consumir leite.

Fonte: Milk Point

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