Período mais quente da história, confira!

No ritmo que as coisas caminham, nem a tecnologia será suficiente para mitigar os extremos e salvar a agricultura e pecuária.

O serviço meteorológico do governo britânico divulgou nesta semana que podemos estar no meio da década mais quente da história, segundo os registros dos últimos 150 anos. Podemos ter temperaturas até 1,5 grau maiores do que o normal na do planeta, o que será considerado um limite crítico para o aquecimento global.

Se esses dados se confirmarem, o período de 2014 a 2023 será a década mais quente já registrada. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou uma análise mostrando que os 20 anos mais quentes já documentos aconteceram nos últimos 22 anos.

As considerações sobre a temperatura crítica em termos de aquecimento global foram mencionadas no último relatório do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, (do inglês, IPCC). O limiar de 1,5 grau no aquecimento global é usado porque tudo acima disso pode influenciar diretamente na adaptação dos ecossistemas, na produção de alimentos e desenvolvimento de uma economia sustentável, de acordo com os estudos do IPCC.

Acontece que, se formos considerar a Oscilação Interdecadal do Pacífico, estamos em uma fase mais fria do oceano Pacífico Equatorial. Isso indica que, de 2005 pra cá, estamos vivendo mais episódios do fenômeno La Niña do que El Niño. De 1975 a 2005, vivemos uma fase quente dos oceanos, que durou predominantemente cerca de 30 anos.

Se olharmos as últimas décadas, estamos quebrando recordes atrás de recordes

Mesmo com este cenário, os meteorologistas não descartam outras considerações. “Eu acredito que estamos vivendo uma fase de maiores extremos. Se olharmos as últimas décadas, estamos quebrando recordes atrás de recordes. E, diferentemente do que muitos possam imaginar, o aquecimento global aumenta os extremos climáticos, ora com calor excessivo, ora com chuva excessiva, ora com seca excessiva e, por que não, frio excessivo?”, explica Celso Oliveira, meteorologista da Somar.

Basta lembrarmos do inverno de 2018 na porção leste dos Estados Unidos, quando nevou em locais onde não nevava havia 30 anos. Segundo Celso, é natural esperar que a década seguinte seja ainda mais quente, com novos recordes.

Se você for ligar com a agricultura, a preocupação é que, no ritmo que as coisas caminham, a tecnologia não será suficiente para mitigar os extremos. Hoje, existem cultivares mais resistentes à seca, pragas e por aí vai. Mas a toda resistência tem um limite.

“Hoje mesmo, já há um problema no Meio Oeste Americano. Nos últimos anos, com invernos mais rigorosos, a janela de plantio do milho está cada vez mais curta. Talvez isso ainda não seja um grande empecilho, olhando a tamanha produtividade do país, mas pode se tornar um grande problema caso a janela se torne cada vez mais curta pelos extremos”, explica Celso.

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Não precisamos ir muito longe para avaliar a tamanha oscilação que vivemos. Na última quarta-feira de janeiro, dia 30, São Paulo registrou a maior temperatura máxima deste verão: 35,5 graus. Uma semana depois, nesta quarta-feira, dia 6, São Paulo registrou a menor máxima em 24 anos para um mês de fevereiro: 19,5 graus, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, o Inmet.

Janeiro de 2019 foi o segundo mais quente da história em São Paulo, com média das máximas de 31,8 graus, só perdendo para janeiro de 2014, quando em média a temperatura máxima ficou em torno dos 31,9 graus.

“Independentemente do que as agências internacionais vierem a concluir a respeito de ser ou não a década mais quente dos últimos 150 anos, claramente estamos vivendo um período de grandes e frequentes extremos climáticos, o que merece a nossa atenção e monitoramento”, diz Heloisa Pereira, meteorologista da Somar, mestranda do Instituto Agronômico de Campinas, que estuda modelagem climática aplicada ao fenômeno extremo climático seca.

Pryscilla Paiva, editora de Tempo do Canal Rural

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