Posso inseminar minhas vacas com sêmen a fresco?

Alternativas ao uso de sêmen congelado na inseminação artificial em tempo fixo de bovinos de corte; Acredita-se em melhores resultados no sêmen a fresco

A melhoria do desempenho reprodutivo nacional utilizando novas biotecnologias tornou-se indispensável com o aumento do rebanho bovino comercial. No entanto, o uso de touros para monta natural ainda é o método mais empregado no Brasil, principalmente devido a baixa qualidade das pastagens e mão de obra.

A inseminação artificial trouxe benefícios ao pecuarista, uma vez que permite a seleção e o melhoramento genético, a utilização de sêmen de touros incapacitados para monta e evita a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. Entretanto, necessita de mão de obra qualificada e detecção de estro precisa. Neste intuito, a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) surgiu para facilitar o manejo e propiciar a inseminação de grande número de animais em dia programado sem a detecção de estro, de modo a concentrar as concepções e reduzir o período da estação de monta.

Atualmente, o sêmen congelado é mais utilizado do que fresco e refrigerado. Isto se dá porque pode ser armazenado por período prolongado e transportado a longas distâncias, permite utilizar touros com genética melhorada, formar bancos de germoplasma de animais em risco de extinção como daqueles que não podem ser utilizados na reprodução por razões temporárias ou permanentes.

Tudo isto é possível porque o processo de criopreservação do sêmen suspende o metabolismo espermático e mantém suas características por tempo prolongado. Contudo, induz a diversas modificações bioquímicas e biofísicas que reduzem o potencial fertilizante e a viabilidade espermática.
Dessa forma, no intuito de maximizar as taxas de concepção dos rebanhos bovinos tem-se buscado novas alteranativas biotecnológicas que visem o aumento do potencial reprodutivo desses animais. Assim, o uso de sêmen fresco e refrigerado proporciona a otimização de touros geneticamente superiores a menor custo e pode ser uma solução para fazendas, aumentando a prenhez na IATF. Além disso, possibilita o uso de sêmen de tourinhos novos que ainda não são possíveis de criopreservação devido a imaturidade sexual.

Resultados de um trabalho do nosso grupo de pesquisa realizado no Centro Oeste goiano, avaliou taxa de concepção de vacas e novilhas da raça Nelore submetidas à IATF com a utilização de sêmen fresco, refrigerado e congelado. As novilhas tiveram maior taxa de concepção com sêmen congelado com 10 milhões de espermatozoides (55,26%) do com sêmen fresco com 30 milhões de espermatozoides (48,72%). Acredita-se que a antecipação da inseminação com sêmen fresco resultaria em melhor taxa de concepção, permitindo assim a completa capacitação espermática até o momento da ovulação. Já as vacas multíparas obtiveram maior taxa com sêmen refrigerado por 8 horas a 5°C com 64 milhões de espermatozoides (57,89%) do que o sêmen congelado com 16 milhões de espermatozoides (42,11%), reduzindo em 15,78% o intervalo entre partos.

inseminacao artificial em tempo fixo IATF
Foto: Personal PEC

Esses resultados podem ser atribuídos ao processo de congelação do sêmen, que ocasionam danos físicos, bioquímicos ou funcionais aos espermatozoides. Outras pesquisas apresentaram taxa de concepção utilizando sêmen refrigerado a 5°C por 24 horas entre 52,1% e 64,5% (Crespilho et al., 2012; Papa et al., 2015; Borges-Silva et al, 2016; Resende et al., 2018).

Nosso grupo também realizou estudos com sêmen fresco e congelado, ambos na concentração de 50 milhões de espermatozoides, na IATF de vacas Nelore e Canchim. As taxas de concepção no Nelore foi de 56% com sêmen fresco e 52% com sêmen congelado. Já na raça Canchim, observamos 72% com sêmen fresco e 65% com sêmen congelado. Resultado contrário ao verificado por Saha et al. (2014), que observaram maiores taxas de concepção em vacas inseminadas com sêmen congelado (62,75%) em relação a vacas inseminadas com sêmen fresco (54,9%).

Assim, o percentual de prenhez à IATF pode ser influenciado por vários fatores, dentre os quais: condição corporal dos animais; época de parição; período de ovulação; estresse ambiental; protocolo hormonal; fertilidade do touro; concentração espermática, composição do diluente e processo utilizado na criopreservação e, tipo de sêmen (fresco, refrigerado ou congelado).

Conclui-se que a utilização de sêmen fresco e refrigerado podem ser alternativas para incrementar os resultados da inseminação artificial em tempo fixo, proporcionando um melhor aproveitamento do potencial reprodutivo dos animais e aumentando as taxas de prenhez dos rebanhos bovinos.

Natalia do Carmo Silva (Doutora pela Universidade Federal de Goiás), Thaisa Campos Marques e Karen Martins Leão do Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde

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