Entenda: intolerância à lactose versus alergia à proteína do leite de vaca

As desordens geradas pelo consumo de leite e derivados em algumas pessoas geram muita confusão entre as condições de intolerância a lactose e alergia à proteína do leite de vaca

A lactose é o principal carboidrato (açúcar) do leite, com valor mínimo de 4,3% conforme a legislação brasileira de qualidade do leite. A intolerância à lactose é causada pela ausência ou déficit na produção da enzima lactase pelo intestino delgado durante a digestão da lactose. Assim, a lactose não é decomposta em glicose e galactose, sendo fermentada pelas bactérias do intestino. Em consequência, ocorre produção de gases (metano, hidrogênio e dióxido de carbono) que geram o desconforto intestinal.

A intolerância à lactose pode ocorrer de três formas: primária, secundária e congênita. A primária é a mais comum em adultos. A secundária é temporária e ocorre quando o intestino delgado deixa de produzir a quantidade normal de lactase devido a alguma lesão. A congênita ocorre pela ausência de lactase desde o nascimento devido a herança autossômica recessiva e permanece durante toda vida, sendo passada de geração em geração.

Os principais sintomas da intolerância são cólicas abdominais, distensão abdominal e diarreia. Embora outros sintomas gastrintestinais como arroto, gordura nas fezes, inchaço, indigestão, náusea, dores de estômago ou flatulência podem estar presentes.

Já a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) é uma alergia alimentar mais comum em crianças com até três anos de idade e rara em adultos. É caracterizada pela reação do sistema imunológico a uma ou várias proteínas do leite, principalmente à caseína. A predisposição genética e a introdução precoce do leite de vaca estão entre as causas da APLV.

As proteínas que compõem o leite e derivados têm alto valor biológico e são responsáveis pelas atividades funcionais e estruturais dos organismos vivos. Dentre estas, 20% são proteínas do soro (α-lactalbumina e β-lactoglobulina) e 80% são caseínas (alfa s1, alfa s2, kappa e beta-caseína). As beta-caseínas correspondem a aproximadamente 30% das proteínas totais do leite com 13 variantes conhecidas, sendo as variantes A1 e A2 as mais comuns encontradas no leite bovino.

Durante a digestão das proteínas do leite são liberados peptídeos bioativos como a beta casomorfina 7 (BCM-7), que está diretamente relacionada com vários efeitos deletérios nos sistemas digestivo, cardiovascular, imune e nervoso. Sintomas gastrointestinais (náusea, vômito e diarreia), cutâneos (eczema, erupções vermelhas) e respiratórios (asma, rinite, dificuldade para respirar) são comuns. Reações anafiláticas com risco de vida são raras. Sabe-se que a variante A1 libera maiores quantidades de BCM-7 após proteólise pelas enzimas gastrointestinais em relação a variante A2. Alguns levantamentos mostram que a frequência do gene que determina a produção da beta-caseína do tipo A2 é menor em bovinos das raças taurinas, com 50% na raça Holandês e 92% na Gir.

Dessa forma, a intolerância à lactose ocorre devido à ausência ou redução na produção da enzima lactase e a APLV ocorre devido a beta-casomorfina 7, que está presente no alelo A1. Por isso, as pessoas com APLV não podem ingerir leite de vaca ou derivados que contenham principalmente a variante A1, assim como alimentos que contenham proteínas do leite. Enquanto que pessoas intolerantes à lactose podem ajustar a dieta consumindo produtos com baixo teor de lactose ou ingerindo a enzima lactase. Entretanto, em ambos os casos, o diagnóstico deve ser feito pelo médico que prescreverá o melhor tratamento possível.

Bruna Gouveia Guimarães¹, Thaisa Campos Marques¹, Marco Antônio Pereira da Silva¹ / ¹Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde

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