Preço do leite pago ao produtor deve cair, e agora?

Preço do leite pago ao produtor deve cair em maio diante de incertezas e queda nas vendas; Crise do coronavírus e baixo faturamento da indústria podem retirar produtores da atividade, diz Cepea.

As incertezas com o mercado interno após a pandemia de coronavírus devem pressionar os preços pagos ao produtor de leite em maio, referente ao produto captado neste mês. Segundo levantamento do Cepea, as negociações estão em queda no país, indicando um cenário de redução no preço em um momento de alta nos custos de produção.

“As indústrias lácteas poderão se deparar, em poucas semanas, com um cenário de baixo faturamento, o que certamente será transmitido aos produtores”, explica o Cepea ao ressaltar que a combinação entre queda na receita e custos maiores “pode refletir em aumento do abate de fêmeas e na saída de produtores da atividade”.

Na média nacional, o Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira registrou aumento de 0,83% em março. A alta foi puxada pelos preços com alimentação. Em março, a valorização foi de 1,56%, acompanhando o mercado de milho. No ano, este item acumula valorização de 6,38%.

Preço em queda

De 1º a 15 de abril, o leite UHT apresentou queda de 4%, cotado a R$ 3,01 o litro, segundo levantamento diário do Cepea. Já o queijo muçarela desvalorizou 4,2%, com média de R$ 18,30 o quilo. Os dois produtos, contudo, apresentam históricos distintos de demanda.

No caso do UHT, o produto foi um dos itens estocados pela população no início da pandemia, o que contribuiu para a forte redução dos estoques da indústria seguido de queda na demanda. Já para os derivados, a situação é de baixo consumo após o fechamento do comércio.

“O escoamento da produção de refrigerados foi dificultado por conta da paralisação dos serviços de alimentação. Segundo agentes consultados pelo Cepea, diversos pedidos foram cancelados ou realocados e houve necessidade de se realizar promoções para assegurar a liquidez do derivado”, destaca o Cepea, em nota.

Balança comercial

Com o dólar cotado acima de R$ 5, as importações brasileiras de lácteos também têm queda em meio a sinais de demanda vacilante no país. Foram 9,5 mil toneladas importadas em março, 4,7% acima do observado em fevereiro, mas 13% menos ante igual período de 2019.

Nas compras de leite em pó, essa queda foi de 8% em março, seguida por uma demanda 30% menor por queijos importados no último mês. Já as exportações cresceram em meio a desvalorização do real. No ano, as vendas externas de produtos lácteos do Brasil acumulam crescimento de 8,6% em volume, de acordo com o Cepea.

A comercialização de leite condensado, principal produto exportado pelo Brasil, dobrou em março na comparação com fevereiro, somando 1,3 mil toneladas – volume praticamente estável em relação a igual período do ano passado. 

Análise da crise, segundo Scot Consultoria

O preço do leite pago ao produtor vem em seu quarto mês de alta, considerando a média nacional. No pagamento de março, que remunera o leite captado em fevereiro, houve alta de 0,9% em relação ao mês anterior, e a cotação cresceu 3,5% na comparação com igual período de 2019.

Por outro lado, em 2020 já são três meses de queda no volume captado pelas indústrias, segundo o Índice de Captação de Leite da Scot Consultoria. A menor disponibilidade de matéria-prima gerou maior concorrência entre os laticínios, contribuindo para o cenário de alta.

Apesar da concorrência entre os laticínios pelo leite cru, a demanda em alguns segmentos, como o de queijos, foi prejudicada pelo quadro de quarentena, e, com isso, algumas indústrias (queijeiros) ofertaram mais leite no mercado spot (comercialização entre laticínios).

Dessa forma, em curto e médio prazos, essa queda na demanda poderá pressionar para baixo a cotação do leite, em pleno início de entressafra. Como medida para amenizar a crise, o governo autorizou laticínios com selo de inspeção federal a comprar leite de indústrias com selo estadual ou municipal.

Compre Rural com informações do Cepea, Globo Rural e Scot Consultoria

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