Safra de soja em risco: Rally da Safra prevê perdas irreversíveis em todo o país

Até março, a expedição explorará as áreas de produção de soja, antecipando uma estimativa de 153,8 milhões de toneladas para a safra 2023/24.

Na temporada agrícola 2015/16, o El Niño exibiu uma intensidade considerável. No entanto, na atual safra de 2023/24, o fenômeno está impactando negativamente a produção de soja, especialmente devido à maturação precoce das plantações. Essa análise provém da Agroconsult, entidade responsável pelo Rally da Safra.

Conforme a expedição relata, as condições climáticas irregulares durante o plantio e o desenvolvimento das lavouras em diferentes regiões resultaram em problemas significativos. O Norte, Nordeste e Centro-Oeste enfrentaram escassez de chuvas e altas temperaturas, enquanto o Sul sofreu com excesso de precipitações. Como resultado desse cenário adverso, a safra experimentou uma redução que já ultrapassa 15,3 milhões de toneladas em todos os estados.

O Rally da Safra destaca que essa situação levou a um recorde de replantio em uma área de 2,9 milhões de hectares, sem considerar as terras abandonadas para dar lugar ao cultivo de algodão.

O replantio não apenas ocasiona prejuízos na produção de soja, acarretando em custos adicionais e redução do potencial produtivo, mas também afeta negativamente a segunda safra de milho, comprometendo a janela ideal para a semeadura, conforme explicado por André Debastiani, coordenador da expedição.

A estimativa de produção de soja para a safra 2023/24, apontada pelo Rally, é de 153,8 milhões de toneladas, registrando uma queda de 3,7% em relação à temporada anterior. A produtividade média é de 56,1 sacas por hectare, comparada a 60 sacas por hectare na safra 2022/23. A área plantada apresentou um aumento de 2,9%, atingindo 45,7 milhões de hectares.

A Agroconsult, responsável pelos levantamentos quinzenais de safra, iniciou a revisão de seus números em outubro, ajustando suas estimativas a cada levantamento devido à piora das condições climáticas. André Debastiani destaca que essa safra tinha o potencial de superar 169 milhões de toneladas, considerando o aumento da área plantada, o uso de tecnologia avançada no campo e a possível recuperação do Rio Grande do Sul, que, na temporada anterior, deixou de produzir 8 milhões de toneladas.

Perdas no Centro-Oeste em Foco

A partir deste mês de janeiro, as equipes técnicas do Rally da Safra 2024 estão em campo, realizando a avaliação das condições das áreas plantadas. As regiões visitadas correspondem a 97% da produção de soja e 72% da área de milho.

soja
Foto: Divulgação

Os trabalhos tiveram início em 12 de janeiro, com os técnicos percorrendo o Oeste de Mato Grosso e a região da BR 163, concentrando-se em áreas de soja de ciclo precoce. A escassez de chuvas, associada às elevadas temperaturas registradas em outubro e dezembro do ano anterior, resultou em perdas de estande e aborto de vagens, impactando de maneira significativa as lavouras mais precoces.

O clima favorável também propiciou o aumento da incidência de pragas. No estado, o replantio atingiu números recordes, ultrapassando 1 milhão de hectares, o que representa 8,5% da área total.

As lavouras atualmente em colheita são as mais prejudicadas pela seca. Por outro lado, as áreas com variedades de ciclo médio e tardio, embora também tenham enfrentado desafios, apresentam condições mais favoráveis, beneficiadas pelas chuvas ocorridas após a segunda quinzena de dezembro. A preocupação agora reside na possibilidade de excesso de chuvas durante a colheita nas próximas semanas.

A produtividade média pré-rally estimada pela Agroconsult para o estado é de 52,5 sacas por hectare, em comparação com as 63,8 sacas por hectare registradas na safra anterior.

Situação no Sudoeste de Goiás paralela à de Mato Grosso

A região sudoeste de Goiás retrata um cenário notavelmente similar ao do estado de Mato Grosso, com um significativo atraso na regularização das chuvas e elevadas temperaturas. O início da colheita nessa área confirma resultados aquém das expectativas dos produtores. A estimativa pré-rally aponta uma produtividade de 56 sacas por hectare, em comparação com as 65,5 sacas por hectare registradas na temporada 2022/23.

Em Mato Grosso do Sul, a região norte agora enfrenta reduções, marcando uma mudança em relação à safra 2021/22, quando o sul do estado influenciou negativamente na produtividade média. A produtividade estimada para esta safra é de 59 sacas por hectare, contrastando com as 64 sacas por hectare da safra anterior.

Cenário desafiador para a Soja no Matopiba

A Bahia destaca-se com uma situação crítica, apresentando o mais elevado índice de replantio, atingindo 15% da área total – algumas plantações foram replantadas até três vezes, conforme informações da Agroconsult.

A irregularidade climática, caracterizada por altas temperaturas em novembro e dezembro, prejudicou significativamente as lavouras, com a normalização das chuvas ocorrendo apenas em janeiro. Na Bahia, a produtividade média pré-rally é projetada em 58,5 sacas por hectare, comparada às 67 sacas por hectare na temporada passada.

Nos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, o retorno das chuvas em janeiro trouxe benefícios para o desenvolvimento favorável das lavouras. No entanto, devido ao calendário de plantio mais tardio, ainda é necessário que ocorram chuvas para assegurar a produtividade estimada em 54,8 sacas por hectare nos três estados combinados, em contraste com as 61,2 sacas por hectare registradas na safra anterior.

A avaliação das condições agrícolas nas regiões Sul e Sudeste revela cenários distintos. Em Minas Gerais, observa-se uma redução na produção, contudo, esta é mais moderada devido ao plantio realizado em momento posterior. A projeção preliminar indica uma média de 59 sacas por hectare, comparada a 65,3 sacas na temporada anterior (2022/23).

No contexto do Rally, especialistas também estão conduzindo análises na porção oeste do Paraná. Ao contrário de alguns estados, o Paraná experienciou o melhor início de safra registrado, beneficiado por chuvas nas regiões oeste e norte, propiciando um avanço favorável no plantio e no desenvolvimento inicial das plantações.

Entretanto, nas regiões sudeste e sudoeste do estado, já se verifica uma diminuição no potencial devido ao excesso de chuvas, baixa luminosidade e prevalência de doenças. A produtividade estimada pré-rally é de 60 sacas por hectare, em comparação com 66 na safra anterior.

No Rio Grande do Sul, o ritmo de semeadura ficou aquém da média devido ao excesso de chuvas e solo saturado. Em algumas regiões, o plantio ocorreu em condições de umidade elevada, resultando em irregularidades no estande. Apesar das chuvas acima da média em novembro e dezembro, as lavouras apresentam desenvolvimento satisfatório até o momento, embora com estatura reduzida e menor sistema radicular, conforme detalhado por Debastiani.

A atenção voltada para a região sul do estado é destacada pela Agroconsult, que alerta para a possibilidade de um período de estiagem nas próximas semanas. A previsão aponta para uma média de 55,5 sacas por hectare, em comparação com as 36,9 sacas do ciclo anterior.

O coordenador da expedição enfatiza a importância do trabalho de campo realizado pelo Rally, que visita todas as regiões de produção de soja no Brasil. Esse esforço torna-se essencial para avaliar os impactos das condições climáticas irregulares na safra de soja. A coleta de amostras e a medição de parâmetros como a população de plantas, número de grãos por planta, peso dos grãos e condições fitossanitárias das lavouras são fundamentais para essa análise. Este trabalho continuará até o final de março, envolvendo toda a equipe do Rally.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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