Silagem: Ponto de colheita e e garantia da qualidade

Entenda o que é, seus principais tipos, características e saiba como produzir em quantidade e qualidade para alavancar sua produção animal.

A decisão do momento ideal de iniciar a colheita do milho para silagem é sem dúvida a mais importante do processo de produção de silagem. Uma decisão errada nessa fase, pode comprometer não só o desempenho, mas como a saúde dos animais. Aqui reunimos as principais dicas para saber o ponto correto da colheita de silagem, além de entender como a planta amadurece e mais! 

Ponto de colheita de silagem: observe a linha do Leite 

Do ponto de vista prático, temos essa característica visual, observada na espiga e que indica a fase de desenvolvimento da lavoura. A recomendação do ponto de colheita de silagem é definida por esse fator associado ao teor de matéria seca da planta inteira. 

Devemos buscar a metade da linha do leite com a planta apresentando teor de matéria seca entre 32 a 35% quando for utilizado colhedoras sem processador de grãos (Cracker).  

Quando a colheita for realizada por automotriz com cracker em boas condições de trabalho, podemos colher a lavoura com a linha do leite entre ½ e ¾ com a planta apresentando teor de matéria seca entre 35 e 37%.  Essas são as condições ideias de colheita que irá proporcionar o melhor acumulo de energia na massa e apresentar ainda boas condições de fermentação do material no silo

Entendendo o ponto correto de colheita de silagem 

Para que fique claro qual é “ponto ideal de colheita de silagem” precisamos entender como a planta de milho amadurece.  

Como a planta do milho amadurece: partes da planta 

Até a florescimento, a planta de milho basicamente acumula fibra. Quando trabalhamos com nutrição de ruminantes, utilizamos o termo FDN (Fibra em Detergente Neutro) para referirmos a porção fibrosa.  

Na planta de milho, os componentes que contribuem com fibra são: o colmo, as folhas, palhas da espiga e o sabugo.  Em média, a planta de milho apresenta 60% de componentes fibrosos. Os demais 40% sãos grãos. 

Como na silagem de milho planta inteira a maior parte é composta por FDN (fibra), precisamos entender como essa fração nutricional impacta nos animais.  

Fibra é fundamental na saúde dos animais ruminantes, exercendo uma função de estímulo à mastigação (ruminação + ingestão), auxiliando na modulação do padrão de fermentação ruminal e evitando quadros de acidose.   

A fração fibra da silagem de milho também contribui como fonte de energia. Só que para haver essa contribuição energética, a fibra precisa ser digerida no rúmen.  

Por esse motivo, precisamos considerar a digestibilidade da FDN na escolha da forragem, seja silagem de milho, aveia, azevém, capim ou qualquer outra forragem. Se não digerir, não fornece energia para o animal. 

Para cada unidade de aumento na digestibilidade da fibra, resulta em aumento no consumo de matéria seca em 0,17 kg e como consequência um aumento de 250 mL de leite (Allen, 2000). Nós sabemos que as folhas é a parte da planta que apresenta maior digestibilidade de fibra. Entretanto a maior parte da fração fibrosa da planta de milho é colmo.  

Diante dessa informação, nós precisamos optar por híbridos específicos para silagem que possuem alta relação de folhas e colmos macios (menor teor de lignina), o que irá aumentar a digestibilidade da fibra da silagem como um todo. 

Como a planta do milho amadurece: acúmulo de grãos 

Após o florescimento (emissão do pendão), inicia-se a formação e enchimento dos grãos. 

Uma boa lavoura de milho, acumula em média 150 kg de grãos por hectare/dia, na fase de enchimento. O acúmulo é praticamente linear. 

Pense em uma lavoura que no momento de ensilagem, possui uma carga de 130 sacas de milho/ha. Isso representa 7800 kg de milho. Se dividirmos essa produção por 50 dias (fase de enchimento da espiga) chegaremos a exatos 156 kg de milho por hectare / dia. 

Essas duas espigas abaixo ilustram bem a situação. Elas foram colhidas na mesma lavoura, porém, com uma diferença de 25 dias uma da outra e secas naturalmente ao ar. Percebe-se facilmente a grande diferença no volume das espigas.   

Duas espigas de uma mesma lavoura, sendo que a da esquerda foi colhida 25 antes do que a espiga da direita. Fonte: Willian Santos

Em média, a antecipação em 10 dias no ponto ótimo de colheita de silagem, resulta na perda de 1500 kg de milho/ha. Não podemos permitir que isso aconteça!  

Os grãos, que compõe aproximadamente 40 % da silagem de milho, são responsáveis pela maior contribuição energética da silagem. Isso porque os grãos apresentam alta digestibilidade, ultrapassando 90%, durante sua passagem pelo trato digestivo total. 

Entretanto, para que estes níveis altos de digestibilidade sejam alcançados, precisamos nos atentar a alguns fatores. O primeiro deles é o processamento de grãos. Os grãos precisam estar quebrados em pelo menos quatro partes. Outro ponto fundamental, é que estes grãos precisam ser de baixa vitreosidade (grãos dentados).  

Na figura abaixo, temos o fracionamento da parte vítrea (baixa digestibilidade) e da parte farinácea (alta digestibilidade).  Quanto mais farináceo mais digestível! 

Grãos fracionados em parte vítrea e parte farinácea. 
Fonte: Willian Santos  

Conclusão 

O ponto ótimo de colheita de silagem deve ser tratado com muita atenção pelo responsável, sempre que possível associando a linha do leite com o teor de matéria seca da planta inteira. A colheita antecipada gera prejuízos, devido ao menor acúmulo de grãos assim como a colheita tardia prejudica a qualidade de fermentação.  

Devemos trabalhar para realizar a colheita de silagem dentro da janela ótima, e buscando alternativas para estender essa janela, como a escolha correta de híbridos específicos para produção de silagem.  

Com informações da Sementes Biomatrix

Bibliografia 
*Colaboração de Willian Santos, engenheiro agrônomo, Msc Produção Animal (UFLA) e pesquisador na ESALQ/USP. 

ALLEN, M. S. Effects of diet on short-term regulation of feed intake by lactating dairy cattle. 2000. Journal of dairy science. 83:1598-1624. 

BASTOS, M. S. Características agronômicas de híbridos de milho para produção de silagem cultivados em quatro estados brasileiros. 2019. 69 f. Dissertação (Mestrado em Produção e Nutrição de Ruminantes) – Universidade Federal de Lavras, UFLA, Lavras, 2019. 

KUNG JR., L.,  R. D. SHAVER, R. J. GRANT, AND R. J. SCHIMDT. Silage review: Interpretation of chemical microbial, and organoleptic components of silages. 2018. Journal of dairy science. 101:4020-4033. 

ZOPOLLATTO, M. Produtividade, composição morfológica e valor nutritivo de cultivares de milho (Zea mays L.) para produção de silagem sob os efeitos da maturidade. 2007. 228 f. Tese (Doutorado em Ciência Animal e Pastagens) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiros, USP, Piracicaba, 2007. 

WEISSBACH, F. The future of forage conservation. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON FORAGE QUALITY AND CONSERVATION, 2 ., 2011, São Pedro. Proceedings. Piracicaba: FEALQ, 2011. P.319-363. 

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