
O relatório acrescenta que “é crítico reportar o avanço dos compromissos de sustentabilidade assumidos, prática de apenas entre 41% a 46% das grandes empresas em todo o mundo”.
O avanço dos compromissos ambientais no cultivo de soja e na criação de gado, sobretudo no Brasil, é decisivo para o combate ao desmatamento no mundo, de acordo com o relatório “Deforestation & Conversion Free Supply Chains”, divulgado hoje (26/10) no país pelo Boston Consulting Group (BCG) e WWF.
Sete commodities agrícolas contribuíram para o desmatamento global de 123 milhões de hectares de florestas, segundo o levantamento. São elas carne (37%), óleo de palma (9%), soja (7%), cacau (2%), café (2%), borracha (2%) e madeira (1%).
Entre 2001 e 2015, o Brasil foi responsável por 48% do desmatamento global causado pela produção de carne. No país, a atividade desponta como a principal causa histórica do problema. Segundo os pesquisadores, o setor é o mais atrasado em comprometimentos ambientais e o mais incipiente na certificação da origem de seu produto em comparação com outras commodities. Já o plantio de soja no país durante o mesmo período avaliado foi responsável por 61% do desmatamento causado pela cultura no mundo.
O relatório afirma, ainda, que, para reverter o impacto de suas atividades sobre os ecossistemas, as empresas que são líderes em seus segmentos no país precisam fomentar uma mudança sustentável em seus setores. Fazem parte desses esforços a promoção da transparência e da rastreabilidade e a verificação de toda a cadeia de suprimentos.
Segundo o relatório, as companhias devem ir além do papel de “compradoras de commodities sustentáveis”, assumindo o de “promotores de sustentabilidade além de suas operações”, com ações executadas de forma colaborativa para que haja impacto relevante.
O relatório reconheceu que há boas práticas tomando essa direção e citou dois exemplos brasileiros. Em um deles, três produtores de ração para piscicultura adotaram o compromisso de comercializar produtos livres de desmatamento. A iniciativa gerou repercussão ao garantir que os fornecedores adotassem melhores práticas contra o desmatamento em todos os níveis da cadeia.
A “Moratória da Soja”, pacto ambiental assinado em 2006 por produtores de soja, ONGs e governo, foi a outra iniciativa mencionada. Com ela, lembra o estudo, assumiu-se o compromisso para impedir que haja conversão de floresta para plantio do grão na Amazônia.
O relatório acrescenta que “é crítico reportar o avanço dos compromissos de sustentabilidade assumidos, prática de apenas entre 41% a 46% das grandes empresas em todo o mundo”. Além disso, diz, é essencial que as organizações apoiem esforços para o fortalecimento da legislação ambiental e de sua execução. Também é necessário que as instituições financeiras tenham papel mais ativo na questão, afirma o estudo, para evitar o financiamento de empresas e atividades que podem estar – direta ou indiretamente – ligadas ao desmatamento.
- Polícia Civil desarticula maior quadrilha de tráfico de animais em operação no RJ
- Pelo segundo ano consecutivo, GTF conquista Selo Ouro ODS da ONU e consolida sua liderança em sustentabilidade
- Demora na concretização de medidas de apoio contra o tarifaço geram insegurança junto a exportadores de mel do Piauí
- FPA trabalha pela aprovação de medidas de combate à fraude em combustíveis
- Soja: margem de lucro do produtor cai pela metade em quatro anos, mostra estudo exclusivo da Serasa Experian
“As grandes empresas de cada setor devem trabalhar juntas, com apoio dos governos, mercado financeiro e ONGs, para assumir compromissos maiores e implementar ações cada vez mais efetivas contra o desmatamento”, avalia Jorge Hargrave, diretor do BCG e colíder da prática de Mudanças Climáticas no Brasil. “No Brasil, uma das medidas mais importantes seria a melhoria da rastreabilidade dos produtos desde a sua origem, garantindo a sustentabilidade em todas as etapas produtivas. A tecnologia de blockchain já é adotada com esse objetivo, mas ainda há grande margem para melhora”.
Em 2019, WWF e BCG lançaram a plataforma OpenSC, que usa o blockchain e outras tecnologias para rastrear alimentos e produtos. A ação ajuda pessoas e empresas a evitarem mercadorias ilegais, prejudiciais ao meio ambiente ou antiéticas.
Fonte: Valor Econômico.