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A verdade do motivo das suas pastagens durarem tão pouco

“Choveu menos esses últimos anos”, “A espécie forrageira que plantei não é boa”, “Uma infestação de ‘plantas invasoras’ e pragas destruiu as pastagens da região”

Por Fabrício Tillmann

Quem nunca ouviu ou até mesmo falou umas destas frases como justificativa para aqueles hectares de pasto que em poucos anos desapareceram, deixando só a poeira no seu lugar? Pois é, você não é o único. Essas e outras tantas frases são ditas e repetidas diariamente por produtores do país inteiro, e inclusive por alguns profissionais.

O que realmente ocorre e que poucos se atrevem a dizer ou mesmo admitir é: Manejo incorreto na hora de utilizar o pasto. Só isso!

Como ocorre o “manejo” das pastagens na natureza?

Para entendermos melhor onde estamos errando, vamos pensar em como se dá o manejo natural das pastagens pelos animais não domesticados (milhares de Gnús, Zebras, e até os Bovinos no passado, antes de serem domesticados):

Os animais percorrem centenas de quilômetros indo do sul para o norte e do norte para o sul todos os anos, sempre seguindo as chuvas para ter alimento suficiente para sobreviver e reproduzir. Por onde passam estes animais deixam sempre duas coisas: Suas pegadas e seus dejetos.

Rebanhos de gnús e zebras migrando atrás de pasto novo na África
Rebanhos de gnús e zebras migrando atrás de pasto novo na África. Imagem: Matt e Will Burrard-Lucas

Ao mesmo tempo, as plantas forrageiras que estão no caminho destes animais tem sempre o mesmo ciclo: brotam, crescem com as chuvas, são pastadas pelos animais, e depois utilizam os dejetos deixados para brotar novamente quando as próximas chuvas chegarem.

Resumindo, o que acontece: A forrageira cresce e acumula reservas nas raízes, o animal chega e se alimenta, deixa o adubo e vai embora, então a forrageira cresce novamente e acumula reservas nas raízes, e outro ciclo se repete…… por milhares de anos sem haver degradação das forrageiras.

Como ocorre o manejo das pastagens na maior parte das fazendas do Brasil?

Nas fazendas Brasileiras, em sua grande maioria, o manejo das pastagens se dá extensivamente, ou seja, os animais são colocados em grandes áreas cercadas de pasto, e estes permanecem ali por dias, semanas ou até meses, até que o gado tenha comido toda massa disponível, então é levado para outra área, e assim por diante. Na média o que tenho visto é um lote de gado ficar por pelo menos 1 a 2 meses em cada área de pasto, que varia entre 20 e 300 hectares cada, dependendo da fazenda.

Nesse caso, o que ocorre com o animal e a planta forrageira é o seguinte:

O animal ao entrar na área, come primeiro as partes mais moles, como as folhas da parte superior, depois disso, numa segunda passagem pela mesma planta uns 2 a 3 dias depois, o animal come as folhas mais abaixo, alguns talos e algumas folhas novas que começaram a surgir.

Na terceira passagem do animal por aquela mesma planta, após uns 7 a 10 dias depois de ter entrado naquela área, o animal já encontra ali as brotações mais destacadas, naturalmente ele começa a preferir se alimentar destas brotações e deixa os talos e restos de folhas velhas de lado, e isso se repete na quarta e na quinta vez que o animal passar por ali.

Após 1 mês, o animal comeu todas as brotações que a planta conseguiu lançar com as reservas que tinha em suas raízes, e só então o manejador retira o gado para colocar em uma nova área.

Gado comendo o rebrote das forrageiras após 20 dias dentro de uma mesma área
Gado comendo o rebrote das forrageiras após 20 dias dentro de uma mesma área. Foto: Fabrício Tillmann

O que fica ali são os talos de uma plantas que gastou toda energia que tinha reservada nas raízes, emitindo as brotações para se recuperar, e uma atrás da outra estas brotações foram comidas pelo animal antes de crescerem o suficiente para fazerem fotossíntese e devolver as reservas para a planta.

Nesse período em que o gado está em outras áreas, (que geralmente leva 2 a 3 meses) a planta precisa aos poucos, criar pequenas brotações, para criar pequenas reservas, para de pouco a pouco recuperar parte das reservas. Isso significa que quando o gado chegar novamente, o pasto já não terá a mesma quantidade de massa que tina na ultima entrada do gado.

Resumo: A cada entrada do gado na área, o pasto está mais fraco, e o gado mais faminto.

Com o tempo, como as plantas forrageiras não conseguem rebrotar e recobrir o solo rapidamente por causa do animal que está ali consumindo suas brotações, as sementes das plantas “invasoras” rebrotam, e aproveitam para crescer, já que os animais não costumam comê-las. Algumas dessas plantas, ou inços como devemos chamar, possuem em suas raízes células que produzem fitotoxinas que inibem o crescimento das raízes de plantas de outras espécies, inclusive as nossas forrageiras, o famoso efeito alelopático.

Pasto degradado infestado por inços causadores de efeito alelopático sobre as forrageiras
Pasto degradado infestado por inços causadores de efeito alelopático sobre as forrageiras. Foto: Fabrício Tillmann

Aí, vendo o inço crescer e a pastagem ficar cada vez mais fraca, o que o produtor faz, geralmente sob recomendação do técnico ou representante comercial que lhe acompanha? Aplica herbicida! Aí está um grande problema que a gente não consegue ver: Apesar do inço morrer com o herbicida, a planta forrageira, por mais tolerante que seja, também sofre efeitos colaterais do herbicida, o que faz com que ela cresça mais fraca ainda depois. Este efeito do herbicida é provado em muitos trabalhos científicos, inclusive um trabalho meu!

Outras medidas vão sendo tomadas ao longo dos anos de vida daquela pastagem, cada vez a medida é um pouco mais desesperada: Diminui o tamanho do lote de animais, deixa metade do tempo (15 dias), diminui mais ainda o lote, aplica adubos e corretivos caros já na última esperança, e depois, sem sucesso na tentativa de recuperar, acaba tendo que formar novamente o pasto, gastando horas de trator, e rios de dinheiro com corretivos, adubos e sementes, tudo para começar um novo ciclo.

“Mas tenho piquetes menores (de 5 a 20 hectares) e o gado fica no máximo 15 dias lá, por que minhas pastagens também degradam em poucos anos?

Pelo mesmo motivo: O gado fica tempo suficiente para comer os rebrotes das plantas forrageiras! Depois de 3 dias que o animal comeu a planta, e o sol bateu no chão, ela naturalmente começa a rebrotar, independente do animal estar ali ou não. Não importa se seu pasto é piqueteado e rotacionado, se o gado fica no pasto por mais de 5 dias em um piquete, seu manejo continua sento extensivo, ou seja, é um extensivo rotacionado!

Aí entramos naquele dilema: se eu tirar o gado com 3 dias no piquete, ainda tem muita forragem disponível que vai ser desperdiçada, e se eu deixar mais tempo o gado no pasto, ele vai comer as reservas da planta e logo o pasto vai se degradando aos poucos.

Piquetes manejados racionalmente, à esquerda um piquete que o gado acabou de entrar, e à direita o piquete que acabou de deixar.
Piquetes manejados racionalmente, à esquerda um piquete que o gado acabou de entrar, e à direita o piquete que acabou de deixar.

Mas então o que fazer para não desperdiçar pasto e nem deixar que ele se degrade?

Simples: Maneje racionalmente os seus pastos dividindo os piquetes em áreas suficientes para que o gado coma toda massa de forragem disponível em no máximo 3 dias e deixe suas fezes ali para adubar, e em um número de piquetes e lotes de animais que permitam cada piquete descansar tempo mínimo necessário para crescer com as reservas, fazer fotossíntese e guardar novas reservas para o próximo ciclo. Além do pasto durar para sempre, a planta vai estar sempre no seu melhor ponto de qualidade e no seu maior ponto de produção de massa, ou seja, o animal também ganha mais peso!

E os inços? Bom, se a planta forrageira cresce rapidamente e cobre o solo, os inços não tem tempo de crescerem, pois eles são muito mais lentos que a planta forrageira quando o animal não está comendo os rebrotes dela!

Você acha que o investimento pra dividir uma área em dezenas de piquetes é caro? calcule quanto custa para reformar 1 hectare de pasto que vai durar só alguns anos, gastando com herbicidas, adubo e corretivos, e produzindo cada ano menos. Depois, pegue esse mesmo valor e divida por tempo indeterminado que uma pastagem manejada racionalmente dura, produzindo em quantidade e qualidade pro resto da sua vida.

Se você quer saber mais sobre essa técnica, desenvolvida na década de 50 por André Voisin na França, trazida para o Brasil na década de 60 por Nilo Romero, e que cresce e se destaca a cada ano pelos resultados de produtividade e rentabilidade, entre em contato com quem pode te guiar para o sucesso da sua atividade pecuária.

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