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Bem-estar animal: o mercado deve pagar por isso?

O consumidor está dando sinais que se preocupa com um tema ou com mais de um, devemos agir de forma correta e inteligente para mantê-lo conosco.

Por Sávio Santiago

O momento do mercado mundial de leite é desafiador: propriedades ganhando em tecnologia, aumentando sua produtividade, mas, em contrapartida, o consumo segue desalinhado e marcando quedas constantes.

A realidade da redução de consumo atinge praticamente todos os países relevantes na produção de leite. O mais preocupante é que não é uma variável totalmente vinculada a problemas de ordem econômica.

Os EUA, por exemplo, vêm mantendo, na última década, uma realidade econômica mais estável que a brasileira, com crescimento efetivo, mais geração de empregos e renda, além do histórico de ser um país desenvolvido com democracia consolidada há mais tempo, alta produtividade industrial e agrícola.

Contudo, de acordo com o DFA (Dairy Farms of America), as vendas de leite no país caíram mais de US$ 1,1 bilhão no ano passado. Uma realidade contrastante com um cenário de pleno consumo e renda.

O dado também contrasta com os índices de consumo de carnes. Embora tenha havido uma troca importante da carne bovina pela carne de frango, o consumo total – incluindo a carne suína – teve recuperação em 2018.

Segundo especialistas, a redução do consumo de carne bovina tem maior vínculo econômico. Quando comparado ao preço da carne de frango, a carne bovina é mais cara. Mas, na conta total da redução, não se exclui como causa a parcial substituição por alimentos à base de plantas.

Parece uma hipocrisia aumentar o consumo de frangos em detrimento do da carne bovina, uma vez que é conhecidamente mais complexo garantir uma rotina respeitosa de bem-estar animal em uma granja avícola. Mas o fato é que a redução pode ter acontecido pela soma de vários fatores e que os produtos de origem vegetal estão se consolidando como um novo entrante substitutivo.

As alternativas vegetais não lácteas tiveram mercado de US$ 11,9 bilhões nos EUA em 2017 e estima-se que terá crescimento aproximado de 25% ao ano até 2025.

A discussão sobre bem-estar animal nos EUA tem atingindo com muita força especificamente a pecuária de leite. Ativistas buscam polemizar, deturpando práticas comuns em fazendas e têm conseguido êxito no público “não radical”.

Historicamente, os EUA são nosso direcionador de tendências sócioeconômicas. Não por acaso temos hábitos de consumo, preferência por marcas, tecnologias, músicas e entretenimento tão vinculados à eles. São o nosso norte direcionador do futuro, algumas vezes mais distante e em outras mais próximo.

Portanto, o que acontece lá provavelmente vai acontecer aqui e já estamos com fortes sinais dessa nova realidade na pecuária de leite.

As novas gerações se caracterizam pela preocupação com o modo como as coisas são produzidas e são os maiores consumidores ativos da atualidade. Questionamentos ambientais, sociais e relativos ao bem-estar animal motivam pessoas que têm desconhecimento dos processos produtivos a migrar silenciosamente seus hábitos de consumo para produtos que “seriam” mais adequados aos seus valores.

Voltando especificamente para o bem-estar, podemos dizer que estamos diante da “geração pet shop”. Nas últimas duas décadas o mercado pet quadruplicou de tamanho em todo o mundo. O amor por animais fez com que as pessoas ficassem mais sensíveis a possíveis maus-tratos ou procedimentos que causam dor e sofrimento.

Estrategicamente, não seria inteligente ao setor lácteo brasileiro esperar as coisas se agravarem, como ocorreu nos EUA, nem mesmo entrar em rota de colisão argumentativa com ativistas ou consumidores como normalmente fazemos.

É preciso olharmos para dentro, melhorar processos, garantir de fato que nossos animais estão sob um sistema que os respeita e propicia bem-estar por toda a sua vida para, depois disso, comunicar positivamente ao mercado o que conseguimos.

Como sempre, essas questões trazem questionamentos sobre remuneração:

“Ah, mas vou receber por isso?”

A resposta é que é possível, em um primeiro momento, que o mercado precifique selos de “garantia de bem-estar animal” em produtos, mas que não devemos pensar nisso. Devemos pensar em garantir a sobrevivência do setor frente a redução drástica de consumo que pode vir a ocorrer nos próximos 10 anos.

O produtor é o ator principal da cadeia, mas quem paga a conta é o consumidor. Se ele está dando sinais que se preocupa com um tema ou com mais de um, devemos agir de forma correta e inteligente para mantê-lo conosco.

Existem hoje certificadores de bem-estar animal no Brasil e fora do país com atuação na América Latina. Eles aplicam check lists completos que analisam perfeitamente o dia a dia dos animais, identificando onde podem estar os pontos críticos para a manutenção de suas vidas produtivas e respeitando as suas liberdades fundamentais.

Atuamos com força nessa frente a três anos. Temos uma certificação nacional que é pré-requisito de fornecimento de leite e estamos implantando uma certificação de bem-estar internacional mais abrangente e focada em pontos mais específicos. Acreditamos que esse valor deve ser respeitado e que a nossa operação não teria sentido se ignorássemos possíveis desvios.  

A mudança de cultura é necessária e precisamos dela para podermos falar bem de nós mesmos para a sociedade.

Fonte: Milk Point

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