A China é o nosso maior consumidor internacional. Em outubro, o país foi destino de 68,1% de toda carne bovina in natura exportada.
Estamos vivendo um 2022 marcado por volumes expressivos na exportação de carne bovina. De janeiro a outubro, o faturamento com a exportação de carne bovina in natura foi de US$10,3 bilhões, participação de 3,7% no faturamento total das exportações brasileiras. Esse é o maior faturamento da história do setor.
Em outubro/22, 188 mil toneladas de carne bovina foram embarcadas, com média diária de cerca de 10 mil toneladas, crescimento de 141,5% em relação ao volume embarcado em outubro/21.
O faturamento médio diário foi 173,5% maior que outubro/21, alcançando a marca de US$1,1 bilhão de dólares.
O peso do mercado chinês
A China é o nosso maior consumidor internacional. Em outubro, o país foi destino de 68,1% de toda carne bovina in natura exportada.
É inegável o peso desse mercado para o Brasil. No entanto, os últimos meses foram marcados por uma maior pressão sobre o mercado do boi gordo (figura 1) e nas negociações com a carne bovina (figura 2).
Figura 1.
Evolução da cotação média mensal boi gordo, na região de Barretos-SP, em R$/@, de janeiro a outubro de 2022.
Figura 2.
Volume de carne in natura exportada, em mil toneladas (eixo da esquerda), e preço pago pela tonelada, em dólares, pela China (eixo da direita), de janeiro a outubro de 2022.
Com os recentes impasses econômicos vividos pelo país asiático, ele tem sido mais firme nas negociações, pressionando o preço da tonelada.
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Passado o feriado do Dia Nacional da China e com o estreitamento da janela de embarques para o abastecimento do Ano Novo chinês, na primeira semana de outubro, vimos uma desaceleração nos negócios.
Tudo leva a crer que os estoques de carne na China estejam confortáveis e que o volume importado nesse final de ano possa ser menor.
Impactos na indústria
Apesar da exportação estar nos melhores patamares, a oferta mais confortável de bovinos neste ano, atrelada a um consumo doméstico enfraquecido, tem pressionado o mercado do boi.
Esse cenário se intensificou com o recente distanciamento do mercado chinês, movimento que tirou o ímpeto comprador das indústrias, que têm trabalhado com ajustes de escalas e redução nos abates.
Segundo levantamento realizado pela Scot Consultoria, na praça paulista, a ociosidade frigorífica, que vinha trabalhando em aproximadamente 10% desde junho deste ano, aumentou, atingindo 25% em outubro
A oferta não diminuiu, mas, com a China mais dura nos negócios, principalmente com relação a preços, a indústria frigorífica buscou ajustar seus estoques, uma vez que o mercado doméstico ainda não está sendo capaz de absorver essa carne “excedente”.
A queda da cotação não tem sido repassada com a mesma intensidade ao consumidor final. Após ver suas margens reduzidas nos últimos anos (sequelas da pandemia da covid-19), o varejo tem buscado recuperar sua margem de comercialização, mantendo preços firmes e realizando promoções pontuais como estratégia para reduzir os estoques.
Seria a exportação a vilã?
Durante os debates entre os candidatos à presidência, a exportação da carne brasileira foi apontada como pivô dos altos preços da proteína no mercado nacional.
Como estratégia para aumentar a oferta no mercado interno, visando reduzir os preços e aumentar a acessibilidade ao produto, foram levantadas questões como a taxação ou redução da exportação dessa mercadoria.
Essa ação seria eficaz?
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o volume de carne destinado à exportação corresponde, atualmente, a apenas 30% do que é produzido internamente, sendo infundada a teoria de que “falta carne” no mercado interno.
O rebanho bovino e a atividade pecuária brasileira estão crescendo. É natural que a exportação acompanhe o ritmo. O que houve, na realidade, foi a redução do poder aquisitivo da população, em função de fatores macroeconômicos, que têm dificultado o escoamento da carne no mercado interno.
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o consumo de carne bovina deve cair ao menor nível dos últimos 26 anos. De acordo com o levantamento realizado pela Scot Consultoria, o consumo doméstico anual, em 2022, é de aproximadamente 24,3 quilos de carne bovina (disponibilidade interna) por habitante.
Portanto, mesmo que, hipoteticamente, aumentássemos a disponibilidade de carne no mercado interno e que, em um primeiro momento, os preços caíssem devido ao incremento na oferta, no cenário atual, o consumidor doméstico seria incapaz de absorver essa carne excedente.
Além disso, os resultados em longo prazo seriam justamente o oposto. Pensando no funcionamento do ciclo pecuário e do mercado, regido pela oferta e demanda de bovinos, com a maior oferta de carne, a cotação tenderia a cair, desestimulando a atividade. Essa redução na oferta de bovinos acarretaria, em longo prazo, em novo aumento nos preços, talvez de forma ainda mais acentuada e desta vez perene.
A exportação tem papel essencial no fluxo e regulação do mercado. Limitar essa atividade não iria alterar o comportamento do mercado doméstico e poderia desestimular a produção nacional, além de impactar em questões político-econômicas, prejudicando nossos laços comerciais internacionais.
O consumo doméstico só aumenta por um fator: renda!
Portanto, insistir em interferir no mercado artificialmente não é a solução e pode levar à desestabilização da cadeia produtiva, gerando consequências opostas ao pretendido.
Expectativas
O bom desempenho da exportação tem auxiliado em um momento de baixo consumo interno.
No entanto, como apontado, a China tem reduzido o preço pago pela tonelada da carne bovina e deverá importar volumes menores em 2023 (USDA). Contudo, o patamar de compras, mesmo sofrendo redução, deve seguir historicamente alto, após três anos de aumentos consecutivos das compras no mercado internacional, mantendo a expectativa positiva para o Brasil.
Com relação ao consumo doméstico, a estratégia correta é investir no crescimento econômico do país e na recuperação do poder de compra do consumidor brasileiro.
O atual cenário macroeconômico é positivo, com baixos índices de desemprego, o recebimento dos salários e as expectativas de redução da inflação e de crescimento no PIB brasileiro. Espera-se uma reação positiva no consumo interno. Além disso, não podemos deixar de citar as festividades de final de ano, incluindo a Copa do Mundo, que tendem a melhorar o consumo doméstico.
Fonte: Scot Consultoria
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