Emenda parlamentar financiará ‘carne de alga’

Se nada mudar na atual previsão orçamentária, a verba de uma dessas emendas deve permitir o avanço de um projeto de uso de algas para a produção de alimentos.

A corrida pelo desenvolvimento de proteínas de base vegetal, que tem atraído as maiores empresas de alimentos do mundo e movimentado cifras multimilionárias em pesquisa, chegou também às emendas parlamentares no Congresso Nacional. Se nada mudar na atual previsão orçamentária, a verba de uma dessas emendas deve permitir o avanço de um projeto de uso de algas para a produção de alimentos que imitam o gosto e a textura das carnes de animais.

A professora Ana Lúcia Vendramini, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a responsável pelo projeto, que prevê o cultivo da alga Kappaphycus alvarezii em Paraty, no litoral sul fluminense. A pesquisa vai avaliar o potencial da alga como matéria-prima para a fabricação de proteínas de origem vegetal – a espécie já é conhecida por seu uso na produção de aditivos alimentícios. Os pesquisadores também vão aprofundar seus estudos sobre a utilização da Kappaphycus alvarezii, rica em potássio, para outros fins na área agrícola, como a produção de fertilizantes. 

O projeto conseguiu R$ 530 mil via emenda apresentada pelo deputado Paulo Ganime (Novo-RJ). Segundo o parlamentar, seu gabinete lança anualmente um edital para que instituições públicas e privadas inscrevam projetos inovadores. A partir das inscrições, há uma seleção de projetos que entrarão nas propostas de emendas. 

A iniciativa encabeçada pela professora Ana Lúcia Vendramini foi uma das 30 escolhidas na seletiva, que envolveu também o deputado Alexandre Freitas (Novo-RJ). Na lista, há projetos de 18 diferentes instituições, de áreas como saúde, educação, tecnologia e segurança. Ao todo, as emendas somam R$ 16,2 milhões. “Se o projeto das algas der certo, há chances de ser contemplado também no próximo edital”, disse Ganime ao Valor. “Seja como for, ele tem potencial de estabelecer parcerias também com o setor privado”.

A liberação dos recursos é aguardada para o segundo semestre. “Com esse financiamento vai ser possível concluir a primeira fase do projeto”, afirma a professora. A primeira etapa inclui a instalação da fazenda marinha e capacitação de pessoal. 

Segundo a pesquisadora, os produtores da região de Paraty foram em busca de mais informações ao detectarem o potencial de mercado. A exploração de algas na área tem aval do Ibama desde 2008. “A demanda veio de fora da universidade. Há cerca de dez anos, algumas pessoas começaram a produzir algas, e esses produtores forneciam amostras para nosso trabalho no laboratório”, conta ela.

O projeto, que conta com o apoio da UFRJ e outros institutos de pesquisa, será dividido em três etapas, com custo total calculado em R$ 5 milhões. Em razão da pandemia de covid-19, o curso de capacitação para os novos produtores, previsto para a primeira etapa, será conduzido de forma online. Depois, a parte experimental ocorrerá a Baía da Ilha Grande (RJ). 

Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas da organização The Good Food Institute Brasil, celebrou a escolha do projeto. Segundo ele, apoiar o desenvolvimento do mercado de proteínas alternativas permite que o país seja protagonista em um “sistema global de alimentação mais sustentável”, afirmou, em nota.

A aprovação de emenda parlamentar para financiar pesquisa sobre proteínas de origem vegetal é mais uma evidência do avanço do segmento. E, para além da pesquisa acadêmica, também multiplicam-se os esforços entre as grandes empresas de alimentos. Em abril deste ano, a JBS comprou, por € 341 milhões de euros, a fabricante europeia de produtos à base de plantas Vivara. No Brasil, a JBS, maior processadora de carne bovina do mundo, já trabalha com proteínas vegetais por meio da linha Incrível, da Seara. 

A Marfrig criou uma joint venture com a ADM, uma das maiores empresas de agronegócios do mundo, para produzir hambúrguer, nuggets e salsichas que simulam o gosto de carne. A Minerva, por sua vez, celebrou recentemente um memorando de entendimento com a Amyris, de biotecnologia, que prevê união de esforços nessa frente. 

Os investimentos da BRF em proteínas alternativas incluem tanto a chamada carne de laboratório (produzida a partir de uma única célula dos animais) quanto as de origem vegetal (com o desenvolvimento de um hambúrguer feito a partir de feijão fradinho). E a startup de alimentos Fazenda Futuro, que tem ampliado seu portfólio plant-based, já exporta para mais de 20 países. 

Fonte: Valor Econômico.

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