Experimento: como o clima de 2100 vai impactar a agricultura?

O estudo descobriu que as plantas continuarão a crescer em 2100, independente do aumento do gás carbônico na atmosfera e da elevação da temperatura média.

Até os mais céticos sabem que a vida no planeta Terra será outra no ano de 2100, em maior parte, por causa das mudanças climáticas. Neste cenário, a agricultura, uma das atividades econômicas mais básicas e fundamentais, poderá ser drasticamente afetada. Para entender esses riscos, uma equipe internacional de cientistas criou uma estufa que simula as possíveis condições atmosféricas do planeta daqui a menos de 80 anos.

Publicado na revista científica Environmental and Experimental Botany, o estudo descobriu que as plantas continuarão a crescer em 2100, independente do aumento do gás carbônico na atmosfera e da elevação da temperatura média. No entanto, a sobrevivência terá um preço: mudanças morfológicas, capazes de alterar a produtividade das colheitas.

Estudo descobre como as condições atmosférias de 2100 vão afetar a agricultura no Brasil (Imagem: Bilanol/Envato)

Aqui, vale lembrar que, hoje, já é possível dizer que as mudanças climáticas estão em andamento. O mundo está mais quente, a quantidade de gases poluentes emitidos continua alta — em especial, por causa da queima de combustíveis fósseis — e alguns especialistas falam sobre o estabelecimento da Era da Ebulição, substituindo o período recente do aquecimento global.

Estufa prevê o clima e atmosfera do planeta em 2100

O estudo que recria as condições climáticas de 2100 em uma estufa foi liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo os autores, os dois principais pontos de mudança serão a concentração de gás carbônico na atmosfera e a mudança de temperatura (até 3 ºC mais altas que as atuais).

Para isso, a equipe desenvolveu estruturas de acrílico com mais de 2 metros de altura. Na câmara, os pesquisadores injetavam a quantidade estimada de CO2 para o ano de 2100 e mantiveram o espaço aquecido. Esses parâmetros foram monitorados 24 horas por dia, enquanto observavam o crescimento de girassóis.

Estudo testa os efeitos das mudanças climáticas no cultivo de girassóis (Imagem: Designecologist/Pexels)

Sim, a planta escolhida para os primeiros testes com a estufa foi o girassol. Em primeiro lugar, é um vegetal de cultivo importante economicamente para o Brasil, já está associado com a produção de óleos alimentícios e biodiesel. Em outra frente, a escolha se baseia no processo da fotossíntese do girassol, que é similar aos do feijão e da soja.

Como as mudanças climáticas vão afetar a agricultura?

Em um primeiro momento, o excesso de gás carbônico e o aumento da temperatura podem parecer positivos para esta cultura, desde que se mantenha a irrigação. “O CO2 e o aumento da temperatura foram capazes de melhorar a fotossíntese, mas os efeitos positivos da melhora da fisiologia não foram suficientes para aumentar o crescimento e a produtividade do girassol”, afirmam os autores.

Na verdade, os desdobramentos foram negativos. As futuras condições climáticas de 2100 “afetaram a pigmentação [a coloração] das pétalas e a qualidade do pólen”, comenta a equipe. Em paralelo, causaram “a redução na produção de sementes”, o que traz impactos negativos “na ecologia, na diversidade genética e na economia agrícola”.

Mudanças climáticas afetam a qualidade do pólen e quantidade de sementes produzidas pelas plantas (Imagem: Dmitry Grigoriev/Unsplash)

“Os estudos que simulam as condições ambientais do futuro são fundamentais para desenvolvermos estratégias de preservação que garantam a segurança alimentar, nossa sobrevivência e a das demais espécies”, explica Renata Maia, pesquisadora da UFMG e primeira autora do artigo, em nota. “É uma visão valiosa de como os ecossistemas vão responder às mudanças climáticas e do que vamos enfrentar caso não tomemos medidas drásticas”, completa.

Cabe observar que, além de pesquisadores da UFMG, o estudo contou com a participação de cientistas da Universidade Federal de Viçosa (UFV), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e da Memorial University of Newfoundland (MUN), no Canadá.

Fonte: Canaltech

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