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Leite: O que esperar do mercado para fim de 2021 e início de 2022?

O primeiro painel do Fórum contou com três importantes palestras, que trouxeram um panorama sobre economia, grãos e o mercado de lácteos.

Entender o cenário macro da economia, as tendências dos mercados de milho e soja – insumos mais representativos no custo de produção do leite – e como estes dois elementos ser encaixam no cenário do mercado de leite e derivados é fundamental para projetar e tomar decisões assertivas.

Por isso, o primeiro painel do Fórum MilkPoint Mercado, que ocorreu ontem (21), contou com três importantes palestras, que trouxeram um panorama sobre economia, grãos e o mercado de lácteos.

Gabriel Santin, economista do Rabobank, trouxe os principais fatores relacionados à pandemia de Covid-19 e que têm influenciado a economia brasileira. “Estamos migrando para um cenário mais estável, de endemia. Apesar da variante delta ser a principal responsável pelas medidas restritivas, o impacto ainda é pequeno e espera-se que o cenário seja menos drástico”. O economista comentou ainda que o avanço da campanha de vacinação tem colaborado para diminuir as restrições e movimentar os serviços.

Contudo, apesar da visível melhora em termos da pandemia, a dívida pública do país é motivo de preocupação. Segundo Santin, os gastos do governo já vinham próximos ao teto antes da pandemia e, com o coronavírus, a questão fiscal se agravou. A tendência, de acordo com o especialista, é de estabilidade apenas em meados desta década. Diante do risco trazido pela fragilidade da situação fiscal do Brasil, bem como pela incerteza política, a moeda segue subvalorizada. “Nossa previsão é que o Real feche em R$5,20 neste ano e de R$5,30 para 2022”.

Outro ponto de atenção é a inflação altíssima no país; espera-se o pico anual nos próximos meses, atingindo 10%. As projeções são de 8,1% (checar estes dados na apresentação do Gabriel) para o acumulado de 2021 e 3,7% em 2022.

Apesar da moeda desvalorizada e da alta inflação, o Brasil se recuperou rapidamente em termos de atividade, podendo ser considerada uma recuperação em “V”, puxada principalmente pelos setores de investimento e pelo agronegócio. Contudo, não se espera grande crescimento na economia, que deve ser bem mais lento do que o observado no início do século.

Ainda, alguns fatores, como mutações no vírus e possível surgimento de variantes, ameaçam a economia e trazem incertezas. Além disso, as condições climáticas adversas (frio e seca) tiveram grande impacto nas lavouras, encarecendo os alimentos. A falta de chuvas vem também ameaçando a geração de energia e o abastecimento de água, podendo aumentar os custos de produção, além dos riscos de apagões e racionamentos para a população.

clima adverso certamente tem sido um determinante para a produção e preço dos grãos, em especial o milho e a soja, tão importantes para a pecuária leiteira. As condições adversas devem continuar ameaçando a produção até o fim deste ano e no ano que vem, segundo Paulo Molinari, analista do Safras & Mercado. “As chuvas vão precisar ser abundantes para recuperarmos a produção e não termos outra quebra de safra”, disse.

Outros fatores que influenciam o mercado de grãos, segundo o especialista, são as elevadas taxas de juros no Estados Unidos e a incerteza gerada pelas eleições no Brasil no próximo ano. Além disso, o clima em toda a América do Sul é um determinante, assim como a movimentação da China, cujas compras de milho e soja são fundamentais para sustentar o mercado externo.

Pensando especificamente no Brasil, a expectativa do analista é que tenhamos boas safras, se não houver eventos climáticos adversos, e que os preços se estabilizem no futuro. Para a soja, espera-se acomodação dos preços a partir de fevereiro de 2022 e, para o milho, apenas em junho.

Molinari, contudo, enfatizou que os preços devem se estabilizar, mas não há expectativa de retorno aos patamares de 2019. Além disso, ainda deixou uma dica: “Meu conselho é que comprem e estoquem milho nos armazéns por agora, este é o melhor momento, pois o valor está mais baixo no mercado interno”. O especialista afirmou ainda que não há expectativa de importação de grãos de outros países, pois os valores estão bem mais caros, mesmo com a retirada dos impostos.

Falando especificamente sobre o mercado lácteo, Valter Galan, sócio e analista do MilkPoint Mercado, iniciou sua apresentação discutindo como a demanda vem sendo um dos complicadores da atual situação de mercado. “A demanda bastante fraca se deve a dois pontos principais: preços muito altos dos produtos aos consumidores e a economia ruim”. Somado a isso, ainda apontou a ausência do corona voucher que anteriormente “injetou dinheiro diretamente nas veias do consumo” e influenciou o consumo. Há um outro aspecto relevante que é a retomada da atividade em vários setores (shoppings, restaurantes, viagens) que passaram a competir com o consumo básico de itens como alimentos, que tanto favoreceu o setor lácteo em 2021.

No elo produtivo da cadeia, os preços ao produtor seguem altos, mas longe de refletirem uma boa rentabilidade, como a observada no fim do ano passado. A tendência, segundo Galan, é de redução no preço ao produtor nos próximos meses, diminuindo ainda mais as margens. “Comparando os últimos cinco anos, o RMCR [Receita Menos Custo com Ração] de 2021 só não foi pior do que o observado em 2018. Estamos vindo de três anos com baixas consecutivas”. Essa provável redução tem como razão principal a elevação da oferta sazonal de leite no último trimestre, ainda que o produtor esteja desestimulado. Além disso, a indústria apresenta margens muito ruins e não tem fôlego de segurar eventuais quedas no varejo e atacado. Assim, as margens nas fazendas também devem seguir apertadas, situação agravada pelos preços de milho e soja ainda altos. 

A menor rentabilidade aliada a uma relação de troca ruim do leite com a arroba de boi tem desestimulado a produção e incentivado o abate de animais. A diminuição da produção vem ocorrendo principalmente entre os pequenos produtores e o abandono da atividade também vem crescendo. Ainda do lado da oferta, nesse ponto ajudando, temos importações menores que o ano anterior. “O momento é negativo para os dois lados: pouco leite e pouca demanda”, relatou o especialista.

Assim como os produtores, as indústrias vêm muito pressionadas, com margens apertadas e até negativas em alguns casos. Nos últimos cinco anos e principalmente neste, os produtos que mais “sofreram” foram o leite UHT, a muçarela e o leite em pó – de forma geral, as indústrias amargam suas piores margens nos últimos 5 anos.

Com pouco estímulo, a expectativa é que a produção caia em 2021, ficando cerca de 1% abaixo do ano anterior, sendo que no quarto trimestre a queda deve ser maior em comparação ao ano anterior. Os preços internacionais devem seguir em alta e as importações menos competitivas. Mesmo com a produção dos países do Mercosul crescendo, a disponibilidade ainda é baixa e já está comprometida com vendas para outros destinos que não o Brasil.

Um fator que poderia alterar este cenário seria a recuperação da demanda, por meio de reação da economia ou ajuda governamental. Isto, aliada a baixa disponibilidade de leite traria uma estabilidade no mercado, porém Galan aponta baixa probabilidade para este cenário.

Para 2022, espera-se um crescimento moderado da economia e valores de milho e soja um pouco melhores, como também sinalizaram Santin e Molinari, respectivamente. Contudo, para a produção, o ano deve iniciar refletindo o final de 2021, com menor rentabilidade, produção desmotivada e disponibilidade menor.

Ao mesmo tempo, espera-se um desequilíbrio entre oferta & demanda, com condições bem piores de oferta no início do próximo ano. Assim, pode-se esperar por uma curva de preços de leite mais próxima do “normal histórico”, com aumento de preços a partir de março/abril em função da entrada mais forte da entressafra. As importações tendem a começar 2022 pouco competitivas e sua competitividade cresce a medida em que sobem os preços aqui no mercado brasileiro.

Uma possível atuação da indústria promovendo a sustentação de preços (como tem sido visto) pode alterar este cenário, bem como crescimento da demanda com possíveis intervenções do governo (aumento do bolsa família), visto que 2022 é um ano de eleições. 

Fonte: Milk Point

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