Sem demanda interna e boi caro, a ociosidade cresceu e plantas mais dependentes do consumo doméstico estão parando. Marfrig foi as compras?
Mesmo com a operação dos Estados Unidos gerando caixa e as exportações para a China bem posicionadas, com auxílio do dólar, não espere que a Marfrig saia às compras neste momento em que o parque frigorífico nacional deve passar a contar com empresas deficitárias à beira da quebradeira.
Parte das perguntas que os investidores fazem a Eduardo Puzziello, diretor de Relações com Investidores, sobre a “alocação [futura] de capital” do grupo, está ligada às expectativas que todo o mercado está depositando sobre todos os players. Sem demanda interna e boi caro, a ociosidade cresceu e plantas mais dependentes do consumo doméstico estão parando.
A resposta é não, apesar de que ele concorde com a situação crítica dos frigoríficos de menor porte. “Muitos vão sair do mercado e não voltarão ou voltam menores ainda”.
A prioridade da Marfrig é abaixar cada vez mais a relação alavancagem, “já nos mais baixos níveis históricos. A dívida líquida é de 1.6 vezes o Ebitda”.
O mercado já viu uma fração desse movimento acontecer em janeiro, um mês depois de o ex-executivo da Athena Food no Chile assumir o RI. A Marfrig retirou dois bonds de US$ 1,750 bilhão, pagando 7%, e lançou outro de US$ 1,5 bilhão por 10 anos, por 3,95%. Os US$ 250 milhões de diferença foram cobertos com caixa próprio.
“Vamos ter uma economia de US$ 60 milhões ao ano por quatro anos”, diz, em referência ao prazo de vigência das duas dívidas que foram compradas.
Arrendamentos também não estão nos planos num primeiro momento. Mesmo porque é conhecida da pecuária nacional a corrida para esse tipo de negócio em 2014 e 2015, ainda longe da explosão da demanda chinesa, e as companhias tiveram que sair devolvendo as unidades arrendadas. E a JBS (JBSS3) foi a líder nessa ponta, seguido da Marfrig.
Mas é difícil para os investidores não observarem as oportunidades que vão surgindo?
À indagação, especialmente quando o mercado enxerga a Marfrig como uma “empresa americana listada [com ações em bolsa] no Brasil” – 72% da receita líquida e 80% do Ebitda foram “americanos” em 2020 -, o executivo é taxativo.
Das 11 indústrias no Brasil, duas estão paradas, e a geração de negócios para a China e outros mercados compradores já é atendida suficientemente, além do que elas oferecem de oferta para o Brasil.
Ainda se estivessem frigoríficos candidatos com habilitação para exportação aos chineses e ao EUA, vá lá. Mas isso acaba sendo raridade, apesar de esses também estão sofrendo com a conjuntura atual da pecuária bovina brasileira.
“Então, pensar num ativo que esteja na mesa e que necessite de recursos em sustentabilidade e questões trabalhistas [além de autorizações para exportação], fica difícil”, afirma Eduardo Puzziello.
O ROI (retorno sobre investimento) ficaria muito alongado e quebraria a qualidade da gestão de passivo que a empresa quer perseguir.
As operações no exterior atualmente também estão ajustadas à demanda. As quatro plantas do Uruguai e uma (das duas) argentina também atendem os Estados Unidos, além de três do Brasil.
Dito isto, na conta de chegar da Marfrig só cabe os “pequenos movimentos” atuais de uso do capital.
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Os US$ 100 milhões que serão empegados nos próximos tempos no Paraguai, com a parceria firmada com produtores locais que garantirão matéria-prima de qualidade para o mercado externo, anunciada em 2020, e o upgrade na planta de hambúrgueres de Várzea Grande.
Além da mais recente decisão, de mais que dobrar a capacidade de abate da filial de Iowa, nos EUA, de 1,1 mil bois/dia para 2,5 mil, que consumirá US$ 100 milhões até final de 2022.
Com informações do Money Times