Meganavio encalhado em canal trava logística mundial

Já são mais de 321 navios parados esperando para atravessar o Canal de Suez; entenda como isso pode afetar os preços aqui no Brasil

Um grande navio de carga encalhou na última terça-feira (24) no Canal de Suez, no Egito, depois de ter sido atingido por uma rajada de vento, e causou um grande congestionamento naval no canal, uma das passagens mais importantes para o comércio mundial. O navio chama-se Ever Given, pesa 220 mil toneladas e tem 400 metros de comprimento e, por essas dimensões, é considerado um meganavio.

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Todos estes pontos são navios atracados / Fonte: Maxar Technologies

O satélite WorldView-3 coletou imagens de alta resolução neste sábado, 27 de março de 2021, do Canal de Suez e esforços que estão em andamento para libertar o navio porta-contêineres Ever Given. Esta nova imagem fornece uma visão detalhada das operações de dragagem que continuam perto do navio, bem como equipamentos de movimentação de terra que escavam areia perto da proa do navio. Além disso, o satélite WorldView-2 da Maxar coletou uma grande área ao longo do canal e do Golfo de Suez nesta manhã, revelando que mais de 120 navios estão ancorados ao sul da entrada do canal e permanecem incapazes de transitar devido ao navio encalhado.

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Foto: Reprodução

O problema pode ter repercussões no Brasil, como frete mais caro, aumento no preço maior da gasolina e até atraso no fornecimento de peças vindas da Ásia para a indústria brasileira. Encalhado desde terça-feira (23), o navio impede a circulação pelo canal responsável por mais de 10% de todo o comércio internacional e cria um nó logístico mundial.

O tamanho e a duração desses efeitos dependem de quanto tempo a embarcação operada pela empresa Evergreen continuará trancando a passagem. Dragas estão sendo utilizadas para desatolar o navio cargueiro, que tem 400 metros de comprimento, mas o processo pode durar dias ou até semanas.

Fonte: Maxar Technologies

O efeito principal é o aumento no preço do frete, o que deve ter impacto no preço final de produtos ao consumidor. O problema fica ainda pior porque diversas cadeias de produção já estavam desorganizadas por conta da pandemia do novo coronavírus.

Um dos exemplos é o setor automotivo. Componentes utilizados para a fabricação de veículos vêm de países da Ásia e já estavam em falta antes mesmo do bloqueio em Suez, por causa da pandemia. Agora, a situação pode piorar ainda mais.

Preço da gasolina também pode subir

Outro efeito deve ser sentido pelos consumidores nos postos de combustível. O Canal de Suez é uma importante rota para barris de petróleo que vêm do Oriente Médio. Com o bloqueio, os preços do óleo já começaram a subir.

O aumento tem impacto no Brasil porque a política de preços da Petrobras segue as variações do mercado internacional. Ou seja, se o preço internacional do petróleo sobe, a empresa também reajusta o valor dos derivados, como a gasolina e o diesel, que saem das refinarias.

Fonte: Maxar Technologies

Exportações podem ser afetadas

Com a persistência do problema, as exportações brasileiras também podem ser afetadas. O mercado já tem impactos como a falta de contêineres para levar os produtos, por conta dos problemas logísticos. Se as mercadorias ficarem encalhadas no Brasil, pode haver algum efeito de diminuição nos preços dos produtos para o mercado interno. Mas, para José Augusto de Castro, da AEB, isso é improvável.

Mapa da região do Canal de Suez
Mapa da região do Canal de Suez

Por que o bloqueio em Suez cria um nó logístico mundial

Inaugurado em 1869, o Canal de Suez é uma importante rota comercial por encurtar as distâncias entre a Ásia, o Oriente Médio e a Europa. Localizado no Egito, o canal navegável de 193 quilômetros conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, evitando que navios tenham que contornar toda a África, passando pelo Cabo da Boa Esperança, que fica no sul do continente. Com isso, as embarcações economizam milhares de quilômetros de viagem.

canal de suez foto
Foto: Divulgação

De acordo com a Autoridade do Canal de Suez, mais de 12% do comércio mundial passa pela estrutura. É por isso que o bloqueio, mesmo que seja por pouco tempo, causa tantos transtornos.

Enquanto isso, com cada vez mais navios podendo ser desviados para a rota contornando o Cabo da Boa Esperança, o temor das empresas é que os ataques de pirataria aumentem. Os piratas há muito perseguem os navios que se deslocam nas águas na região do Chifre da África, e os mares da África Ocidental, rica em petróleo, são agora considerados um dos mais perigosos do mundo para o transporte marítimo.

Momentos antes de encalhar, em meio a fortes ventos e a uma tempestade de areia, o Ever Given aparentemente viajava mais rápido do que o limite de velocidade estabelecido pela Autoridade do Canal de Suez, informou a Bloomberg.

A última velocidade registrada do Ever Given foi de 13,5 nós, detectada 12 minutos antes do encalhe, de acordo com dados da Bloomberg. A velocidade máxima permitida através do canal fica entre 7,6 nós e 8,6 nós.

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