O melhoramento genético do capim-elefante no Brasil

O capim-elefante é uma gramínea forrageira cultivada e explorada em regiões de clima tropical, subtropical e mesmo em regiões de clima semiárido do Brasil.

A espécie foi descrita pela primeira vez em 1827, e tem como origem a região da África tropical, composta por países com Guiné, Moçambique, Angola, Zimbábue e Quênia. Pela semelhança entre as condições climáticas do Brasil e desses países, o capim-elefante é adaptado a quase todo o território nacional.

A espécie foi coletada na natureza pela primeira vez em 1903, pelo coronel Napier de Bulawayo, e por isso, passou a ser comumente identificada como capim Napier. No Brasil, foi introduzida a partir de mudas coletadas em Cuba, na década de 1920.

Inicialmente, a introdução da espécie ocorreu no Rio Grande do Sul e, posteriormente, houve ampla distribuição para os demais estados do país. Assim, duas cultivares de capim-elefante foram introduzidas: Elefante A, ou capim Napier, e Elefante B, também chamado de Merker.

A partir de então, o capim-elefante passou a ser amplamente cultivado para alimentação animal, e também para produção de bioenergia. Esta gramínea forrageira é notadamente conhecida por sua elevada capacidade produtiva e ótima resposta à adubação, quando comparada à outras forrageiras tropicais. Por isso, torna-se uma opção bem importante para pequenos e médios produtores que possuem propriedades com área agricultável reduzida.

Neste sentido, durante muito tempo evitava-se cultivar capim-elefante em pastagens, com seu uso restrito à formação de capineiras, pois acreditava-se que seu “baixo” valor nutritivo e a dificuldade de manejo sob pastejo não permitiam adotar este tipo de estratégia.

Entretanto, esta perspectiva mudou, principalmente a partir de 1989 quando a primeira cultivar de capim-elefante anão, a cultivar Mott, foi registrada pela equipe de pesquisadores da Universidade da Flórida, liderada pelo pesquisador Lynn E. Sollenberger.

Isto somente foi possível, porque o capim-elefante apresenta ampla variabilidade genética, fato que permite a seleção de variedades com características desejáveis em função do sistema de produção (a pasto ou confinamento, por exemplo), ou mesmo pela exigência nutricional dos animais (novilhas ou vacas leiteiras, por exemplo).

Assim, atualmente o capim-elefante é dividido em 5 grupos morfológicos bem-definidos, ou seja, grupos com variedades que possuem características físicas (e visíveis) em comum. São eles: Napier, Cameroon, Merker, Anão e Híbridos Específicos. Vale ressaltar que os híbridos específicos de capim-elefante geralmente são obtidos do cruzamento da espécie com o milheto (Pennisetum glaucum L.), ou outras espécies do gênero Pennisetum.

Neste contexto, o melhoramento genético do capim-elefante no Brasil segue de forma contínua, através dos programas de melhoramento da espécie.

As cultivares BRS Capiaçu e BRS Kurumi foram recentemente lançadas pela Embrapa Gado de Leite, sendo a primeira recomendada para produção de silagem, e a segunda para pastejo.

Estas cultivares foram selecionadas a partir de cruzamentos entre alguns dos 117 acessos (variedades) do Banco Ativo de Germoplasma do Capim-elefante (BAGCE). Da mesma forma, outras instituições importantes do país têm programas de melhoramento do capim-elefante, como por exemplo o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que possui atualmente um banco ativo de germoplasma com 81 acessos.

Etapas da seleção de variedades (genótipos) de plantas forrageiras

O Brasil é líder mundial no melhoramento de plantas forrageiras. Diversos programas de melhoramento genético de gramíneas e leguminosas, em especial aquelas adaptadas à climas tropicais, subtropicais e semiáridos são conduzidos no país.

O objetivo do melhoramento genético, como mencionado anteriormente, é desenvolver cultivares com características desejáveis como adaptabilidade à determinados climas e regiões, maior valor nutricional, maior proporção de folhas na forragem colhida e maior capacidade de suporte das pastagens, mas também que essas cultivares melhorem o desempenho animal ao proporcionar maior ganho de peso ou produção de leite, por exemplo.

O melhoramento dessas espécies, incluindo o capim-elefante, se dá pela coleta, cruzamento e seleção de muitas variedades (genótipos).

seleção de genótipos ocorre em 3 etapas: (i) avaliação dos descritores morfológicos de um número considerável de genótipos, ou seja, características agronômicas e morfológicas como comprimento dos entrenós, espessura de colmo, pilosidade da bainha, e outras características registradas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além da avaliação do valor nutricional; (ii) avaliação do efeito do pastejo (ou colheita da forragem, seja ela manual ou mecânica) sobre características como persistência da pastagem (ou da capineira), capacidade de rebrota e produtividade; e por fim (iii) avaliação do efeito da forrageira sobre o desempenho animal.

Vale ressaltar que esse tipo de seleção tem caráter eliminatório, ou seja, em cada fase o número de genótipos avaliados e selecionados é inferior àqueles da fase anterior. Desta forma, o registro e o lançamento comercial de uma nova cultivar, como o BRS Capiaçu ou o BRS Kurumi, podem levar mais de 10 anos.

Novas cultivares de capim-elefante: BRS Capiaçu e BRS Kurumi

A nova cultivar BRS Capiaçu levou cerca de 12 anos para ser registrada e lançada no mercado, de 1999 até 2011. A cultivar foi obtida a partir do cruzamento dos acessos Guaco (BAGCE 60) e Roxo (BAGCE 57), quando ainda era denominada como genótipo CNPGL 92-79-2. Assim, o material gerado foi testado e comparado a outros genótipos obtidos de outros cruzamentos, em 17 regiões do país, até que em 2011 foi registrado e patenteado como BRS Capiaçu.

Esta cultivar de capim-elefante apresenta elevada produtividade, superior ao capim Cameroon ou Napier, por exemplo. O BRS Capiaçu é propagado vegetativamente (por mudas) e possui excelente adaptação à colheita mecânica, um dos motivos pelos quais é recomendado para a produção de silagem, quando comparado à outras plantas forrageiras.

O BRS Kurumi levou cerca de 11 anos para registro e lançamento comercial e é um capim-elefante anão, como o capim Mott, que apresenta características morfológicas muito parecidas com o próprio BRS Kurumi (Figura 1).

Isto porque, ambos apresentam o ‘gene anão’, que reduz o comprimento dos entrenós, aumenta o número deles, fato que consequentemente aumenta o número de folhas por perfilho, a relação folha:colmo e o valor nutricional da forragem colhida.

O BRS Kurumi foi obtido do cruzamento entre o genótipo Merkeron de Pinda (BAGCE 19) e o Roxo (BAGCE 57). Para exemplo de comparação, o capim-anão Mott, registrado em 1989, foi obtido pela autofecundação do Merkeron, que foi importante no desenvolvimento das duas cultivares (Mott e BRS Kurumi) justamente por carregar o ‘gene anão’, mesmo sendo um genótipo de porte intermediário.

Porém, comparativamente, o BRS Kurumi supera o capim Mott em produção de forragem total e de folhas. Pode-se considerar que esta nova cultivar é uma sucessora direta do capim-anão Mott.

Pelos motivos destacados acima, as cultivares do grupo Anão são recomendadas para pastejo. Porém, é importante destacar que o capim-elefante deve ser manejado sob pastejo rotacionado, evitando-se o pastejo contínuo.

Isto porque, a espécie não é tão tolerante ao pisoteio por apresentar um hábito de crescimento ereto. Justamente por ser um capim ereto, sob lotação contínua, o ponto de crescimento das plantas fica muito exposto e a seletividade dos animais pode levar as plantas à morte, e a longo prazo, levar a pastagem à degradação.

Figura 1. (A) Capim-anão Mott. (B) BRS Kurumi. Fonte: (A) Arquivo dos autores; (B) Pereira et al. (2017).

Além do superpastejo, outra causa da degradação de pastagens é a ausência de adubação a longo prazo. Algumas estratégias podem ser interessantes para contornar este problema e reduzir o uso de fertilizantes químicos.

A adoção de sistemas integrados como o sistema silvipastoril, a integração lavoura-pecuária ou ainda consórcios entre gramíneas e leguminosas forrageiras são alternativas para isso.

Recentes resultados de pesquisa indicam que o capim Mott pode ser consorciado com leguminosas volúveis (trepadeiras) como a cunhã, sem maiores problemas de competição por recursos como luz, água e nutrientes.

Entretanto, é importante ressaltar que o sucesso do uso de novas cultivares de capim-elefante para pastejo, colheita manual ou mecânica, ou ainda para a produção de silagem, dependerão de um conjunto de estratégias de manejo relacionadas ao plantio e estabelecimento da cultura, adubação e tratos culturais.

A avaliação das condições climáticas (precipitação e temperatura) de cada região e a disponibilidade de água para irrigação, caso necessário, também são pontos que merecem atenção.

Autores
Pedro Henrique Ferreira da Silva
Tafnes Bernardo Sales
Júlia dos Santos Fonseca
Márcio Vieira da Cunha

Fonte: Milk Point

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