Primíparas de corte: como melhorar a taxa de prenhez?

Escores corporais baixos à parição e tempo em balanço energético negativo (BEN) também comprometem a prenhez das Primíparas de corte

João Marcos Beltrame BenattiPrimíparas, como o próprio nome diz, são aquelas que parem pela primeira vez. É uma categoria que representa, em média, 19% das fêmeas em reprodução nas fazendas e que costuma apresentar baixa taxa de prenhez (em média, abaixo de 60%). Esse fato se justifica devido a uma série de fatores, sendo, o mais impactante a condição nutricional.

Na escala de partição energética de uma vaca, ou seja, a redistribuição da energia consumida durante um dia, existem prioridades. Em primeiro lugar, a energia é destinada para o animal se manter, como respiração, atividades hepáticas, etc. A energia que está “sobrando” é destinada para a produção de leite para manter o bezerro que pariu. Depois, no caso das primíparas, o direcionamento é para crescimento. E se, ao final de toda a partição, “sobrar energia”, ela irá destinar à reprodução. Assim, a reprodução é um “luxo energético” para a fêmea, principalmente no caso das primíparas, que ainda estão demandando energia para crescimento.

Não é somente a partição energética que afeta a fertilidade das primíparas. Escores corporais baixos à parição (escores menores que 4 – escala de 1 a 9) e tempo em balanço energético negativo (BEN) também comprometem a prenhez. Toda fêmea tem um período de perda em peso logo após o parto (perda pode chegar a 70 kg), desencadeado pela reduzida capacidade de ingestão de alimento e alta exigência para produção de leite (pico de lactação). Uma fêmea somente volta ao ciclo quando parar de perder peso (aproximadamente 60 dias pós-parto). No caso de primíparas, o tempo em BEN e a perda de peso são ainda maiores devido à exigência de energia para crescimento.

Para contornar esse quadro, a suplementação adequada pode levar primíparas a índices de prenhez semelhantes aos das multíparas do rebanho. O primeiro passo é separar as primíparas das multíparas, para evitar o fornecimento de suplemento para animais que não precisam. Também é essencial que se faça a separação de lotes de primíparas de acordo com a parição.

Outro ponto que tem interferência direta nos índices, é o peso à primeira cobertura das novilhas. Emprenhar animais leves trará dificuldade de emprenhá-los após o primeiro parto. Assim, traçar um plano nutricional para as bezerras de reposição também auxiliará a melhorar a taxa de prenhez das primíparas no ano seguinte.

Uma estratégia comum nas propriedades é a antecipação da estação de monta das novilhas. Por exemplo, iniciar um mês antes do usual na propriedade, dando às primíparas mais tempo para emprenhar após o primeiro parto. O problema dessa estratégia é que quando as novilhas parirem, estarão no pior momento da estação seca e com exigência de energia muito alta. Assim, essa técnica pode não ser eficaz, ou até impor a necessidade de suplementação proteica ou proteica energética para todas as primíparas.

Outro problema que pode estar prejudicando a taxa de natalidade da fazenda, é a perda embrionária. Uma das causas dessa perda se deve aos baixos níveis de progesterona (hormônio da gestação) em algumas fêmeas, principalmente primíparas, ocasionando o “não reconhecimento da prenhez”.

Uma forma de reduzir essas perdas é fornecer ácido linoleico (ômega 6) durante a estação de monta. Como relatado em pesquisas, quando o ácido linoleico é absorvido pelo intestino da fêmea, desencadeia reação hormonal e aumenta os níveis de progesterona, reduzindo as perdas embrionárias. Vale ressaltar que esses ácidos graxos necessitam ser “protegidos” da degradação ruminal para que cheguem ao intestino dos animais. Desta forma, fornecer gordura protegida de óleo de soja na dieta de primíparas em estação de monta também pode contribuir para maiores taxas de prenhez ao fim da estação de monta.

Concluindo, as primíparas respondem muito bem à suplementação. Para que essa estratégia seja economicamente viável, é importante fornecer suplemento apenas aos animais que realmente precisam, separando as fêmeas de acordo com idade e época de parição. Assim, deixamos de enxergar as primíparas como fonte de prejuízo e passamos a vê-las como importante meio de renovação do plantel e evolução genética do rebanho.

João Marcos Beltrame Benatti, Gerente de Produtos para Ruminantes Trouw Nutrition

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