Brasil vai ficar sem fertilizante e crise é preocupante

Agora a Rússia restringiu as exportação de nitrogenados por seis meses; Brasil é um grande dependente da importação destes insumos; Crise preocupa entidades e agricultores!

Depois da China, a Rússia também irá limitar suas exportações de fertilizantes. A informação foi confirmada na manhã desta quarta-feira (3) pelo primeiro ministro Mikhail Mishustin e a medida, tomada pelo presidente Vladimir Putin. O governo russo anunciou que vai restringir as exportações de fertilizantes nitrogenados em volumes estabelecidos por cotas por seis meses.

“A fim de evitar escassez em nosso mercado interno e, como resultado, um aumento nos preços dos alimentos”, justificou o primeiro-ministro Mikhail Mishustin, em nota, ao anunciar a medida.

Para os nitrogenados, os embarques ficarão restritos a 5,9 milhões de toneladas e para adubos complexos contendo nitrogênio a 5,35 milhões de toneladas. De acordo com a agência de notícias russa Interfax, a medida é válida a partir de 1º de dezembro.

No comunicado, Mishustin destacou que o aumento dos preços do gás natural – insumo utilizado para fabricação de fertilizantes – gera consequências negativas nos mercados mundiais e que parte significativa do custo dos nitrogenados advém do valor do gás natural.

A decisão do governo foi anunciada durante uma reunião governamental transmitida por televisão nesta quarta-feira, após o presidente Vladimir Putin ter cobrado medidas para garantir o abastecimento dos agricultores locais.

Segundo o primeiro-ministro, o governo russo vai adotar medidas de controle aduaneiro para monitorar o cumprimento dos volumes a serem exportados. “O Ministério da Indústria e Comércio terá poderes para distribuir os volumes entre os exportadores. Este trabalho deve ser realizado em conjunto com o Ministério da Agricultura”, explicou Mishustin.

Em todo hemisfério norte os agricultores já mostram que o choque na oferta de insumos tem se tornado uma preocupação cada vez maior e mais grave, diante da alta descontrolada dos fertilizantes mas, principalmente, frente à flata de produto. Ainda segundo a Bloomberg, grupos agrícolas franceses, em outubro, emitiu uma nota afirmando que os preços do nitrogênio triplicaram e que há riscos de escassez de produto. 

Para o Brasil, o impacto deve ser considerável, uma vez que boa parte dos fertilizantes importantes, especialmente o cloreto de potássio, vem da Rússia. De janeiro a setembro, de acordo com dados levantados pela Agrinvest Commodities, foram importadas 2,62 milhões de toneladas de KCl russo, ou seja, 29% do total que chegou aos portos nacionais. 

Das 3,6 milhões de toneladas de MAP importadas pelo Brasil, 1,07 milhão tiveram origem russa, ou seja, algo próximo a 30%, ainda segundo a consultoria. 

Crise dos fertilizantes

A Rússia é um dos maiores exportadores de nitrogenados do mundo. A medida tende a agravar o aperto na oferta mundial de adubos, somando-se a restrições adotadas pela China e limitações nas exportações da Bielo-Rússia.

Para o Brasil, a Rússia é um dos principais fornecedores de nitrato de amônio e de cloreto de potássio (KCl). No ano passado, o Brasil importou 7,583 milhões de toneladas de adubos da Rússia, respondendo por 22% do internalizado pelo País, segundo dados do Comextat (serviço de estatísticas de comércio exterior do Brasil).

Neste ano até setembro, o adubo russo contribuiu com 23% do total importado pelas indústrias brasileiras, se consolidando como a maior origem com 6,705 milhões de toneladas.

Safra 2022/2023

Com os preços muito altos, boa parte dos produtores estão já ventilando a possibilidade de reduzir ou até mesmo eliminar o uso destes produtos em sua próxima safra, o que exigirá deles, portanto, a utilização de boas práticas e conceitos agronômicos que possam otimizar a utilização de seus recursos.

“Este será o ano agrícola de maior uso de tecnologia”, diz o consultor Leandro Zancanaro, em entrevista ao Notícias Agrícolas falando sobre a aplicação de conhecimento científico em suas lavouras, buscando conhecer ainda mais cada um de seus talhões. 

Será uma nova safra em que as análises de solo serão ainda mais valiosas, a busca por bom sistemas de produção e medidas que podem ser tomadas já, com a safra que está em andamento para que este ciclo carregue uma boa bagagem para o próximo. 

Escassez e encarecimento de insumos agrícolas preocupam a FAESC

A produção agrícola brasileira está ameaçada por um efeito colateral da pandemia que atingiu todos os continentes: a redução da oferta de defensivos agrícolas e fertilizantes com o consequente encarecimento em mais de 200%. A situação preocupa a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) que já discute o problema com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com o Ministério da Agricultura.

O vice-presidente Enori Barbieri mostra que dois efeitos da pandemia estão preocupando o mercado. De um lado, as indústrias instaladas em outros países que atendiam o mercado brasileiro reduziram a produção e a oferta desses produtos. De outro, as companhias marítimas que atendiam o Brasil nas operações de importações e exportações passaram a priorizar a rota China-Estados Unidos. Além disso, passaram a empregar embarcações de grande porte que nem todos os portos estão capacitados para receber. Em razão disso, passou a faltar embarcações para atender as demandas do mercado externo originadas no Brasil.

Barbieri ressalta que a escassez não atinge a safra em formação, mas permite prever uma grave crise de preço e de suprimento para a safrinha de milho que começará a ser semeada em janeiro de 2022, da qual se espera cerca de 100 milhões de toneladas.

Os custos explodiram e o preço da saca de 50 kg de uréia que era vendida a R$ 100,00 no início do ano agora custa R$ 250,00. Também há previsão de falta de produtos veterinários e fungicidas.

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