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Confinamento Puro Grão, alta rentabilidade e lucratividade!

Não é mistério para o pecuarista que hoje é possível realizar o confinamento sem a utilização de volumoso

Tive a imensa oportunidade de mais uma vez conversar com uma pessoa que considero como o ícone para a nova pecuária, o Dr. Paulo Cesar Rocha, que é médico veterinário e consultor da Rações Futura. Acrescento aqui, ainda, que se falarmos em engorda utilizando a técnica do grão inteiro, esse é o nome responsável pela conquista desse passo no Brasil.

Durante a evolução da pecuária muitos mitos e descréditos são criados, principalmente por aqueles que se agarram a maneira arcaica de pensar e gerir o negócio. Questionamos o Dr. Paulo Cesar a respeito do que elencamos como sendo pontos fundamentais para acabar com os mitos do grão inteiro.

1. Qual era a necessidade (econômica/comercial ou outro fator) no momento que criou esse tipo de dieta para bovinos?

Dr. Paulo Cesar: A grande questão da necessidade econômica é que o Brasil precisava aumentar sua taxa de desfrute, esse é o primeiro ponto. O segundo ponto é que no século passado tínhamos um boi por habitante na terra, chegamos a um ponto em que temos 9 habitantes para cada boi comercial. Terceiro ponto precisávamos acelerar a idade ao abate, enquanto o mundo inteiro estava produzindo animais precoces, o Brasil continuava produzindo bois de 3 a 4 anos.

Um comparativo com os outros setores da pecuária como a avicultura que saiu de 3 a 4 meses para 40 dias de idade para abate do frango, já a suinocultura saiu de uma idade de abate de 1 a 2 anos para 5 meses, o boi continuava sendo abatido com 3 a 4 anos e com uma carne dura.

Então surgiu uma necessidade de produção de carne no Brasil, necessidade de aumentar essa produção, mas com qualidade. Além disso, era preciso aumentar a taxa de desfrute.

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Confinamento com Grão Inteiro da Fazenda São Pedro – Coxim MS / Foto: Bom Peso Nutrição Animal

2. Quanto é importante os primeiros dias da fase de adaptação para o GMD dos animais confinados? Existe uma perda significativa quando a adaptação não é bem feita?

Dr. Paulo Cesar: Quanto a adaptação para o puro grão, no inicio desse trabalho as pessoas diziam que a gente estava saindo do ruminante e para o monogástrico. Posteriormente descobrimos que era necessário que ele permanecesse como ruminante, mesmo com milho grão ele tinha que retornar o milho a boca e ruminar o grão inteiro e isso só seria possível se fosse feita uma redução do tamanho do rúmen e uma adaptação de dieta de modo que ele conseguisse voltar o grão inteiro a boca, se possível mais de uma ou duas vezes, para que o milho fosse quebrado lentamente e a taxa de degradação e liberação do amido fosse lenta e ajudasse no controle do pH ruminal e da acidose metabólica.

Adaptação influência diretamente nos ganhos de peso, quando o animal é bem adaptado ele pode chegar a 30-50% a mais de ganhos quando comparado com animais que não tiverem uma boa adaptação. Quando a adaptação não é bem feita, além de uma redução significativa no ganho de peso, os animais consomem mais milho e a ingestão de matéria seca dificilmente para nos 2%. Esse quadro acaba levando a quadros de acidose, problemas de casco e laminite por essa alta ingestão de amido e problemas na adaptação.

3. Sobre manejo, vê diferença no comportamento dos animais do confinamento convencional para o puro grão?

Dr. Paulo Cesar: Não vejo muita diferença do animal do puro grão em relação ao manejo do animal convencional. Eu utilizo algumas recomendações para o puro grão como:

  • Espaçamento de 1 m² por arroba. Ex.: animal com 10@ são 10 m²;
  • Espaçamento linear de cocho é de 30 cm por cabeça no puro grão, enquanto no convencional é 75-80 cm por animal;
  • As vacinações e vermifugações são extremamente necessárias, principalmente a de clostridiose;

Quanto a rejeição de cocho, que muitos criticam nesse sistema, ela ocorre também no sistema que utiliza volumoso, então este não é um limitante.

Então a principal diferença é o espaçamento de cocho e a grande facilidade de trato no sistema puro grão.

4. Temos um novo mercado de qualidade de carne, os frigoríficos pagam mais por carcaças superiores, na dieta de grão inteiro, existe alguma diferença na carne?

Dr. Paulo Cesar: Essa questão de mercado, é uma questão muito lenta, muito gradual. Hoje temos frigoríficos pagando logicamente pelo rendimento de carcaça, que no puro grão é maior que no convencional. Nós temos animais que davam 50% e hoje dão 54%, enquanto animais que davam 54% atingem 58% de rendimento, e o frigorífico paga isso no peso morto.

Quando você cria um animal de qualidade genética superior como um meio sangue angus, um angus ou um cruzamento industrial, em que esses animais chegam a 18 @ no peso vivo o que chega a quase 21 @ no peso morto e você consegue um animal mais jovem e com bom marmoreio os frigoríficos já pagam por isso. Quando o animal consegue uma classificação acima de select ou standard na qualidade da carne, e em uma escala de 1 a 12 de marmoreio se consegue níveis de 7 a 8 de grau de mamoreio, os frigoríficos já pagam um preço da arroba maior.

Enquanto no mês passado se comercializada o preço da @ em 135,00, nós vendemos animais a  154,00 um lote de fêmeas meio sangue angus de 18@.

Acredito que muito em breve, os frigoríficos vão procurar carnes com grau de marmoreio acima de 8, de uma escala de 1 a 12, uma carne prime, premium choice onde vai chegar uma hora que a arroba terá um preço básico e de acordo com o grau de marmorização e de maciez dessa carne, teremos um pagamento superior por ela. Esse sistema já existe em alguns frigoríficos, entretanto tende a se acentuar muito a cada ano.

Entenda como se dá a classificação das carnes:

Foto: BeefPoint
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Novilha Angus
Confinamento com grão inteiro Bom Peso, 21 meses com 18.75@ / Foto: Bom Peso Nutrição Animal

5. O pecuarista fala muito em custo desse sistema, você pode exemplificar um caso ou alguma observação para ajudar a mostrar que a rentabilidade desse sistema é possível?

Dr. Paulo Cesar: No puro grão nós temos três grande fatores econômicos e os quatro principais fatores zootécnicos. 

Os fatores econômicos são:

  • Saber comprar o boi na hora certa. Sabemos que sempre do mês de abril a junho ou julho no Brasil a arroba é mais barata.
  • Saber vender na hora certa. Sempre entre outubro e dezembro a arroba é mais cara.
  • Saber comprar milho e estocar milho na hora certa. Melhor preço de milho é sempre entre mês de julho e agosto, quando ocorre colheita da safrinha, em especial no centro oeste brasileiro.

Os fatores zootécnicos são:

  • Adaptação é um fator importante, representando no mínimo 30% do resultado do confinamento;
  • Instalações, representando 25% do resultado;
  • Qualidade da ração e do milho;
  • Sanidade do rebanho, vacinas, vermifugação e ambiência

Em resumo, se você conseguiu controlar a parte zootécnica e a compra de milho, a compra e venda dos animais, ai sim o sistema pode dar lucro de 200,00 a 1.000,00 reais. Dependendo, claro, da eficiência do produtor na administração dessas variáveis.

6. Foi idealizado por você um programa que ganhou o Brasil, “Salve o macho leiteiro”. O que você, depois desse tempo, vê o sucesso dessa campanha?

Dr. Paulo Cesar: O projeto foi lançado porque o bezerro leiteiro não tinha valor e a maior parte acabava matando o animal, e hoje nossa visão é de agradecimento e felicidade pelo imenso sucesso que alcançou o projeto.

Acredito que hoje, são poucas as pessoas que matam o bezerro leiteiro. Nós temos centenas de clientes em todo o Brasil, que tem trabalhado com o bezerro leiteiro e estão alcançando excelentes resultados. O projeto já trouxe interessados de vários países, que buscam aderir a essa tecnologia.

Um exemplo muito bacana foi o confinamento de 2.000 bezerros leiteiros que realizamos em Várzea da Palma.

Um vídeo que foi gravado de um celular, despretensiosamente, tomou toda essa proporção que hoje nos resume em um único sentimento, o de satisfação. Confira o vídeo abaixo:

7. Para finalizar, você poderia deixar uma mensagem para os pecuaristas desse Brasil, que lutam para fazer uma pecuária cada dia mais forte?

Dr. Paulo Cesar: A mensagem que eu posso deixar é que o mundo espera que o Brasil produza carne de qualidade. Temos o maior rebanho comercial do mundo, temos a obrigação de produzir a melhor carne e vamos chegar nisso. Temos que melhorar nossa taxa de desfrute, temos que melhorar nossa eficiência produtiva. Temos que realizar uma desmama mais precoce, não podemos desmamar animais com 7 meses de idade. Temos que otimizar as nossas terras, produzindo mais carne e carne de qualidade. Estamos trabalhando pra isso!

Acreditamos senhores produtores que nós vamos fazer desse país uma referência mundial em produção de carne, não apenas em volume, mas em quantidade e qualidade.

Agradeço ao Dr. Paulo pelas palavras e que essa entrevista possa desmistificar alguns pontos desse confinamento que é tão importante para nosso crescimento frente aos nossos competidores.

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