Qual pecuária – corte ou leite – deu mais lucro nos últimos 10 anos?

Dados consolidados de várias consultorias avaliam a rentabilidade da pecuária de corte e leite; inclusive separando alta e baixa tecnologia empregada

A pujança da pecuária nos últimos meses não pode ofuscar os desafios enfrentados nos últimos anos. Olhando para o gráfico abaixo é possível avaliar como é desafiador ser pecuarista no Brasil, sendo ele na produção de carne e leite. Gráfico produzido pela Patria Agro colocou lado a lado todos os cenários possíveis da pecuária, inclusive comparando com o mercado de ações, dólar, inflação e outros indicadores, posicionado nas últimas posições está a pecuária empregada com baixa tecnologia.

Falência no horizonte – engana-se você achar que a pecuária não dá prejuízo, se considerarmos os dados abaixo a pecuária, tanto de corte como de leite usando baixa tecnologia dá prejuízo, deve ser por isso que alguns analistas avaliam que 60% dos pecuaristas em atividade vão desaparecer em 20 anos.

Fonte: PATRIA

A rentabilidade pode ser vista como o reflexo direto do desempenho econômico do negócio. Quanto a atividade desenvolvida na fazenda conseguiu gerar de retorno sobre o capital que está investido nela? Isso que a rentabilidade nos mostra. Na última década, de acordo com as fontes consultadas, a pecuária de corte de ciclo completo e com alta tecnologia (AT) foi a atividade que obteve o melhor desempenho, com uma rentabilidade acumulada de 182% (+82%), um retorno médio de 6,2% ao ano.

Entretanto, nota-se que o CDI, que acompanha a taxa Selic lado a lado e é considerada a taxa livre de risco do Brasil, gerou um retorno bem acima de todas as atividades do agro pesquisadas. Isso mostra que todas as atividades tiveram um prêmio de risco negativo no período. Ou seja, o produtor não conseguiu remunerar o seu capital investido na fazenda de acordo com o risco do negócio.

Em outras palavras: o produtor colocou seu patrimônio em risco, mas não obteve um retorno superior ao que teria obtido se tivesse deixado seu patrimônio no CDI (entendida como a taxa livre de risco no Brasil).

Claro que isso é algo ruim. Mas, o fato é que, historicamente, essa é uma situação “normal” no Brasil. Já que a taxa Selic costumeiramente fica elevada. Por outro lado, ressalta-se que 3 atividades pesquisadas do agro superaram o Ibovespa. Refletindo um bom desempenho na década, quando comparada com o índice que reflete melhor o desempenho das maiores empresas brasileiras.

Atualmente, com a Selic em 2,25%, espera-se que as atividades do agro possam ter um desempenho ainda mais elevado dada a melhoria de viabilidade para novos investimento na fazenda e, consequentemente, resultar em um retorno com prêmio de risco positivo. Ou seja, o produtor está numa atividade que tem riscos, mas ganhará mais pelo risco que corre.

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Foto: Fazenda Diamante Verde

Recria e engorda não admitem baixa tecnologia

O aumento no custo de produção, principalmente por causa da alta no preço do milho, dos valores de animais para reposição e da disparada do dólar pode levar o pecuarista que aposta na recria e engorda a sair de uma margem positiva para um prejuízo.

Na avaliação do sócio e diretor da Divisão de Pecuária da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, para o produtor mitigar a queda na lucratividade é necessária a ampliação da tecnologia de produção. “O pecuarista me pergunta: o custo de produção sobe e você ainda pede para ampliar os gastos; sim, acelerar a tecnologia é a melhor saída”, disse.

Já foi o tempo em que o pecuarista brasileiro tinha o privilégio de produzir carne sem se preocupar com a sua lotação (suporte animal) e com a reintrodução dos nutrientes necessários para que o solo e as pastagens respondam de forma satisfatória. Dados indicam que 77% das áreas de pastagens brasileiras ainda enfrentam sérios problemas de degradação. A atividade está cada vez mais intolerante à baixa tecnologia e isso impede o aumento da lotação das áreas e compromete os ganhos do produtor.

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Foto Divulgação.

Rentabilidade da pecuária leiteira só melhorou para a alta tecnologia

Para o sistema com baixa tecnologia, 2019 foi o oitavo ano com rentabilidade negativa, segundo estudo da Scot Consultoria. A Scot Consultoria calcula anualmente as rentabilidades médias das atividades agropecuárias e de outras opções de investimento de capital, referentes ao ano que passou.

No caso da pecuária leiteira de alta tecnologia (25 mil litros/hectare/ano) houve uma pequena melhora frente ao ano anterior, passando de 0,15% em 2018 para 0,91% em 2019. Para os sistemas com produtividade média de 4,5 mil litros por hectare por ano (baixa tecnologia) a rentabilidade foi negativa em 7,9%.

Alta tecnologia versus baixa tecnologia

Para a pecuária leiteira de baixa tecnologia, 2019 foi o oitavo ano consecutivo de rentabilidade negativa, sendo o pior resultado dentre as atividades analisadas. A diferença entre os resultados para as atividades de baixa e alta tecnologias reforça a necessidade de melhorias dos indicadores zootécnicos através do uso de tecnologia, planejamento e estratégias de compra de insumos.

Na Fazenda Cibrapa, em Barra do Garças/MT / Foto: Carpa Serrana

E você? Já acompanha a rentabilidade da sua fazenda?

O maior retorno na década ficou com o ouro, que é considerado uma reserva de valor clássica. E outra reserva de valor clássica são as terras. Portanto, poderíamos até trabalhar com hipóteses de que o produtor rural conseguiu retornos sobre o seu patrimônio até maiores, já que, geralmente, a maior parcela do patrimônio investido na fazenda está justamente em terras. Mas, são apenas hipóteses e um pouco de especulação, já que o ganho de capital com as terras só poderia ser realmente computado na concretização de venda.

Triste ver que a agropecuária do Brasil não supera nem os índices de inflação do Brasil. Por isso defendo tanto o foco na rentabilidade e lucratividade do negócio. Resumindo: olho no dinheiro que sobra! Estamos perdendo capital e não estamos vendo.

Texto desenvolvido com ajuda da PATRIA Agro

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