Raça Gir Leiteiro é milagre da zootecnia

O então presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, relata em 2013 através de entrevista à Revista Gir Leiteiro os feitos da raça Gir Leiteiro

Vamos recordar – O Brasil é para as raças zebuínas produtoras de leite o que o Estados Unidos e o Canadá são para a raça holandesa. Este mérito se deve, principalmente à raça Gir Leiteiro, que no futuro terá uma participação ainda mais sólida na composição do rebanho bovino nos países de clima tropical. Como entusiastas da raça gostam de afirmar: O Gir Leiteiro é um milagre da zootecnia brasileira. A evolução da raça é parte significativa da revolução alcançada pela pecuária de leite no Brasil, estendida aos demais países de clima tropical. O melhoramento genético do Gir Leiteiro coincide com o sensível aumento da produção e da produtividade de leite no país, nos últimos anos.

Quando questionado pela revista sobre o futuro da pecuária leiteira no brasil, Lopes destaca que “A biotecnologia já mostrou que, por meio de marcadores genéticos, clonagem e transgenia, é possível acelerar o processo de melhoramento dos bovinos, criando populações resistentes a mastite, aos estresses térmicos e etc. A pesquisa básica de ponta, trará resultados com mediana rapidez para os produtores e a população em geral.”

Confira a entrevista exclusiva de Maurício Antônio Lopes, concedida a Revista Gir Leiteiro em 2013.

“A Embrapa busca na fronteira do conhecimento as respostas para uma pecuária leiteira cada vez mais produtiva e sustentável. Na pesquisa básica pode estar a resposta para muitas das questões que hoje preocupam a cadeia produtiva do leite”, afirma Lopes.

Em sua gestão, quais os trabalhos direcionados á pecuária leiteira?

Maurício Antônio Lopes: Há diversos trabalhos conduzidos por várias Unidades da Embrapa voltados para a pecuária de leiteira. Gostaria de chamar a atenção para o programa de transferência de tecnologia Balde Cheio, desenvolvido pela Embrapa Pecuária Leiteira, direcionado para os pequenos produtores, e que trabalha com uma metodologia inovadora, que supera muitos dos problemas normalmente enfrentados pela transferência de tecnologia da pesquisa para o campo. Amando em propriedades de meio hectare a 20 hectares, a tecnificação e o bom gerenciamento permitem que esses produtores familiares multipliquem sua renda, renda essa que, em alguns casos, era, antes de aderirem ao projeto, inferior a um salário mínimo.

Como a senhor avalia a contribuição da raça Gir Leiteiro para o setor?

ML: O Brasil é para as raças zebuínas produtoras de leite o que o Estados Unidos e o Canadá são para a raça holandesa. Este mérito se deve, principalmente, a raça Gir Leiteiro, que no futuro terá uma participação ainda mais sólida na composição do rebanho bovino noa países de clima tropical. Como os entusiastas da raça gostam de afamar, Gir Leiteiro é um milagre da zootecnia brasileira”. A evolução da raça é parte significativa da revolução alcançada pela pecuária de leite no Brasil, estendida aos demais países de clima tropical. O melhoramento genético do Gir Leiteiro coincide com o sensível aumento da produção e da produtividade de leite no país, nos últimos anos.

Essa  revolução pode ser verificada no mercado de sêmen, na expansão do número de criadores de Gir Leiteiro e no aumento da produtividade do rebanho brasileiro. Quando foram publicados os resultados dos testes do primeiro grupo de touros Gir Leiteiro, em 1993, a venda de sêmen de reprodutores da raça cresceu 35% em relação ano anterior. Hoje, o aumento na comercialização de sémen gado Gir Leiteiro é de mais de 700% se comparado ao final dos anos 80. Essa revolução está se expandindo para outras raças. A Embrapa Gado de Leite, em parceria com associações de criadores, empresas estaduais de pesquisa, extensão rural e instituições do setor, além do Gir Leiteiro, possui programas de melhoramento genético para as raças Guzerá, Girolando, Holandês e Sindi.

Qual a sua opinião sobre o PNMGL ABCGIL/Embrapa e a importância dessa iniciativa para a pecuária brasileira?

ML: O Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro (PNMGL) é uma das mais bem-sucedidas ações de melhoramento genético de bovinos no mundo. O Programa foi criado para atender a crescente necessidade dos produtores e da indústria. No início, a seleção primava apenas para a produção de leite e gordura. Em 1994, passou a incluir as características lineares, ou seja, os aspectos funcionais dos animais ligados á conformação e ao manejo (altura da garupa, pernas, ângulo dos cascos, conformação do úbere, etc.). À partir de 1999, num momento em que ainda pouco se falava em pagamento por sólidos, a seleção incluiu a composição de leite (gordura, proteína e lactose e sólidos totais). Em 2004, a genética molecular passou a fazer parte dos trabalhos, identificando aspectos da proteína ligados a produção e rendimento do queijo. Em 2007 foi realizado o primeiro estudo de associação de marcadores moleculares de composição e produção do leite e, a partir de 2011, a seleção genômica passou a fazer parte dos trabalhes.

Desde 2010, uma nova atividade foi incluída ao PNMGL: as provas preliminares para a identificação dos touros que irão compor as novas baterias dos testes de progênie. O objetivo é aperfeiçoar o processo de escolha dos touros. Aspectos como produção e qualidade do sêmen são avalizados. O objetivo é colocar o touro em prova o mais jovem possível para garantir o sucesso futuro do programa. A ABCGIL e a Embrapa Gado de Leite, parceiras na condução do programa, buscam esmerar-se em suas tarefas para proporcionar o máximo de confiança aos usuários da genética Gir Leiteiro.

Como o senhor vê o futuro da pecuária leiteira no Brasil? E o futuro da raça Gir Leiteiro?

ML: A biotecnologia já mostrou que, por meio de marcadores genéticos, clonagem e transgenia, é possível acelerar o processo de melhoramento dos bovinos, criando populações resistentes a mosca e ectoparasitas, a mastite, ao estresse térmico, etc. A pesquisa básica, de ponta, trará resultados com mediana rapidez para os produtores e a população em geral.

A infinidade de soluções que a biotecnologia apresenta é impressionante e vai do melhoramento genético ao desenvolvimento de produtos com qualidades nutricionais. A Embrapa está alinhada com as questões das ciências avançadas para garantir alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para as futuras gerações.

Considerando o trabalho da Embrapa e de outras instituições como o senhor avalia a evolução da pecuária leiteira brasileira?

ML: No ranking mundial, o Brasil é o sexto país com a maior produção de leite. Desde o início dos anos 70, quando a Embrapa foi criada, houve uma grande evolução nos índices de produção e produtividade. A produção brasileira aumentou cerca de 400% nos últimos 40 anos. Há quatro décadas, o Brasil tinha 12 milhões de vacas produzindo 8 bilhões de litros de leite, hoje nossa produção já supera os 30 bilhões de litros por ano, com um rebanho de aproximadamente 15 milhões de vacas. Considerando as bacias leiteiras tradicionais e propriedades com rebanhos especializados, há registros de produtividade média anual de 3.600 litros vaca/lactação — índice semelhante a países mais desenvolvidos que nós. Nós últimos 40 anos a produção brasileira tornou-se mais tecnificada graças aos esforços da Embrapa e outras instituições.

Quais as contribuições da Embrapa para a pecuária leiteira?

ML: As Unidades da Embrapa que trabalham com leite, como a Embrapa Gado de Leite, criada em 1976, ao lado das empresas estaduais de pesquisa e universidades, tiveram papel fundamental na melhoria do desempenho da atividade.

Um exemplo é o processo de melhoramento genético do rebanho: o Pais é hoje referência mundial em genética zebuína, tanto para leite quanto para carne. Saímos dos programas clássicos de melhoramento, nos quais, medíamos a produção diária e por lactação, e trabalhamos, hoje, com genômica animal, identificando marcadores genéticos com importância econômica para a produção de leite. O melhoramento vegetal e as técnicas de alimentação dos animais também foram fatores importantes.

A pesquisa em bovinocultura de leite está cumprindo com êxito seu papel para tornar o Brasil não apenas um dos modelos produtores de leite do mundo, mas também um grande exportador de produtos lácteos. A Embrapa busca na fronteira do conhecimento as respostas para uma pecuária leiteira cada vez mais produtiva e sustentável. Na pesquisa básica pode estar a resposta para muitas das questões que hoje preocupam a cadeia produtiva do leite.

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