Artigo escrito por especialista lança, com olhar clínico, sob a ultrassonografia de carcaça algumas ponderações, confira.
Por José Otávio Lemos
Já tem um tempinho que a ultrassonografia de carcaça tem sido propagada como mais um instrumento para o melhoramento genético das raças bovinas, tanto taurinas (primeiras nisso), como nas zebuínas. Tal tecnologia veio dos Estados Unidos para o Brasil e para muitas partes do mundo.
A coleta de informações de carcaças através da ultrassonografia em animais ainda vivos tem sido extensivamente empregada; e onde esta é utilizada para a seleção de reprodutores e matrizes visando detectar genética superior para a produção de uma “carne com gordura de melhor qualidade”. Os animais são ultrassonografados ao redor de 1 ano de idade (320 a 440 dias); acreditando-se, desta forma, num significante impacto na questão tempo e progresso genético. Associações de raças bovinas já estão empregando a tradicional DEP (diferença esperada na progênie) baseada em informações de carcaças avaliadas pelo método da ultrassonografia.
Uma observação – a herdabilidade é da característica, não do animal, então, não tem como ranquear animais com ela, sem melhorias em nada só com a estimativa de parâmetro da herdabilidade.
Experiência e habilidade são os pontos críticos para a coleta de informações no uso da ultrassonografia. Os dois principais erros na obtenção de informações a partir da técnica de ultrassonografia estão na aquisição da imagem e na interpretação dessa. O grau de experiência do técnico é essencial para uma consistente acurácia na interpretação das informações coletadas. Esse deve estar apto e bem treinado para fazer corretas avaliações dos dados coletados. Também existem alguns equívocos na forma em que são feitas as leituras, inclusive pelo ângulo de captação dessas nos animais. E num curto espaço de tempo, fazem-se medições bem diferentes, especialmente em um animal no brete de contenção.
Existe um ponto que é muito claro: os sistemas utilizados no mercado atualmente são fechados e o tempo de validade dos mesmos está acabando. Isso trará um forte impacto. Duas máquinas, a Aloka 500V e um clássico scanner 200, para as medidas de marmoreio, têm seus recursos de atualizações já perdidos.
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Os softwares que leem a imagem do ultrassom de carcaça transferem e ajustam imagens coletadas em dados numéricos de AOL, EGS, RATIO< MAR e outros. Todavia ajustam-nos para os desvios de hardwares e de equipamento de ultrassonografia, e paras os efeitos de distorções das Probes de Coleta de Imagem, de marca específica e não mais fabricada. Isso torna o cenário de manutenção de informações conectadas (banco de dados) preocupante ao longo das décadas de mensurações por ultrassonografias, visto que os dados obtidos em séries temporais distintas das medidas podem trazer imprecisões e desconexões das expressões fenotípicas produtivas.
E lembrando que o corpo do taurino, base para tal tecnologia, é diferente ao do zebuíno.
Há quem acredite que o típico processo de seleção genética utilizado para se provar um bom reprodutor especializado em produção de carne leva de 3 a 5 anos, com um custo de aproximadamente U$5.000.00; e com a técnica de coleta de informações através da ultrassonografia pode ser completado em menos de 2 anos a um custo de aproximadamente U$450.00. Tal crença não tem fundamentação na equação clássica sobre fenótipo ser genética mais influência do meio ambiente mais interação genótipo-meio ambiente.
Diferenças entre as medidas por ultrassonografia e aquelas obtidas na carcaça acontecem também com a remoção do couro, que corta quantidade variável da camada de gordura; o método de suspensão da carcaça, que provoca mudanças na sua conformação, o desenvolvimento do rigor mortis; a mensuração inadequada da área de olho de lombo (AOL); corte incorreto na seção da 12ª e 13ª costelas e o revestimento da camada de gordura da carcaça.
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Outro fator evidente é que as medidas feitas no animal vivo por ultrassonografia e na carcaça, são obtidas em posições muito diferentes, o que compromete as comparações feitas entre as mesmas. A reunião de fatores como idade, sexo, raça, peso, altura da anca e tamanho à maturidade, passa a ser fundamental para a predição acurada (Suguisawa, 2002).
Mais ainda pode diminuir a precisão da acurácia da medida da AOL pelo ultrassom e a presença de pequenos músculos, como exemplo o Multifidus dorsi e Longissimus costarum estarem muito ligados ao Longissimus dorsi (músculo usado para obter a medida de AOL) e na hora da medida esses músculos podem parecer parte do Longissimus dorsi na imagem do ultrassom.
Este nosso assunto é longo, e, com certeza, ainda falaremos muito sobre ele. Sempre com as melhores intenções, da busca de avanços para o melhoramento animal focando no “nosso próprio melhoramento” como espécie dependente de tantas outras.