Balanço do agro mostra mais crescimento para 2021

CNA faz balanço do agro 2020 e projeta mais crescimento; setor registrou alta do PIB, VBP e exportações, além do segundo maior aumento no número de empregos no Brasil

Em coletiva virtual à imprensa nesta terça-feira, o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, o superintendente técnico da entidade, Bruno Lucchi e a superintendente de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra, apresentaram o balanço 2020 e as perspectivas 2021 para o agronegócio brasileiro.

O ano atípico de pandemia impactou o setor, aumentou preços dos alimentos, reduziu parte do consumo, influenciou a alta da taxa de câmbio e trouxe prejuízos aos produtores rurais em todo o País. Porém, na análise da CNA, o saldo foi positivo para o agronegócio brasileiro.

“A CNA, as Federações e o SENAR foram muito eficientes, pois agimos em diversas frentes para não deixar a população com qualquer sintoma de desabastecimento. Procuramos mostrar que era possível contornar a situação, com logística eficiente e satisfatória. Na exportação, mantivemos os acordos com nossos mais de 170 países parceiros e a situação permaneceu regularizada. O Agro não parou e registrou o segundo maior aumento no número de empregos no Brasil, atrás apenas da construção civil”, analisou o presidente João Martins ao informar que o PIB do agro cresceu 9,9% no ano, o Valor Bruto da Produção (VBP) 17,4% e os empregos formais alcançaram 102.911 novas vagas no setor.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) e 1º vice-presidente de Finanças da CNA, José Zeferino Pedrozo, acompanhou a coletiva e destaca os números positivos do setor.

“O mais importante é que o País conseguiu garantir acordos comerciais e continuar abastecido. Foi um esforço de todo o setor, do governo, entidades e dos produtores que não pararam o seu trabalho em todos os cantos do Brasil. Isso garantiu a segurança alimentar nacional”, avaliou.

O superintendente técnico Bruno Lucchi afirmou que o auxílio emergencial do governo contribuiu para a retomada do consumo e para o aumento dos preços praticados, mas manteve a inflação dentro da meta estabelecida para o ano – abaixo dos 4%, além de reduzir a Taxa Selic, o que viabilizou novos investimentos. Alimentos e bebidas foram os mais impactados pela alta dos preços, seguidos de artigos de residência, comunicação, serviços de correio e internet. Transporte e vestuário tiveram as maiores reduções nos preços e no consumo.

“Tivemos uma mudança no perfil de alimentação dos brasileiros. As refeições em domicílio aumentaram 12% no período, enquanto a alimentação fora de casa registrou apenas 3%, o que também desestimulou a produção de alguns produtos, como arroz e feijão, que tiveram queda no consumo de 19% e 9% respectivamente”, detalha Lucchi.

De acordo com a CNA, os bons preços dos produtos agropecuários influenciados pela exportação e pelo dólar em alta não refletiram diretamente em ganhos aos produtores. Segundo a entidade, só 1% dos produtores de soja conseguiu comercializar o cereal no maior preço praticado no ano (R$ 156 a saca – preço médio foi de R$ 70); 6% venderam arroz em alta (R$ 104 a saca – preço médio vendido foi de R$ 52).

Já a pecuária de corte e leiteira tiveram aumento de custos de produção que superaram os ganhos. “O custo aumentou severamente para essas cadeias, o que dificultou arrancada do setor. Os produtores não estão ganhando rios de dinheiro, a maioria está recuperando perdas”, ressalta o superintendente da CNA.

EXPORTAÇÕES

O mercado internacional alcançou resultados positivos, de acordo com análise da superintendente de Relações Internacionais da CNA. De janeiro a outubro, o Brasil bateu recorde histórico ao exportar 85,8 bilhões de dólares, aumento de 5,7% no valor e 12,4% de volume. “A cada 10 dólares exportados pelo Brasil, 5 foram do agronegócio”, ressaltou Lígia Dutra ao destacar a soja como carro-chefe, com 58% das exportações. A China é o principal parceiro comercial, com a fatia de 30,8 bilhões de dólares, maior que a soma dos outros quatro destinos: União Europeia (13,7), Estados Unidos (5,6), Japão (2,1) e Coreia do Sul (1,8). “Esses cinco destinos respondem por 63% das exportações do agro brasileiro em 2020”.

O Brasil também registrou aumento nas exportações no ano para a China, Indonésia, Tailândia, Turquia e Venezuela, porém teve queda concentrada para os Estados Unidos, México (-492 milhões de dólares em ambos) e Irã (-1,6 bilhões). Os números, segundo Lígia, mostram a importância do aumento do mercado asiático para o Brasil. “Neste ano, nós abrimos mercados para 100 produtos do agronegócio em 30 países diferentes, especialmente no continente asiático. Isso mostra a importância de diversificar mercado, buscar novas oportunidades e aumentar as exportações. A gente tem que organizar as cadeias prioritárias no Brasil e vender mais, porque há possibilidades concretas para isso”.

A superintendente também informou que para 2021 a previsão da Organização Mundial do Comércio (OMC) é de retomada de mais de 7% na comercialização, o que traz otimismo ao setor.

EXPECTATIVAS E DESAFIOS

As projeções da CNA para 2021 indicam aumento de 3% do PIB do agronegócio (R$ 1,8 trilhões) e de 4,2% no VBP (R$ 941 bilhões), além de queda nos preços dos alimentos aos consumidores e maior demanda do mercado externo.

“Vamos atingir 300 milhões toneladas de grãos (4,3% de aumento), um novo recorde, mas que poderia ser ainda maior se não fosse a questão climática. Os produtores de soja, milho e algodão estão com 50% da próxima safra vendida e conseguiram amarrar receita e custos. Porém, para os demais produtores, não há esta sinalização devido ao aumento de custos, como é o caso da pecuária de corte, do leite e hortaliças, por exemplo”, projeta Bruno Lucchi.

Apesar das perspectivas mais positivas, o cenário continua desafiador e dependerá do controle sanitário, da retomada econômica e das reformas tributária e administrativa para, principalmente, reduzir o endividamento do Brasil que já alcançou 96% de comprometimento.

José Zeferino Pedrozo também defende a manutenção da isenção dos tributos ao setor para assegurar maior competitividade e frear o aumento dos preços dos alimentos.

“Essa é uma luta que continua. Somos a favor da reforma tributária, mas sem aumento de impostos. Taxar defensivos agrícolas, por exemplo, não significa que o produtor deixará de usá-los, mas que os preços dos alimentos aumentarão lá na ponta”, sublinha.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM