Entenda como a monensina interfere no ganho de peso do gado

Entenda como a monensina interfere na suplementação de bovinos e qual sua relação com as bactérias Gram-positivas e Gram-negativas no rúmen do animal

Por Vários Autores* – A nutrição de ruminantes consiste em entender o desenvolvimento da microbiota ruminal a fim de criar estratégias para melhorar a eficiência dos microrganismos em aspectos relacionados a fermentação ruminal e aproveitamento de nutrientes pelo animal.

Tratando-se de uma pecuária lucrativa, a suplementação no cocho tornou-se uma ferramenta indispensável para bovinos, visto que somente as forrageiras não conseguem oferecer os minerais necessários para manutenção da exigência animal. Desta forma, a oferta de suplementos proteicos e energéticos é necessária para atender a nutrição adequada que o gado necessita.

Sabendo-se que a forragem não é suficiente para atender as demandas do sistema produtivo, e com objetivo de encurtar o ciclo de produção para produzir mais em menos tempo, manipulações dietéticas são essenciais para intensificar o processo e melhorar a dinâmica do ambiente ruminal favorecendo o desempenho animal.

A monensina é um aditivo classificada como ionóforos poliéster carboxílico produzido naturalmente a partir de cepas Streptomyces cinnamonensis. Os ionóforos agem no transporte de íons, através da membrana celular, o que altera o balanço químico entre o meio interno e externo da célula, forçando a constante perda de energia e morte celular (Duffield et al. 2012).

As bactérias Gram-positivas, Streptococcus bovis e Lactobacillus spp., são produtoras de hidrogênio, amônia e lactato, enquanto bactérias Gram-negativas são precursoras de propionato, um ácido graxo de cadeia curta responsável por grande parte da energia utilizada pelos ruminantes. As bactérias Gram-positivas são sensíveis a ação da monensina, devido à ausência de um envoltório celular e uma membrana externa constituída por proteínas, lipoproteínas e lipopolissacarídeos, que fornece a proteção existente nas Gram-negativas. Desta forma, quando a monensina é inserida à dieta dos ruminantes, atua no crescimento de determinadas bactérias de modo que os produtos gerados durante o metabolismo das bactérias beneficiadas proporcionam vantagens nutricionais, metabólicas e no desempenho do animal.

Em uma meta análise com 16 estudos publicados na literatura de bovinos de corte alimentados com adição do ionóforo monensina sódica, os autores relataram que em vários estudos analisados, apresentaram aumento consistente da proporção molar de propionato, além da redução da proporção molar de butirato e acetato (Ellis et al. 2012). Observaram também que o efeito da monensina sobre a produção de metano é dose dependente e que estes resultados foram confirmados em revisão de literatura (Beauchemin et. at, 2008).

Em outro estudo, Oliveira et al. (2005) utilizaram quatro novilhos holandeses fistulados no rúmen, alimentados quatro vezes ao dia (8, 11, 14 e 17 h), com dietas contendo teores baixo e alto de proteína (11,4 e 16,5%, respectivamente), com e sem monensina e verificaram que a adição de 28 mg de monensina/kg de MS (matéria seca) consumida proporcionou aumento da concentração ruminal do ácido butírico e da amônia quando foi oferecida dieta com alto teor proteico. O fornecimento de monensina sódica, independentemente do teor proteico das dietas, promoveu diminuição no consumo de matéria seca, aumento na concentração de ácido propiônico e redução do teor de ácido butírico, da relação acetato: propionato e da atividade específica de produção de amônia.

A queda na ingestão de matéria seca é devido ao maior tempo de retenção da dieta no rúmen, quando adicionada na dieta. Seus efeitos na redução dessa ingestão ocorrem de maneira linear decrescente à medida que a dose aumenta (Duffield et al., 2012).

Todavia, em dietas para bovinos, este aditivo deve ser fornecido por meio de um suplemento proteico-energético ou mineral para reduzir riscos de intoxicações, sendo recomendado inicialmente 200 mg/cabeça/ dia em 450g de suplemento. As bactérias ruminais de animais recebendo forragem são mais sensíveis à monensina quando comparadas àquelas de animais recebendo dietas ricas em concentrado, logo espera-se maior efeito deste aditivo no desempenho de ruminantes em dietas ricas em volumoso (Rocha Júnior et al., 2010).

Sendo assim, devido à crescente demanda por uma produção eficiente e em curto período de tempo na bovinocultura, considera-se que a monensina adicionada na suplementação que é fornecida no cocho, intensifica o sistema de produção, apresentando influência na conversão alimentar, melhora no desempenho, além de contribuir para a redução da metanogênese.

*Autores: Gabriella de Oliveira Nascimento; Hugo Jayme Mathias Coelho Peron; Katryne Jordana Oliveira; Pedro Paulo Alves Pinheiro; Tiago Pereira Guimarães

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Beauchemin KA, Buchanan-Smith JG. 2008. Effects of dietary neutral detergent fiber concentration and supplementary long hay on chewing activities and milk production of dairy cows. Journal Dairy Science 72:22-88 Duffield TF, Merrill JK, Bagg RN et al. 2012. Meta-analysis of the effects of monensin in beef cattle on feed efficiency, body weight gain, and dry matter intake. Journal of Animal Science, 90:4583-4592. Ellis JL, Dijsktra J, Bannink A, Kebreab E, Hook SE, Archibeque S, France J. 2012. Quantifying the effect of monensin dose on the rumen volatile fatty acid profile in high-grain-fed beef cattle. Journal Animal Science, 20:2717-2726. Oliveira, M. V. M; Lana, R. P.; Jham, G. N.; Pereira, J. C.; Pérez, J. R. O.; Valadares Filho, S. C. Influência da monensina no consumo e na fermentação ruminal em bovinos recebendo dietas com teores baixo e alto de proteína. R. Bras. Zootec. v. 34, p. 1763-1774, 2005. Rocha Júnior, V. R.; Maia, T. L.; Caldeira, L. A. Maximização do sistema ruminal. In: 6º Encontro de Zootecnistas no Norte de Minas. Montes Claros. Anais. p. 109-134, 2010.
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