Pecuária: Temperamento é coisa séria

Autoridade da raça Guzerá fala sobre a importância do temperamento dos bovinos nos dias de hoje, preferencialmente da raça dos chifres em forma de lira.

Por Eros Gazzinelli – “Aprendi em casa que os relacionamentos com pessoas de boa índole são mais seguros e produtivos; aprendi nas fazendas que os animais mansos e dóceis contribuem muito com a rotina no campo; aprendi na faculdade de engenharia que a produtividade tem relação direta com o baixo nível de stress; e aprendi na vida que o temperamento, bom ou mau, é, além de constante, contagioso.”

Pessoas ou animais, melhor evitarmos aqueles de piores comportamentos. Na pecuária, especialmente em seleção de gado Guzerá não pode ser diferente. Todos conhecem a má fama que a raça sofreu por décadas sobre seu temperamento. Parte dela graças à não-seleção dos primeiros animais importados da Índia e parte dela pelo preconceito e medo dos chifres em forma de lira (os mesmos que também fascinam).

Ainda que algumas literaturas sejam contraditórias acerca de quão alta (ou baixa) é a herdabilidade do temperamento em raças zebuínas, fato é que todas concordam no quanto a produtividade é afetada por essa característica que, na última década se transformou em uma das maiores prioridades dos criadores de Guzerá no Brasil.

Sabemos que além do fator genético, o temperamento dos animais também é afetado pelo meio, assim como nossos comportamentos também são afetados pela sociedade. Um bezerro recém nascido, de FIV por exemplo, ainda que descenda de uma família comprovadamente dócil, se sua mãe-receptora possuir temperamento arredio, ele aprenderá com ela como irá se comportar. Ou ainda o meio pode ser afetado pelo manejo dos peões, na forma como conduzem, como lidam e como tratam os animais no campo e no curral.

Hoje, os mais importantes criatórios da nossa raça são radicalmente contra animais bravos e até mesmo aqueles de “caráter duvidoso”.

Um touro para ser um bom reprodutor não tem que investir contra cavalos em defesa de suas fêmeas para demonstrar vigor ou fertilidade. Assim como uma vaca para ser boa mãe não deve ser valente para cuidar da sua cria, pelo contrário, a boa mãe amamenta na presença de pessoas. Isso por que animais mais tranqüilos desempenham melhor suas funções reprodutivas e habilidades maternais.

Animais bravios possuem ainda menor adaptabilidade, ou seja, sofrem com a mudança de ambiente, pastagem, manejo, clima, dieta, etc. Comprometem sua produção de leite, conversão em carne e até mesmo o ciclo reprodutivo é afetado pelo stress e mal estar que passam nas situações de mudanças.

Digo sempre que o melhor acasalamento para as vacas bravas é o açougue, até já me indispus com algumas pessoas sobre o tema. Porém hoje em dia até os açougues são resistentes aos animais com elevados níveis de cortisol no pré abate, pois já conhecem os malefícios à qualidade da carne que o stress resulta.

Mas vamos direto aos ganhos de uma séria seleção por bom temperamento:

  • Animais com melhor desempenho reprodutivo;
  • Maior conversão alimentar;
  • Maior ganho de peso;
  • Maior produção de leite;
  • Maior adaptabilidade;
  • Facilidade de manejo;
  • Menores custos com mão de obra;
  • Maior segurança no trabalho.

Ou seja, o bom temperamento é um fator que otimiza os ganhos e diminui os custos da fazenda, por que afeta diretamente a produtividade de todo o sistema, em todas as suas fases.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM