Pesquisadores buscam fertilidade e precocidade do Tabapuã

Universidade Federal de Lavras desenvolve pesquisa buscando selecionar características indicadoras de fertilidade e precocidade em animais da raça Tabapuã.

Por Prof. José Camisão de Souza & Prof. Sarah Laguna C. Meirelles

O melhoramento animal visando à maior eficiência reprodutiva ainda é pouco eficiente, devido ao longo período para avaliação do desempenho e a baixa herdabilidade desse tipo de características. Desta forma, muitas vezes as características reprodutivas não são melhoradas concomitantemente aos caracteres produtivos. Temos na atualidade animais altamente especializados para produção, mas que muitas vezes não apresentam um desempenho reprodutivo adequado. Algumas pesquisas recentes vêm sendo desenvolvidas por pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), com o intuito de selecionar, de forma precoce, os indivíduos reprodutivamente superiores em ambos os sexos, através da utilização de marcadores práticos e de baixo custo.

Pesquisas em fêmeas bovinas

Sabe-se que em fêmeas, o tamanho de estruturas reprodutivas pode influenciar a fertilidade. Desta forma, a genitália externa (vulva) pode ser um marcador de fácil mensuração que possui associação com índices reprodutivos, indicando que fêmeas de maior largura vulvar sejam mais eficientes na reprodução. Outro marcador de fertilidade que vem sendo amplamente investigado em fêmeas é a concentração do hormônio anti-mulleriano (AMH). O AMH atua como um indicador de maior reserva folicular ovariana podendo ser mensurado apenas uma vez durante toda a vida da fêmea. Dessa forma, a equipe escolheu a raça Tabapuã para iniciar as pesquisas, tendo em vista o seu bom desempenho reprodutivo e a crescente ascensão da raça no país.

Largura vulvar medida com paquímetro digital
Figura 1. Largura vulvar medida com paquímetro digital.Fonte: Mesquita et al., 2016.

As primeiras pesquisas foram iniciadas na Fazenda Coca, de propriedade do Sr. Alderico Pinheiro de Campos, onde foram utilizadas 52 fêmeas. Posteriormente, com o intuito de aumentar o número de animais avaliados, foi realizada uma parceria entre a UFLA e quatro fazendas de referência na criação do Tabapuã (Rodeio Gaúcho, Água Milagrosa, Quatro Irmãs e Chapadão) onde 590 fêmeas foram submetidas às análises.

As mensurações de genitália (figura acima), reprodutivas (ultrassonografia ovariana, avaliação dos registros reprodutivos) e da concentração do AMH foram realizadas de forma mais intensa na raça Tabapuã, devido ao maior número de animais avaliados até o momento. Entretanto, pesquisas em outras raças como a Brahman por exemplo já foram iniciadas através da parceria com a Casa Branca Agropastoril.

Após a avaliação dos dados, pôde-se constatar que a largura vulvar é um bom indicativo de maior reserva folicular ovariana e melhores índices reprodutivos (intervalo entre partos, índice de eficiência reprodutiva da ABCZ), além de estar associada a maiores concentrações de AMH. Desta forma, a utilização da largura vulvar como método de seleção das fêmeas zebuínas deve continuar sendo investigada para que possamos comprovar a eficiência de utilização dessa medida. Além do mais, o AMH foi associado ao maior sucesso nas biotecnologias reprodutivas como maior número de embriões produzidos via PIVE (produção in vitro de embriões).

Pesquisa em machos bovinos

Em se tratando de machos, as pesquisas desenvolvidas visam buscar marcadores que possam indicar precocemente o potencial reprodutivo dos touros, antes mesmo da incidência da puberdade, para acelerar a velocidade do melhoramento genético. A circunferência escrotal (CE) destaca-se por ser de fácil mensuração, alta herdabilidade e repetibilidade, além de possuir correlação positiva com características qualitativas e quantitativas do sêmen, peso corporal e idade à puberdade de machos e fêmeas. Além disso, também pode ser indicativo de maior precocidade sexual.

touro Tabapua Urro FIV
Touro Tabapuã Urro FIV, grande campeão da Expozebu de 2018 e campeão touro sênior da ExpoAraruama de 2018 / Foto: Divulgação/Fazenda Água Milagrosa

Além da CE, o AMH citado anteriormente como um hormônio potencialmente utilizado como marcador de fertilidade em fêmeas, também pode ser indicativo de precocidade sexual em machos. É sabido que durante a puberdade, a expressão do AMH é negativamente regulada por hormônios androgênicos como a testosterona. A expressão reduzida de AMH está intimamente relacionada com o aparecimento da produção seminal. Desta forma, o AMH pode ser um marcador eficiente da precocidade sexual, possibilitando a seleção de touros antes destes entrarem em idade reprodutiva.

Até o presente momento, foram investigados apenas 27 touros da raça Brahman oriundos da Casa Branca Agropastoril Ltda. Esses animais foram submetidos à coleta de sangue para dosagem hormonal, mensuração da CE e exames andrológicos periódicos para determinação da incidência da puberdade. Após avaliação, pôde-se constatar que os tourinhos que possuíam menor concentração de AMH no período que antecede a puberdade foram animais mais precoces, ou seja, iniciaram a produção seminal antecipadamente e possuíam maior CE. Desta forma, a equipe evidencia a necessidade de continuar as pesquisas, aumentando o número de animais e as raças envolvidas, para que se possa comprovar a utilização desse método promissor.

Características reprodutivas podem e devem ser melhoradas. O rebanho brasileiro precisa de animais reprodutivamente mais eficientes para que a produção seja cada dia mais rentável aos produtores. O melhoramento animal pode ser aplicado com a utilização de indicadores fáceis, baratos e práticos. Investir em pesquisas voltadas ao melhoramento do rebanho traz retornos econômicos a médio e longo prazo mas que serão duradouros.

Autores: Por Prof. José Camisão de Souza (jcamisao@ufla.br) e Prof. Sarah Laguna Conceição Meirelles (sarah@ufla.br) via zebu.org.br

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