Atenção produtores de leite da região sul do Brasil

Consultor alerta para os riscos de intoxicação e morte de bovinos leiteiros por por nitrito/nitrato; confira dicas essenciais, inclusive tratamentos emergenciais

Wagner Beskow – ALERTA: Logo após esta chuva, alto risco de INTOXICAÇÃO e MORTE de bovinos leiteiros por nitrito/nitrato no Sul do Brasil, durante os próximos dias, especialmente vacas em lactação. Estas perdas ocorrem quase todos os anos e são evitáveis. SEGURE O NITROGÊNIO e leia abaixo quais são os maiores riscos e dicas.

Animais com restrição alimentar ENTRANDO agora em dietas contendo forragens frescas com alto teor de nitrogênio no solo que estavam sob efeitos da seca na Região Sul. Quanto maior a produção individual da vaca, maior este risco.

Estiagem prolongada, assim como falta de luz solar, impedem a formação de proteínas vegetais a partir no nitrogênio absorvido pelas plantas, que se acumula como nitrato em excesso. Este acúmulo, sobretudo no milho safrinha, mas também em pastos, resulta em alta ingestão de nitratos nestes vegetais que são convertidos em nitritos no rúmen e absorvidos diretamente pela corrente sanguínea (o nitrito ocupa o lugar do oxigênio na hemoglobina e os animais morrem por falta de oxigênio).
O QUE FAZER (o que recomendamos AGORA):

  • Suspender a aplicação de qualquer forma de N no solo até que se tenha pelo menos 5 dias de sol após a chuva;
  • Animais que estão por entrar no tipo de forragem verde mencionada, saindo de outra dieta, fazer uma transição (adaptação do rúmen e da produção de hemácias) de 5-7 dias, começando com pouco consumo, poucas horas de exposição aos verdes acima;
  • Aumentar a oferta de CNF (carboidrato não-fibroso, amido), especialmente através de mais milho moído na ração. É necessário ampla oferta de amido para que as bactérias metabolizem este excesso de nitrato e o transformem em proteína bacteriana e não em nitrito, que passa a parede ruminal e é absorvido pelo sangue.
  • Nestes dias, dar preferência para predomínio de volumosos de baixo risco (volumosos estocados antes do problema e pastagens com baixo uso de N em cobertura).

AGRAVANTES:

  • Solos e dietas deficientes em enxofre (S) e molibdênio (Mo).

EVITAR NESTES DIAS, se as condições acima estiverem presentes:

  • Ração com monensina sódica. A seleção bacteriana feita por ela (desejável em qualquer outro momento), nas condições acima aumentará os riscos.
  • Se os animais não estão adaptados, e estão entrando nos verdes citados, também evitar neste momento dietas ou rações com ureia. São mecanismos diferentes, mas a ureia concorrerá por energia livre no rúmen para ser metabolizada (ou seja, aumenta o risco de intoxicação por nitritos).

QUEM NÃO DEVE SE PREOCUPAR:

  • Quem estiver a mais de 5 dias pós-chuva.
  • Quem já vem com os animais na dieta atual a mais de uma semana.
  • Quem tem matéria orgânica no solo abaixo de 3% não utilizou mais que 30kg de N na base e em cobertura até o presente momento.

SINAIS TÍPICOS DA INTOXICAÇÃO AGUDA: o mais característico são as mucosas cianóticas (roxeadas), especialmente focinho e vulva!! O sangue adquire coloração de chocolate.

Mas também:

  • Sialorreia (saliva que flui para fora da boca — o animal “baba”).
  • Ranger dos dentes.
  • Cansaço.
  • Taquipneia (grande aceleração do ritmo respiratório; respiração curta e acelerada), ou dispneia progressiva (dificuldade na respiração).
  • Ataxia (movimentos descontrolados, andar cambaleante).
  • Tremores musculares.
  • Contração abdominal.
  • Manifestações de baixo débito cardíaco (baixo volume de sangue bombeado por unidade de tempo).
  • Sonolência.
  • Decúbito lateral (deitado de lado). Relutância em se movimentar. Crise convulsiva.
  • Abortos.

O que fazer nestes casos: pare de movimentar os animais, não oferte mais nada além de água potável e chame um médico veterinário imediatamente.

QUANDO ESTE RISCO TERÁ PASSADO:

Com a volta do sol por pelo menos 5 dias seguidos.

TOMANDO OS CUIDADOS ACIMA, não há motivos para preocupações.

Reiteramos que se chame um médico veterinário para diagnóstico correto, mas se tudo acima fechar e houver animais agonizando, não dá tempo. NESTES CASOS AGUDOS, com animais em decúbito (caídos de lado) e com as condições descritas presentes, é necessário recorrer ao tratamento abaixo:

  • Tratamento emergencial (para salvar): azul de metileno (solução aquosa a 1%), de 4-15 mg/kg de peso corporal pela via IV. Ou seja, injeção na veia (intra-venosa). Fonte: “Diseases of dairy cattle”, DIVERS e PEEK (2008, p. 642).

Estas recomendações foram formuladas por Wagner Beskow da Transpondo, em consonância com a literatura científica internacional e com nossa experiência enfrentando este problema praticamente todos os anos, quando não por estiagem e seca, sim por prolongados dias sombrios, especialmente no inverno.

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