Bezerro atinge o “fundo do poço”; E o ciclo pecuário?

Em um momento que o pecuarista segue avaliando a opção de fechar os animais no cocho, os preços dos bezerros atingiu o menor patamar dos últimos 12 meses.

O mundo da pecuária teve um verdadeiro “Maio Vermelho”, onde foram observadas quedas em todas as categorias. Segundo o levantamento realizado, em maio de 2022, os movimentos de queda não foram observados somente nas cotações do boi gordo, como também nas de reposição. O destaque ficou para a categoria dos bezerros, machos e fêmeas, que atingiram o menor patamar dos últimos 12 meses, segundo os dados divulgados pelo Cepea.

Por conta da maior oferta desses animais pelas principais praças pecuárias do país, no comparativo anual houve um recuo nos preços para todas as categorias avaliadas. Do lado do pecuarista que trabalha com a recria/terminação, essa conjuntura pautou, inclusive, na tomada de decisão dos confinadores que, apesar dos insumos em alta, podem ver margem através da aquisição mais em conta dos animais para engorda.

Segundo os dados divulgados pelo Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa, os preços dos bezerros estão em movimento de queda consecutiva desde o começo de 2022. Segundo pesquisadores do Cepea, esse cenário é resultado de maiores investimentos em tecnologias por parte de pecuaristas, do aumento de produtividade e, sobretudo, da redução no abate de matrizes dos últimos anos.

Uma análise trazida pela página @cartapecuaria, essa quantidade de matrizes a mais no mercado, consequentemente, passou a produzir uma quantidade cada vez maior de bezerros até atingir o clímax em 2021 quando a quantidade de bezerros desmamados foi tão grande que o bezerro parou de subir e começou a cair.

O atual momento, além desses fatores, a chegada do período de desmama reforça a queda nos preços. Considerando-se as médias mensais deflacionadas, no acumulado da parcial deste ano, o Indicador do bezerro ESALQ/BM&FBovespa (nelore, de 8 a 12 meses, Mato Grosso do Sul) recuou 21%, passando para R$ 2.490,17 na parcial de junho (até o dia 7).

Em junho de 2021, o animal era negociado a R$ 3.328,73, em termos reais. Ou seja, em um ano, a desvalorização do animal é de expressivos 25,2%. Todos os valores médios mensais foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/22. 

Segundo o Imea, em Mato Grosso, no comparativo anual as quedas foram gerais com destaque para as bezerras de ano e de desmame, nas quais registraram decréscimo de 22,93% e 21,03%, respectivamente, sendo cotadas a uma média de R$ 1.895,03/cab. e R$ 1.668,81/cab. no estado.

Já no comparativo com o mês passado (abr.22), os animais com maior desvalorização se concentraram nos bezerros machos, com o bezerro de ano cotado na média de R$ 2.893,78/cab. e o de desmame, a R$ 2.571,09/cab.

Segundo a Scot Consultoria, colaborando com as informações acima, acompanhando o mercado do boi gordo, o mercado de reposição trabalhou em baixa nas últimas semanas. Confira como ficaram o preços na praça paulista, por categoria:

  • Boi Magro: R$ 4.050,00 ou R$ 10,80/kg
  • Garrote: R$ 3.300,00 ou R$ 11,00/kg
  • Bezerro: R$ 2.970,00 ou R$ 12,40/kg
  • Desmama: R$ 2.600,00 ou R$ 13,30/kg

Ciclo pecuário, segundo a Carta Pecuária

Em sua página no Instagram, a Carta Pecuária, informou que os ciclos na pecuária é o que acontece quando os criadores aumentam o seu rebanho de vacas (retenção) em resposta ao aumento dos lucros advindos no aumento nos preços do bezerro e também é a redução do rebanho de vacas (descarte) em resposta à diminuição dos preços dos bezerros.

Vamos relembrar – de 2015 até 2017 a oferta de bezerros aumentou bastante, o bezerro saiu de 1500 reais no seu pico de 2015 para 900 reais em 2017. Essa fase de queda, o bezerro puxou junto um aumento expressivo de abate de fêmeas, esse aumento nas fêmeas derrubou o preço do boi gordo.

Cuidado especial com matrizes traz benefício para a fazenda
Foto: Divulgação

Daí, em função da diminuição do rebanho de fêmeas a consequência foi que começou a faltar bezerros, então de 2017 até 2021 os seus preços subiram de 900 reais até 3.200 reais em 2021. Nesse mesmo período de 2017 até 2021 tivemos retenção de matrizes. Os criadores aproveitaram a alta contínua do bezerro para aumentar o seu plantel de vacas.

Foi a maior retenção da história de vacas essa janela de 2017 até 2021.

Essa quantidade de vacas a mais passou a produzir uma quantidade cada vez maior de bezerros até atingir o clímax em 2021 quando a quantidade de bezerros desmamados foi tão grande que o bezerro parou de subir e começou a cair.

Junto com essa queda do bezerro, novamente estamos vendo acontecer uma maior oferta de vacas de descarte, de novilhas, de vacas com bezerro no pé. Essa sobre-oferta de fêmeas pesa no mercado e derrubou os preços tanto das vacas quanto, e principalmente, do boi gordo.

Agora lembre-se que desde 2015 até 2017 e desde 2017 até 2021 tivemos safras e entressafras. Os ciclos não atrapalham a dinâmica da oferta de animais na safra e a falta de animais na entressafra. O que o ciclo faz é colocar um Viés nesses movimentos, uma sequência de anos em alta nos anos de retenção de fêmeas e uma sequência de anos em baixa nos anos de descarte.

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