Não seja um produtor rural com “Síndrome de Gabriela”

O produtor passa por resistência e aceitação da tecnologia e gestão no campo, causando atraso no objetivo brasileiro de ser celeiro do mundo

Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou sempre assim…Gabriela”. O trecho da música escrita por Dorival Caymmi e interpretada por Gal Costa fez sucesso na TV na década de 1970, quando foi tema da personagem central da telenovela Gabriela — uma adaptação da obra do autor baiano Jorge Amado. A trama mostra uma mulher que não conseguia se adaptar aos costumes da época e se recusou a moldar seu jeito espontâneo e um pouco rude para se enquadrar na cidade em que vivia.

Esse comportamento obstinado é chamado de Síndrome de Gabriela, sendo observado em pessoas que acreditam que não precisam mudar ou adaptar seu comportamento a situações que não lhe agradam. Ao se recusar a mudar, acreditando que o que fez a vida inteira da mesma maneira permanecerá até o fim da vida, pode dificultar o crescimento e até mesmo a saúde financeira do seu negócio rural. Isso porque as mudanças fazem parte da evolução do ser humano e, para isso, é preciso se abrir para o novo e se permitir rever os próprios conceitos e crenças de vez em quando.

sindrome de gabriela
Fonte: Geração de Valor

Porque o produtor deve adaptar-se?

60% dos pecuaristas em atividade vão desaparecer em 20 anos” – a avaliação é do consultor Francisco Vila. O fenômeno é explicado pela possibilidade de um negócio não rentável ser substituído por um lucrativo, ou seja, pequenos produtores de gado poderão abandonar a atividade por não terem lucro, logo, estar dentro dos 40% restantes na atividade requer aplicação de tecnologias, treinamento de mão de obra, planejamento e tomadas de decisões acertadas, certamente, com ajuda de consultorias especializadas.

Margem da pecuária recuou 68% desde a década de 90 – A atividade pecuária é um atividade de risco. Para a analista Lygia Pimentel da Agrifatto, “isso é comum a todos os produtos de sistemas agroindustriais”. Ela afiram que o movimento faz com que o pecuarista tenha que crescer em eficiência para que possa continuar na atividade. Aumento de produtividade, diluição de custos fixos, gestão de riscos e ganho de escala são as palavras de ordem. “Como os preços não são passíveis de controle, a solução se concentra em gestão e tecnologia”.

Porque levantar esse questionamento?

Dados divulgados pela Embrapa mostram que o Brasil tem 61 milhões de hectares de pastagens sem manejo. Das áreas cultiváveis aproximadamente 44% são ocupadas com pastagens, 46% destas áreas estão sem uso e apenas 10% são utilizadas para integração com agricultura. A degradação das pastagens é um dos principais problemas enfrentados pela pecuária brasileira. Estima-se que o país possui 180 milhões de hectares de pastagens disponíveis para a alimentação dos animais, mas 50% dessa área apresentam algum tipo de degradação, muitas em estágio bastante avançado. Isso nos mostra que algo precisa ser feito para que essas áreas tornem-se produtivas.

Aqui vos digo outros exemplos muito presente no dia-a-dia rural. O produtor sempre está buscando o melhor tipo de capim (forrageira) para usar na sua propriedade, mas arrepia o pêlo quando alguém lhe fala da necessidade de adubar pastagens. Outro questionamento amplamente debatido é: qual a melhor raça leiteira quando pensamos em Brasil. Essas perguntas não são simples nem são uma matemática exata, vai depender de clima, geografia, nutrição, manejo e principalmente qual será o sistema implementado na fazenda. Não existe a melhor vaca de todas, mas sim a melhor para o sistema e ambiente lhe oferecido.

Por isso é tão importante buscar conhecimento, procurar um profissional ou consultoria para que possa ajudá-lo no seu negócio rural, como qualquer empresa, avaliar os riscos do investimento é crucial para o sucesso ou insucesso da sua empresa. Por conta de termos um país geograficamente gigante, o que deu certo em Passo Fundo, Rio Grande do Sul pode não ser a melhor solução em Ariquemes, norte de Rondônia.

Uma mudança que estamos vendo no campo é a questão da sustentabilidade e bem-estar animal. Essas duas palavras tem um poder gigantesco de transformação, e se você não as pratica ainda precisa urgentemente rever seus conceitos. Nós somos o maior player agro do mundo, nossos concorrentes fazem lobby de que somos destruidores da Natureza e que maltratamos animais, mesmo não sendo verdade, isso pode nos custar caro.

Indico também a leitura deste artigo – Agro supera síndrome de Jeca Tatu para liderar Brasil. Imagem de vilão do século passado é superada com produtividade e sustentabilidade; agro é único setor da economia com crescimento na pandemia.

Síndrome de Gabriela: quais são as causas?

A falta de autocrítica e autoconhecimento são as principais causas para a síndrome, que pode prejudicar (e muito!) os relacionamentos pessoais e profissionais. Está relacionada a uma forte resistência ao novo e à dificuldade em aceitar mudanças. Indivíduos que apresentam o problema não conseguem enxergar que sua forma de ser e agir pode estar, na realidade, sabotando a si mesmo em diferentes esferas da vida. O principal gatilho que gera esse tipo de comportamento é o medo da mudança.

Recentemente os cantores sertanejos Antony e Gabriel lançaram uma música chamada, “A roça venceu”. Essa vitória do agronegócio é cada dia mais evidente no Brasil e no mundo. A busca por informações de como investir no agronegócio cresce de forma exponencial (dados do Google), por isso se você é de agro, atente-se ao mundo ao seu redor, engaje, posicione-se nas redes sociais. Se queremos ser o celeiro do mundo nos próximos anos teremos que pisar no acelerador e ficar de olho na sustentabilidade e bem-estar animal.

Permita-se mudar crenças e comportamentos limitantes, refletindo diretamente na maneira como você lida com as pessoas que fazem parte do seu dia a dia. Tudo na vida é mutável e sempre é possível melhorar, basta encontrar um novo direcionamento e se reinventar.

Fontes: Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional (Sbie)

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