Vendemos leite em real e tratamos de vaca em dólar

Federação mineira que apoia produtores alerta para as dificuldades que enfrentada pelo setor diante da crise do Coronavírus

Os desafios da pecuária leiteira diante da pandemia do coronavírus não são poucos, mas a produção segue normalizada e, no momento, não há risco de falta de leite para a população. No entanto, há questões preocupantes para a atividade, que foram discutidas em transmissão ao vivo (Live) pelo Instagram pelo presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite do Sistema FAEMG, Eduardo Pena, com participação da coordenadora da Assessoria Técnica da FAEMG, Aline Veloso.

“Há muita insegurança, diante da volatilidade do mercado; do elevado custo de produção por causa do reajuste da ração (preços de soja e milho seguem cotações internacionais e são influenciados pelo dólar); e da perda de renda da população e consequente retração do consumo de leite”, afirma Eduardo Pena.

Momentos de destaque da Live:

“A instabilidade gera apreensão. E os preços, para os quais antes existia alguma previsibilidade mensal, agora oscilam fortemente semanalmente e até diariamente. Isto é muito ruim.

Estamos vendendo leite em real e tratando de vaca em dólar.

“A pressão maior vem das commodities: a alimentação dos animais representa de 65% a 70% do preço do leite e as cotações de milho e soja não param de subir por causa da alta do dólar e aumento das exportações, mais convenientes por causa do câmbio.”

“Na cadeia produtiva do leite, houve problemas de captação no início dos processos de isolamento social nos municípios. Algumas cidades fecharam o trânsito, rodovias. Mas foram casos isolados que já foram normalizados.”

“Os fechamentos geraram impacto direto para os produtores de queijo do estado. Muitos laticínios não têm o selo do SIF têm o estadual, o SIM, podem trabalhar os artesanais, mas não sabiam o que fazer com este leite. Uma das ações da FAEMG junto à CNA foi buscar a permissão do Ministério da Agricultura para que as empresas com SIF pudessem absorver este leite destes pequenos laticínios. Conseguimos que as indústrias captassem esse leite, o que amenizou bastante”

“A função do produtor é produzir alimento. É trabalhar sem pensar neste colapso. É difícil traçar um cenário a longo prazo, mas esperamos que as coisas entrem na normalidade. Temos que continuar firme e pensar em seguirmos o que estamos fazendo, produzindo alimentos. Esperamos que não aconteça nenhum colapso.”

“Estamos tomando todos os cuidados para prevenção do coronavírus no meio rural, com controle para que isto não afete o campo, para não prejudicar a produção de alimentos. O campo tem que se cuidar muito.”

“No início do isolamento, o varejo aproveitou de certa forma para elevar preços, às vezes colocando culpa no produtor, e isso não foi verdade.”

“Na última reunião do Conseleite Minas, no dia 27, foi publicado o valor de referência e foi apontado o aumento de R$ 0,076 no litro de leite pago ao produtor. Temos que ter cautela porque não sabemos o que está por vir. O que precisamos é tentar diminuir o percentual de erros.”

“O Conseleite trabalha com dados técnicos e nos fornece valores de referência. Todos os meses, sentamos e discutimos todos os fatores inerentes à cadeia produtiva do leite. Indústria e produtores rurais tratam de tudo com respeito. No site (www.conseleitemg.org.br), o produtor faz o cálculo para o valor de referência do seu próprio leite, de acordo também com a capacidade da indústria.”

“É importante escutar o seu técnico para tomar as melhores decisões na atividade.”

“Meu recado para o produtor de leite: se tiver de desistir, desista de ser fraco. Siga trabalhando, discuta com seu técnico a melhor alternativa e, se Deus quiser, vai dar tudo certo.”

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