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Covid-19: Pecuária nos EUA anda mau das pernas

A pandemia espalhou-se pelas unidades das indústrias e fez com que 20 frigoríficos de proteína animal interrompessem as operações

As últimas semanas foram recheadas de notícias negativas para a pecuária norte-americana, muito mais do que em terras tupiniquins. Por lá, a pandemia da COVID-19 se espalhou em unidades processadoras de carnes e fez com que cerca de 20 frigoríficos de proteína animal interrompessem as operações, incluindo grandes plantas da JBS, Tyson Foods e SmithField Foods.

Sem local para abater os animais, os produtores viram as cotações despencarem. O suíno já caiu mais de 25% desde janeiro, enquanto o boi gordo recuou mais de 30% em 2020, voltando ao patamar de maio de 2018. Os criadores já começam a se ajustar a essa nova realidade, puxando o freio de mão na produção de animais.

preco do boi gordo nos eua
Fonte: USDA

Os dados semanais nos EUA mostram que a realidade deve ser dura nas próximas semanas, o que levantou as orelhas da administração Trump. O abate de bovinos da última semana foi de 469 mil cabeças, uma queda de 27% frente a mesma semana de 2019. No caso dos suínos a queda no abate é de 15% no comparativo anual. Os números dos confinamentos nos EUA seguem a mesma dinâmica. Em abril/20, o número de animais colocados em confinamentos no início do mês de abril/20 foi de 1,55 milhão de cabeças, diminuição de 23% frente a abril/19.

quantidade de bovinos em confinamento nos eua
Fonte: USDA

Em virtude disso, a pecuária norte-americana já começa a ver apenas uma saída para seus animais oriundos de sistemas intensivos, o sacrifício. O governo norte-americano já está oferecendo ajuda aos produtores que estejam à procura de serviços de eutanásia, facilitando até mesmo o financiamento em alguns casos.

Além de afetar os produtores, a paralisação das unidades frigoríficas devido à pandemia tem afetado diretamente a outra ponta do negócio: o consumidor final. Com a diminuição drástica da produção, o risco de desabastecimento entra de maneira aguda no radar e, com isso, os preços das carnes no atacado e para o consumidor tem subido com rapidez, trazendo consigo a inflação sobre os alimentos dos norte-americanos.

O preço da carne suína, que vinha acompanhado a desvalorização do suíno vivo, começou a reverter, e subiu 12% na última semana, ficando com valores acima da média dos últimos cinco anos. Com a intensificação do problema de abastecimento, a tendência é que a cotação continue a subir. No caso da carne bovina, a valorização segue ainda mais intensa, de modo que seus preços já romperam a máxima de 2020 e 2019, imprimindo valorização de 17% no comparativo anual.

preco da carne bovina no atacado dos eua
Fonte: USDA

Desta forma, a pecuária norte-americana caminha para um 1º semestre que era totalmente irreal há 2 meses. Aliás, quem colocasse uma projeção dessas na mesa certamente seria taxado de maluco. De um lado, os produtores se descapitalizam e liquidam o plantel, o que deverá levar a atividade pecuária a níveis de inventários dos mais baixos. Já o consumidor final observa a chegada de uma forte inflação sobre os preços das proteínas animais com risco de (uau!) desabastecimento, enquanto observa outros itens (como a gasolina) sofrer com deflação.

E, por fim, essa possibilidade de desabastecimento pressionou o governo de modo que Trump anunciou que pretende assinar um decreto exigindo que unidades de processamento permaneçam abertas. É claro que isso, na prática, não assegura que haverá animais para serem abatidos ou sequer que os pecuaristas estarão dispostos a cedê-los aos abatedouros. Mas a combinação de possibilidades é grande e promete fazer tremer os preços.

Yago Travagini, economista e consultor da Agrifatto

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