FATO! Pecuária de precisão faz diferença no lucro

Do artigo “A pecuária de precisão já chegou. E faz diferença na rentabilidade!” de Mariane Crespolini para a SCOT Consultoria.

A transformação da bovinocultura de corte está ocorrendo em passos largos. Saímos de uma produção caracterizada como “reserva de valor”, para uma atividade cada vez mais empresarial. O que o futuro apontava, já está acontecendo: a PECUÁRIA DE PRECISÃO. Os números controlados deixam de ser uma média, chegando a detalhamento individual, por animal! Nesta análise, apresento alguns resultados do Confinamento Santa Fé, localizado em Santa Helena – Goiás, onde foi possível aumentar em 30% a margem líquida, acompanhando os dados individuais dos animais confinados.

Para começarmos: o desafio de atingir o lucro máximo – Um dos temas que mais me fascinou no mestrado e no doutorado foi como estimar o “ponto ótimo” da produção: isto é, a quantidade produzida onde obtemos lucro máximo. Se você acompanhar os dados das 420 propriedades do Inttegra, a conclusão da equipe do Antônio Chaker é que as propriedades “top produtividade” não são as “top rentáveis”. Esta observação é explicada pelo fato de que produzir uma arroba a mais, por boi ou por hectare, vai ficando cada vez mais caro. Minha pergunta é: Qual é a produção e produtividade economicamente ótima? Como atingir o ponto de máximo lucro?

A complexidade de uma indústria a céu aberto e com potencial genético tão distinto – Estimar o ponto de lucro máximo em uma indústria é relativamente fácil. A maior parte dos fatores são controlados. Se pensarmos na produção de cadeiras, por exemplo, todas as cadeiras são produzidas com a mesma entrada de insumos e saem, ao final da produção, idênticas. Eu consigo saber exatamente quando custa para produzir cada “cadeira a mais”. Na pecuária, uma indústria a céu aberto, com animais com diferente genética, é muito difícil estimar este ponto.

No confinamento, a análise fica mais visível

O raciocínio de “quanto custa para produzir uma unidade a mais” fica mais claro no confinamento. Sabemos na prática que quanto maior o peso do animal, mais energia ele gasta para manter seu peso. Depois do ponto de “lucro máximo”, eu tenho que colocar muito mais quilos de ração para a produção de um quilo de carne.

Conforme a figura 1 ilustra, no início do confinamento, o Ganho de Peso Diário (GPD) é muito elevado. Quando já faz 70 a 80 dias que o animal está confinado e, na média, o animal está mais pesado, o GPD começa a cair. A conversão por quilo de ração é menor. Veja que, especialmente após os 120 dias de confinamento, o GPD tende a cair para menos de 1,4 kg.

Figura 1.Ganho de Peso Médio Diário – Confinamento Santa Fé, 2012 a 2016.

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Fonte: Confinamento Santa Fé, Santa Helena (Goiás) / Elaborado pelo autor.

Quando a média nos ilude – Você acha que os dados acima são suficientes para você decidir quantos dias seu animal fica no cocho? Lembra do exemplo da indústria da cadeira? Diferente da indústria “a céu fechado”, em um mesmo lote, o potencial genético dos animais é muito diferente. Podem até ser animais filhos de um mesmo pai, seja touro ou inseminação, mas 50% da genética é diferente, vem da mãe! É por isto que, mesmo recebendo o mesmo manejo nutricional, o desempenho dos animais é diferente.

Portanto, ainda que sejam importantes, os dados de GPD médio podem ser analisados de forma mais profunda, individualmente. É isto o que o Confinamento Santa Fé tem feito e que eu gostaria de compartilhar os resultados com você.

Analisando os indivíduos: A pecuária de precisão

A margem do terminador tem apertado, falei sobre isto neste texto, o que faz com que a pecuária de precisão não seja uma alternativa, mas uma necessidade. Veja a figura 2. Ela nos mostra que há uma diferença muito expressiva entre os melhores e os piores indivíduos que entraram no confinamento Santa Fé, no ano de 2016.

No período analisado, de maio a junho, os melhores animais obtiveram um GPD que variou entre 1,7 kg por dia até 2,2 kg. A média registra um valor muito próximo ao observado no Brasil, 1,6 kg por dia. Porém, o ponto mais importante do gráfico são os piores animais – ficam entre 0,7kg e 1,2kg de GPD. Este é meu ponto principal: em suínos e aves, os refugos tendem a ser descartados. Vale a pena manter este animal com pouco potencial genético na terminação intensiva?

Veja que, nestes animais piores, ao final do período, além do GPD ser muito mais baixo, há ainda uma queda muito expressiva, em função do quanto estes animais exigem da nutrição para manter seu peso. Será que este animal não está “comendo” o lucro do animal de alto potencial? As estatísticas do confinamento Santa Fé apontaram que, 84% dos animais que foram identificados como “piores”, não melhoraram seu desempenho. A conversão alimentar deles foi inferior ao ponto de equilíbrio – para compensar os custos.

Figura 2.Evolução do GPD dos melhores, média e piores animais do Confinamento Santa Fé, em 2016.

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Fonte: Confinamento Santa Fé, Santa Helena (Goiás).

Como a equipe do confinamento tem utilizado estas informações – Com base no desempenho diário dos animais, resultado das pesagens constantes, a equipe do Confinamento tem feito um trabalho rigoroso, trazendo a informação como estratégia para tomada de decisão.

Primeiramente, os animais “piores” são retirados das baias. Conforme a performance deles cai, e os tomadores de decisão percebem pelas estatísticas que eles não irão melhorar, passa a não ser mais economicamente racional mantê-los no confinamento. Além dos animais piores, as estatísticas permitem decidir entre o momento de manter por mais dias no cocho animais que já atingiram peso de abate mas que o GPD continua elevado. Este acompanhamento é diário! Impressionante, não?

Do mesmo modo, há animais que “aos olhos” deveriam ficar mais uns dias no confinamento. Mas, que os números das pesagens mostram que o metabolismo daquele animal está gastando muito para manter o peso. Neste caso, não faz sentido esperar engordar um pouco mais. Pois esta engorda “a mais” começa a sair caro.

Entre piores e melhores, o Confinamento Santa Fé estimou que, ao controlar individualmente cada animal e não mais o lote, utilizando de números individuais para decidir manter ou retirar os animais no confinamento, a margem líquida de lucro aumentou em 30%, se comparada ao que eles fariam sem a o uso da tecnologia. Mas, ressalto: não é apenas a tecnologia, é uma combinação entre a tecnologia e a gestão estratégica da equipe. O confinamento Santa Fé tem buscando obter o ponto de “lucro máximo” de cada indivíduo. Uma estratégia utilizada nas grandes indústrias. Isto sim que é uma pecuária de precisão! Uma combinação de tecnologia e equipe.

Para finalizar – Caro pecuarista, meu objetivo neste texto não foi fazer uma “análise científica”, mas te contar sobre um caso que conheci e que mostra como a pecuária brasileira tem evoluído rapidamente. E, mais que isso, essa precisão contribui nas decisões de estratégia financeira. A pecuária de precisão não é o futuro, ela já é o presente e faz diferença na rentabilidade.

por Mariane Crespolini

Graduada em Gestão Ambiental pela ESALQ/USP, mestre e doutoranda em desenvolvimento econômico pela Unicamp. Pecuarista em Mato Grosso. Pesquisadora, consultora e palestrante em temas relacionados à economia. Responsável pelo projeto de rentabilidade da pecuária do Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária (IMEA).

Via SCOT Consultoria

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