Análise: Pecuária de ciclo curto x tradicional

Existem muitas dúvidas sobre os sistemas de produção da pecuária brasileira, confira uma análise sobre a pecuária de ciclo curto versus pecuária tradicional.

João Wilian Dias Silva

No Brasil existem basicamente dois sistemas de produção de bovinos, um marcado por investimentos em nutrição, genética e manejo, visando abater animais precocemente e elevar a produtividade por animal e por área, e o outro predomina o sistema extensivo, onde existe pouca ou nenhuma utilização de tecnologias, resultando em baixa lotação e ganho de peso sendo os animais abatidos tardiamente.

O sistema tradicional de produção perdurou por muito tempo, e ainda e frequente em algumas propriedades. Esse sistema de produção foi considerado ate meados dos anos 90, como um sistema de poupança, onde a existência de grande quantidade de animal nas pastagens causava segurança e tranquilidade aos produtores, com isso a preocupação com a produtividade e o desenvolvimento da pecuária ficava em segundo plano (Martins et al., 2000).

Contudo esse cenário mudou e hoje a pecuária moderna não admite esses produtores, a cada dia o mercado exige que a atividade seja profissionalizada, de forma que acompanhe a demanda do mercado consumidor. Segundo Missio et al (2009) o modelo de sistema tradicional é pouco eficiente economicamente, sendo a redução da idade de abate uma alternativa de grande viabilidade, pois eleva o giro de capital investido, liberando áreas da propriedade, aumentando o numero de matrizes e bezerros, aumento da produção e ganhos em produtividade consequentemente possibilitando a exploração do ganho com a venda dos animais em escala, aumentando o capital de giro da propriedade e melhorando a receita a longo prazo.

Segundo dados do IBGE (2012), em 2011, cerca de 15 milhões dos bovinos abatidos em território nacional foram de indivíduos com idade superior a dois anos, enquanto que o abate de novilhos, considerados os animais com idade inferior a dois anos, foi de apenas dois milhões de cabeças aproximadamente. Isso nos mostra que a pecuária brasileira é caracterizada pela produção e terminação de bovinos com idades mais avançadas.

No tocante, para que a pecuária mantenha-se competitiva é primordial alterações no sistema de produção da bovinocultura no Brasil, buscando meios que vise à intensificação da produção, em virtude principalmente da necessidade de elevar a produtividade, e atender a crescente demanda por produtos cárneos no mundo.

A produção de bovinos no Brasil é uma atividade de grande importância para a economia do país, visto que participa de grande parte do PIB, onde em 2016, o PIB da pecuária correspondeu a 31% do PIB do agronegócio (ABIEC, 2017).

Contudo, a pecuária ainda tem muito potencial a ser explorado, e que deve ser alcançada com investimentos em intensificação, uma vez que a produção de bovinos no Brasil ainda é desenvolvida em grande parte do País de forma tradicional e sem uso de tecnologias e que ocasiona baixa produtividade e influência na eficiência e na produtividade animal.

Observando alguns dados da literatiura, fica evidente a necessidade de adesão de um sistema de produção mais eficiente e intensificado por parte dos pecuaristas. Essa mudança é necessária, principalmente devido crescente demanda por produtos cárneos no mercado, e com esse modelo de sistema extensivo o aumento da produção só acontece com a abertura de novas áreas de pastagens que não é o desejado.

Nesse pressuposto, após uma analise realizada por Martha Jr. et al. (2012) constatou-se que esse aumento na produção de bovinos de corte da-se pela eficiência no aumento de produtividade através de melhorias nos índices zootécnicos mencionados acima. A melhoria nesses indicies podem ser alcançadas com praticas de manejo, melhorias na nutrição e genética dos animais.

Segundo Cardoso et al, (2016) com a intensificação dos sistemas de produção a área necessária para se produzir a mesma quantidade de carne em um sistema intensivo comparado com o extensivo com pastagens degradas é 7 vezes menor.

Nesse sentido, a adoção práticas como o uso da suplementação, o confinamento para terminação, o semi-confinamento e a suplementação no período seco são estratégias que vêm sendo utilizadas para aumentar a eficiência e a produtividade, reduzir o ciclo de produção, melhorar a qualidade e o acabamento das carcaças e, consequentemente, fazer uso sustentável da terra e dos recursos naturais (ABIEC, 2014).

Segundo Hoffmann et al. (2014) técnicas de intensificação que permitam o aumento da produtividade da criação de bovinos sob pastejo, devem ser consideradas, pois tornam-se uma ferramenta para otimizar o uso racional dos recursos disponíveis, que possibilitem incrementos na receita final de maneira eficiente e sustentável

Sistema tradicional x intensivo

No subsistema tradicional, predomina a pecuária extensiva e semi extensiva, dependente basicamente do suprimento de nutrientes dos pastos, restringindo a suplementação alimentar ao fornecimento de sal comum e/ou suplemento mineral aos animais. A suplementação, na época da seca, é feita somente com suplemento ureado (20% a 30% de ureia na mistura mineral) ou proteinado de baixo consumo. Nesse subsistema, não há investimento em melhoria da qualidade das pastagens, que em grande parte encontra-se em estágios variados de degradação.

Os sistemas semi-intensivo e intensivo possibilitam maiores desempenho animais com melhoria na eficiência alimentar e, consequentemente, redução das idades de abate e do primeiro parto. Nesses sistemas os animais recebem algum tipo de suplemento alimentar na pastagem e caracteriza-se pelo grande número de animais por hectare, em pastagens com alta capacidade de suporte ou em confinamento.

A partir da ultima década do século XX a agropecuária brasileira passou por profundas transformações frente à nova ordem econômica mundial, no entanto apenas uma parcela dos pecuaristas investe na intensificação dos sistemas de produção Reis et al., (2011).

Contudo a demanda por produtos cárneos tende a crescer nos próximos anos, e o Brasil é um País com grande potencial para ganhar esse mercado. Porem esse modelo extrativista de produção pecuária, vigente ao longo das últimas décadas deve ser revisto no sentido de adequar-se à nova realidade do setor produtivo. Tal conjuntura demanda aumento da eficiência técnico-econômica da propriedade para assegurar a competitividade e a lucratividade do empreendimento frente às alternativas de uso do solo, de modo sustentável, sem impactar negativamente o ambiente (Martha Jr. et al., 2006).

Com o uso de tecnologias de forma racional permite aumentar a produtividade e consequentemente reduzir o custo médio unitário, e por esse motivo que as propriedades mais tecnificada são mais competitivas. Contudo essa racionalidade, segundo Amaral, (2007) esta intimamente relacionada à racionalidade nos processos de tomada de decisões.

Ao analisarmos o sistema de produção tradicional e o sistema de pecuária de ciclo curto podemos observar que existe uma diferença discrepante nos indicies produtivos, resultando em menores desempenhos e consequentemente reduzido ganho de peso.

O processo de intensificação influencia na redução da idade de abate dos animais, que, por conseguinte resulta em uma pecuária de ciclo curto com maior competitividade e lucratividade. Nos dias atuais essa pecuária tradicional, com baixos indicies produtivos, sem investimentos, não tem mais espaço, uma vez que estudos apontam pra uma reduzida margem de lucro por hectare, nesse sentido é preciso intensificar o sistema para obter maior taxa de abate, maior rotatividade na área e consequentemente maior ganho por animal e por área. A redução da idade de abate proporciona maior velocidade de giro do capital investido, diminuindo os custos de produção por kg produzido, mesmo que a receita por animal seja menor (Restle, 2002; Pötter, 2003).

Nesse sistema a produtividade anual é maior do que 180 kg de peso vivo, ou seja, maior que seis (6@/ha/ano). As taxas de desmama normalmente são maiores que 75%, com a idade de abate dos machos e a idade ao primeiro parto da matriz variando entre 24 e 36 meses de idade. Nesse subsistema, o ganho médio de peso diário dos animais durante as águas fica entre 0,6 e 1,0 kg/animal e, na época da seca, os animais podem ganhar de 0,5 a 0,8 kg/dia a pasto ou, ainda, acima de 1,0 kg por dia em sistemas de confinamento.

Ressalta-se que o aumento da intensificação leva ao aumento do custo de produção da @, principalmente a maior demanda de insumos no sistema. Porém ao analisar a renda por hectare nota-se que a mesma aumenta de forma linear, ou seja, maiores gastos com investimento resultam em maiores rendas.

Em estudo realizado por Siqueira, (2016), foi observado que a rentabilidade/ha nos dois últimos anos foi superior a R$ 1.500,00, demonstrando que a atividade pecuária, quando realizada aplicando os conceitos teóricos de forma adequada na prática geram resultados econômicos bastante satisfatórios.

Em análise econômica realizada por Figueiredo et al. (2007), comparando quatro estratégias de suplementação para abate com 18, 24, 30 e 40 meses, foi observado que apesar dos maiores custos operacionais totais (COT) da estratégia dos 18 meses, este foi o que teve maior margem liquida por cabeça/ano.

Ao optar pelo uso de sistemas com maior intensificação o produtor deve está ciente dos investimentos financeiros e da necessidade de buscar informações antes de aplicar alguma tecnologia.

Estratégias para Intensificação da Pecuária

Segundo Paulino et al., (2002) a pecuária de ciclo curto é um caminho para incrementar a rentabilidade de cada produtor, bem como a eficiência e a competitividade da bovinocultura de corte, uma vez que tem-se um produto de qualidade conhecida e superior, produzida em períodos e custos cada vez menores. Para tal é primordial a conciliação da nutrição com a genética para que o animal possa expressar seu potencial produtivo, ou seja, as precocidades de crescimento, sexual e de acabamento.

Em decorrência das pressões em que bovinocultura de corte sofre principalmente dos ambientalistas e da expansão da produção agrícola, o processo de intensificação para alcançar maior produtividade tem se tornado uma obrigação, visando reduzir a idade ao abate, aumentar os índices reprodutivos e aumentar a produção por área, e isso implica na necessidade de maior uso de alimentos concentrados e de pastagens bem manejadas ao longo do ano (Moraes et.al. 2013).

A pecuária de corte vem ao longo dos anos estreitando a margem de lucro, onde a rentabilidade reduziu drasticamente em comparação a rentabilidade obtida na década de 70. Segundo dados da Agroconsult (2013), é preciso que a pecuária moderna vislumbre o aumento da produtividade por hectare, ou seja, para equiparar a rentabilidade obtida no passado, seria necessário ser produzidas 7,4 vezes mais @/há. Para que essa meta seja atingida faz se necessário a adoção de tecnologias, planejamento e gestão empresarial da fazenda (Siqueira, 2016).

Segundo Paulino et, al., (2002) a elevação dos índices de produtividade é um caminho para incrementar a rentabilidade e elevar a competitividade da bovinocultura de corte. Com isso a redução da idade de abate para 11 a 21 meses associada à idade a primeira cria aos dois anos e às taxas de desmame superiores a 85% resultariam em diminuição do ciclo pecuário, bem como elevação na taxa de desfrute do rebanho para níveis próximos a 40%. Além de obter um produto de qualidade superior e que possa atender as exigências do mercado consumidor, obtém benefícios ambientais, para atender à crescente demanda por produtos mais sustentáveis, sobretudo o aumento da lucratividade e o aumento do giro do capital (AMARAL et al., 2012).

Segundo Hoffmann et al., (2014) quando se almeja uma pecuária de ciclo curto com altos ganhos por área e produtividade acima da média nacional, algumas tecnologias tornam-se imprescindíveis no sistema, no que tange a produção de bovinos em pastejo. Como o sistema de produção do Brasil é baseado em pastagens, para que o processo de intensificação ocorra, algumas tecnologias como: recuperação e renovação de pastagens; (diferimento) e suplementação e adubação de pastagens, manejo e rotação e/ou irrigação de pastagens, semiconfinamento e confinamento, integração lavoura, pecuária e florestas, melhoramento genético animal, eficiência reprodutiva, controle sanitário, entre outros.

Em estudo realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea / Esalq – em 2012, no estado do Mato Grosso, observou que a intensificação resultou em um aumento de 62% da receita agrícola, e em 20% ganhos de peso vivo mais altos, reduzindo assim o tempo antes do foram abatidos (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Cepea / Esalq – Universidade de São 2012.

Manejo de pastagem

O manejo correto do pasto é o primeiro passo para alcançar a intensificação. Segundo Reis et al., (2005) as características inerentes a pastagem como a quantidade e qualidade da planta forrageira e outros fatores inerentes ao próprio animal, limita os níveis de desempenho em pastagens, nesse sentido Corsi et al. (1994), relata a importância da exploração do potencial de produção da forrageira tropical como parâmetro para intensificar a exploração de bovinos nas pastagens.

A produtividade atual das pastagens cultivadas no Brasil é 32% a 34% do seu potencial. O aumento da produtividade destas áreas para 49% a 52% do seu potencial satisfariam todas as demandas até pelo menos 2040, sem conversão adicional de ecossistemas naturais (Strassburg et al., 2014). Assim o aumento da produção de forragem e a eficiência de pastejo, permitiria um aumento na capacidade de suporte de dois a seis vezes (Eaton et al., 2011).

Um dos grandes desafios do Brasil é a grande quantidade de pastos degradados. Segundo dados Macedo et al., (2013) dos 173 milhões de hectares ocupados por pastagens no país, cerca de 117 milhões de hectares estão degradadas ou sofrem algum estagio de degradação, devido, principalmente, a sua má utilização e manejo. Essas pastagens degradadas tem menor potencial produtivo, ou seja, para produzir um kg de carcaça em uma pastagem degradada são necessário aproximadamente 320 m2, mas isso cai para 45 a 50 m2 para os cenários intensivos (Cardoso et al, 2016).

Em relação à produtividade, observa-se que pastos degradados são entre 40% a 80% inferiores à produtividade dos pastos de alta qualidade. Enquanto os pastos enquadrados como melhor produtividade podem produzir 13 @ por hectare anualmente, os pastos degradados produzem apenas de 3 a 4 @ ha -1ano-1 (Verdi, 2018).

Segundo dados levantados pela Agroconsult, (2017), a receita proveniente da produção de carne menos o custo de manutenção dos pastos, tem se uma receita de R$1.231 reais nos pastos de qualidade superior e apenas R$ 26 em pastos degradados, queda de 98% sobre a receita. Isso nos remete a necessidade de introduzir estratégias de intensificação da produção e melhoria na qualidade das pastagens, caso o produtor realmente queira se manter no mercado de forma competitiva e lucrativa.

Essa melhoria na qualidade da forragem pode ser realizada com a introdução de praticas de manejo como rotação de pastejo, reposição de nutrientes com adubação, e irrigação das pastagens, que favoreça a utilização das pastagens com maior eficiência.

A melhoria no manejo propiciona maiores taxas de lotação e consequente maiores ganhos por animal e área. A taxa de lotação pode ser de 1 a 4 vezes superior ao sistema de pastejo continuo. Em estudo realizado por Eaton et al., (2011) foi obtido taxas de lotação potenciais dos sistemas rotacionais de dois a seis vezes superiores às taxas típicas para áreas de pastejo contínuo.

Com a adubação nitrogenada pode-se obter maiores taxas de lotação e maior ganho de peso dos animais, pois com a reposição de nitrogênio estima a planta emitir perfilhos basais e consequentemente eleva a produção de matéria seca e a qualidade da forragem. Da Silva et al., (2010) avaliando a taxa de lotação em pastos de capim Marandu sob pastejo rotativo e adubado com 50 e 200 kg/há de Nitrogênio de Janeiro de 2009 a Março de 2010, observou maiores taxas de lotação especialmente na primavera de 2009 e verão de 2010, épocas em que os valores registrados foram maiores para os pastos adubados 200 kg/há de Nitrogênio.

O autor supracitado também verificou um aumento de 22% no ganho de peso total por hectare (533 e 650 kg/há para os pastos adubados com 50 e 200 kg/há de nitrogênio, respectivamente).

A intensificação na utilização das pastagens torna-se vantajoso, pois permite diluir os custos fixos, através do aumento na taxa de lotação e redução no tempo de abate.

Suplementação em Pastagem

A suplementação de bovinos em pastagens tem como objetivos cobrir deficiências dietéticas das forragens e permite ao animal elevar o consumo de nutrientes digestíveis, aumentando o desempenho, obter retorno econômico (Mateus et, al., 2011; Canesin et al., 2014).

Essa pratica assume grande importância na melhoria da produtividade dos animais criados em pastagens tropicais, visto que ao longo do ano as pastagens apresentam deficiência na quantidade de matéria seca produzida, e baixa qualidade de nutrientes, elevado teor de fibra e baixos valores de proteína, sendo a suplementação uma ferramenta indispensável (Reis et al., 2012). Além disso, a suplementação fornece suprimento da carência de nutrientes, e proporciona melhorias no desempenho dos animais em condições tropicais (Cabral et al., 2014; Detmann et al., 2014) e proporciona um aumento na taxa de lotação, desocupação de áreas para entradas de animais mais jovens, aumento de taxa de desfrute e planejamento para venda em momentos mais oportunos, (Silva et al., 2010)

Nesse contexto, o uso de suplementação corrige a curva estacional de produção de forragem, melhorando a eficiência alimentar, e evitando que os animais tenha um desenvolvimento irregular ao longo do ano. Ademais, contribui para a redução de abate, aumento da taxa de lotação das pastagens, e melhoria no uso da terra.

Um ponto importante a ser observado quando deseja utilizar essa técnica é ter uma boa oferta de forragem ao longo do ano. Para ofertar forragem de qualidade e em quantidade na época seca do ano, o manejo do pasto e o diferimento no final do período das águas é determinante para se obtiver forragem com melhor valor nutritivo (Reis et al., 2012).

Nesse processo de intensificação a necessidade de suplementar os animais e as quantidades são dependentes das metas a serem conseguidas de acordo com o planejamento proposto na propriedade e com as particularidades de cada região, nunca usar uma formula pronta para todos os casos. E também a formulação de suplementos deve se adequar conforme a qualidade e disponibilidade da forragem disponível para pastejo, já que estas características alteram-se rapidamente (Detmann et al., 2005).

Os suplementos mais utilizados são: Sal mineral, sal nitrogenado, sal proteinado, misturas múltiplas, suplemento proteico e energético, sendo na maioria dos casos usados baixos níveis de suplementação, entre 0,1 a 0,3% do peso corporal, uma vez que favorece o desenvolvimento dos micro-organismos do rumem, favorecendo a digestibilidade da fibra do pasto e consequentemente melhorando o desempenho dos animais a um custo menos oneroso.

As estratégias de elevado consumo são mais indicadas quando o produtor deseja explorar o efeito substitutivo do pasto e elevar a taxa de lotação da fazenda, sendo indicado também para o semi confinamento. Esse fornecimento com alto consumo durante a seca, cerca de 0,6 a 1,0% do peso corporal (PC), é realizado principalmente para terminação, em que o objetivo é abater os animais precocemente abaixo de 27 meses. (Reis et al., 2011).

A intensificação do sistema de produção de bovinos em pastagens visa produção de animais para abate aos 24 meses de idade como precoces de pasto, durante o segundo período de seca da vida do animal. Deste modo Paulino (2000), afirma que esse sistema é indicado, quando se deseja a terminação coincidente com a época seca, envolvendo ganhos superiores a 800 g/dia, para tal, deve-se fornecer maiores quantidades de suplementos, em torno de 0,8-1,0% do peso vivo.

Recentemente tem surgido um novo conceito de intensificação da produção de bovinos em pastagens usando suplementação estratégica. Esse conceito foi desenvolvido por pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), com o objetivo de intensificar a produção e reduzir o ciclo pecuário. Esse sistema ficou conhecido como boi 777, ou seja, “construir” o boi consiste em engordar 7@ na desmama, 7@ na recria, 7@ na engorda e abater com 21@ até os 24 meses, aumentando em até 30% o lucro do produtor.

Nesse sistema a suplementação é fornecida obervando cada fase do animal, de forma a promover o melhor desempenho dos animais. Em cada fase é proposto metas de desempenho, sempre analisando a relação pasto e suplemento, e a curva de crescimento dos animais.

Através da curva de crescimento animal e possível acompanhar o desenvolvimento animal em todas as fases da vida. Dessa forma é possível observar qual a melhor fase o animal apresenta maior eficiência de ganho, maior deposição de gordura e assim efetuar melhores praticas de manejo. Ou seja, sabemos que o crescimento apresenta características alométricas, onde os tecidos possuem taxas de crescimento diferentes, as quais se alteram em fases distintas da vida do animal (Berg e Butterfield, 1976).

Nesse contexto, na busca da antecipação da idade de abate, deve-se explorar o potencial de ganho de peso dos animais durante a recria, período no qual o animal apresenta boa conversão alimentar e permite a produção de uma arroba mais barata, uma vez que a base da dieta é o pasto. Nessa fase, a correção dos nutrientes limitantes da dieta basal (pasto) permite incrementos no ganho de peso dos animais (Detmann et al., 2009) e aceleração da curva de crescimento.

Melhoramento Genético

O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com um efetivo de 219 milhões de cabeças, recriados e terminados em pastagem, sendo que a maioria desses animais, em torno de 80% do rebanho brasileiro é composto por animais de raças zebuínas (Bos indicus). Dentre as raças zebuínas, podemos destacar o Nelore com 90% de participação nesta parcela (ABIEC, 2014).

Além da nutrição a evolução genética contribuiu largamente para a melhoria no melhoramento do rebanho e consequentemente a produtividade. Hoje existe no mercado uma vasta disponibilidade de material genético de qualidade que pode contribuir para a produção de animais precoces com alto desempenho.

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A característica desse grupo genético aliado a práticas de manejo inadequado tem contribuído para a produção de carne de baixa qualidade, principalmente com pouca maciez. Tal característica é resultado de particularidades intrínsecas da raça e do abate de animais com idade elevada acima de 36 meses.

O uso de melhoramento genético é uma das ferramentas para o aumento dessa eficiência utilizando reprodutores geneticamente superiores para as características de interesse com objetivo de atender as exigências atuais do mercado consumidor (Marques et al., 2012).

A utilização de raças de animais melhoradas (raças melhoradas de zebu, Bos indicus) e cruzamento com raças europeias utilizando inseminação artificial, é uma ferramenta que auxilia no processo de intensificação e melhora a produtividade do rebanho bovino (Ferraz e Felício, 2010).

Intensificação e sustentabilidade

No Brasil, a agropecuária é responsável por 31% das emissões de carbono, e destes cerca de 57% das emissões se devem a fermentação entérica ocorrida na pecuária (MCTIC, 2015). Nesse contexto a pecuária é tida pelo ambientalista como uma atividade altamente poluidora. Por isso é necessário buscar meios de intensificação da pecuária para que o animal permaneça menos tempo emitido gases de efeito estufa.

Cardoso et al, (2016) avaliou estudos publicados no Brasil e no mundo e observou que a intensificação sistemas de produção de gado de corte leva a uma redução nas emissões de GEEs por unidade de produto, a chamada pegada de carbono. A grande vantagem da intensificação não está diretamente associada às emissões de emissões de CH4, N2O entérico de excretas ou CO2 fóssil insumos em suprimentos e transporte, mas na redução da área necessária para produzir a mesma quantidade de produto.

Em seu estudo Cardoso et al, (2016), avaliou a emissão de gases de efeito estufa em 5 cenários típicos de produção de bovinos de corte: extensivo com pastagens degradadas, extensivo, intensivo com introdução de leguminosas, intensivo e intensivo com terminação em confinamento. A pegada de carbono do sistema intensivo com pastagens ou com terminação em confinamento é 49.5% menor do que no sistema extensivo com pastagens degradadas. A introdução de leguminosas forrageiras também reduz a pegada de carbono a uma taxa de 52%.

Nesse pressuposto, a intensificação além de prover ganhos em produtividade, assume papel de grande importância ambiental, contribuído para a mitigação da emissão de gás metano pelos bovinos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A intensificação é uma ferramenta necessária para que o pecuarista consiga se manter na atividade de forma competitiva e lucrativa, uma vês que a margem liquida da pecuária tem se tornado cada vez mais estreita, e com a intensificação os custos acabam sendo diluído com a maior produtividade.

Nesse sentido a pecuária moderna deve ser centralizada na profissionalização, trilhando caminhos que direcionam a uma pecuária de ciclo curto.

João Wilian Dias Silva
Zootecnia Ativa

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